Não abomino a especulação. Esta pode cumprir um papel importante para o bom funcionamento do mercado; é aliás uma forma rápida e eficaz de tornar evidentes os seus desequilíbrios, desejavelmente temporários. Mas não é inócua, nem as suas consequências são garantidamente aceitáveis. Há momentos e situações onde as disparidades de partida (de informação, de dimensão/poder dos agentes) levam a consequências nefastas para as quais não há garantias de correcção (pelo menos num tempo aceitável) por via dos muito apregoados mecanismo de ajustamento dos mercados.
A discussão vai interessante pela vizinhança lusa. Pelo Blasfémias, pelo Ladrões de Bicicleta, pela Destreza das Dúvidas.
Em jeito de conclusão com que me identifico particularmente, cito do artigo “O preço do Casino” de João Rodrigues o que se segue:
” (…) Ao contrário do romance de mercado que corre na blogoesfera lusa, a especulação sem freios, realizada por instituições que concentram grandes massas de capital, é hoje um poderoso elemento de volatilidade e de desestabilização das economias. Externalidades negativas a corrigir. Nada que John Maynard Keynes não tenha assinalado há mais de setenta anos: «Os especuladores são inofensivos se forem bolhas numa corrente empresarial incessante. Mas as coisas tornam-se preocupantes quando a empresa se transforma em bolhas num turbilhão de especulação. Quando o desenvolvimento do capital de um país se converte num subproduto das actividades de um casino, é provável que o trabalho esteja a ser mal feito».”
Muito bem “tirada” a conclusão de Keynes, que desconhecia nesta forma tão metafórica, mas que desde os meus primeiros tempos de estudante ( destas coisas), numa versão mais “crua”, não deixei passar em claro. A especulação é um mal menor quando confinada à forma larvar mas, se ganha asas de borboleta, é um perigo real para qualquer economia. A verdeira riqueza está na produção e investimentos duradoiros e não no ilusionismo da especulação financeira, mormente a mais oportunista.