Os anos passam mas a realidade pouco ou nada muda quando se compara o diferencial de juros de empréstimos e de depósitos em Portugal com esse mesmo diferencial registado noutros países que são alguns dos nossos principais parceiros e concorrentes em termos económicos.
Diferencial de juros de empréstimos e de depósitos em Portugal
Os dados divulgados pelo BCE no final de julho de 2020 e relativos a junho de 2020 referentes às taxas de juro novos empréstimos e novos depósitos na zona euro revelam um diferencial muito expressivo entre os valores médios das duas taxas.
A taxa ativa média (a que remunera os empréstimos) era, à data, para os novos empréstimos concedidos em Portugal, de 1,75%. Já a taxa passiva média (que remunera os depósitos) era, para os novos depósitos concedidos em Portugal, de 0,13%.
Feitas as contas, se um mesmo banco emprestasse o mesmo valor que tivesse recebido de depósitos (e não é bem assim que o sistema funciona pois não é necessário ter depósitos para um banco poder emprestar dinheiro) obteria um diferencial de juro a seu favor de 1,62 pontos percentuais.
Como compara este “lucro” com o que é praticado no nosso principal parceiro comercial (a Espanha) e a principal economia da União Europeia, o tal país hiperindustrializado que gostaríamos de imitar, pelo menos parcialmente no que concerne à reindustrialização do país – a Alemanha?
Note-se que este spread, este lucro entre aspas terá que sustentar a operação do banco, incluindo créditos de menor qualidade e, portanto, situações de maior risco mas também terá que contribuir com recursos para os bancos fazerem face a encargos incorridos, por exemplo, com o Fundo de Resolução bem como, naturalmente, ajudar a tornar o negócio apetecível e libertar dividendos para os acionistas. No fundo este spread, juntamente com as comissões bancárias são duas das principais fontes de receita do negócio bancário.
Na Alemanha o diferencial de juros ativos e passivos é de apenas 40% do Português
A taxa de juros de novos depósitos na Alemanha é pequena (0,64%) mas grande o suficiente para ser 5 vezes superior à taxa média para novos depósitos praticada em Portugal (0,13%).
Por outro lado, ao nível do que os bancos cobram pelos empréstimos novos, a Alemanha (apesar de ter taxas passivas bem superiores) acaba por cobrar menor pelas taxas ativas: na Alemanha cobram 1,33% pelos novos empréstimos enquanto que em Portugal cobram 1,75%.
E se olharmos para Espanha? A realidade é um pouco diferente mas, ainda assim, compara em desfavor de aforradores e devedores locais. Nos depósitos a remuneração média em Espanha é ligeiramente superior (0,19%) e nos empréstimos, o custo do dinheiro é menor: 1,52% que compara com os já referidos 1,75% em Portugal.
Em suma, o spread empréstimos vs depósitos é de 1,62 pontos percentuais em Portugal, 1,33 em Espanha e 0,66 na Alemanha.
Circulo vicioso
O lastro do passado do setor bancário local, da última crise financeira, do modelo de negócio bancário e seus desafios mais prementes nas economias menos inovadoras e do maior risco de crédito, entre outros, é assim muito significativo e funciona como um alimentador de um circulo vicioso através do qual as empresas e aforradores portugueses partam em desvantagens, mesmo hoje, seja qual for a sua decisão de investimento/poupança face aos seus pares no resto da Zona Euro.
Algo que, apesar da descida assinalável no custo do dinheiro quando acedido via mercado de capitais por parte de Portugal (que compara hoje bem com Espanha), não se alterou fundamentalmente quando as empresas pretendem recorrer ao crédito bancário ou os aforradores aos depósitos a prazo.