Economia no primeiro quadrimeste de 2021: sacrifício até março com abril a indiciar retoma

Chegados ao final de abril é possível fazer uma primeira análise à economia no primeiro quadrimeste de 2021. Na última semana de abril de 2021, o Instituto Nacional de Estatística divulgou uma série de indicadores económicos que dão testemunho dos dados preliminares, reais, em volume, da economia nacional, relativos ao primeiro trimestre mas também as primeiras apreciações dos empresários dos principais setores da nossa economia e dos consumidores, já relativos ao mês completo de abril.

E os números parecem confirmar as projeções que se desenharam após ser evidente que teríamos que enfrentar um novo período de confinamento rigoroso como de facto veio a suceder. A nota potencialmente de surpresa poderá vir da resiliência dos postos de trabalho e do fulgor da retoma que os dados de confiança de abril de 2021 parecem indiciar claramente.

Temos então uma imagem muito interessante da economia no primeiro quadrimestre de 2021.

 

Primeiro Trimestre de Contração

O PIB

O primeiro trimestre de 2021 coincidiu com o completar de um ano de pandemia e ainda compara com um primeiro trimestre de 2020 onde o primeiro mês e meio a dois meses não haviam sido afetados pela pandemia emergente. É assim sem grande surpresa que, perante um confinamento tão ou mais rigoroso quanto o que se iniciou em meados de março de 2020, a economia se tenha ressentido com a atividade económica a regredir.

Ainda assim, a queda homóloga do PIB foi de 5,4% e poderemos, pesadas as palavras, qualificá-la de “apenas” 5,4%. Note-se que no segundo trimestre de 2020, período em que o país passou pelo confinamento mais rigoroso antes do ocorrido já em 2021, a economia nacional (medida pelo PIB) contraiu-se 16,4%, ou seja, o triplo do que agora se registou. Mesmo com a ressalva de estar-se a comparar com um segundo trimestre de 2019, naturalmente sem qualquer efeito da pandemia, de -5,4% para -16,4% vai uma grande diferença.

Numa outra nota relativamente positiva, o 1º trimestre de 2021, apesar do confinamento, revelou a menor contração de atividade económica de entre os quatro trimestres em que já dura a pandemia, sendo seguido de perto pela queda de 5,6% registada no verão.

Dito isto, ter uma contração do PIB de 5,4% em cima de três outros trimestres de quedas históricas nunca será motivo de regozijo mas atendendo a que, de facto, estivemos num confinamento muito rigoroso, este andamento parece revelar alguma melhor capacidade de resiliência e de adaptação da economia a um cenário absolutamente constrangedor.

Um excerto da breve nota do INE sobre a variação homóloga do PIB:

“O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB foi mais negativo no 1º trimestre de 2021 que o observado no trimestre anterior, refletindo, em larga medida, uma redução mais acentuada do
consumo privado.

A procura externa líquida apresentou um contributo menos negativo que no 4º trimestre continuando, porém, a verificar-se uma contração mais intensa das Exportações de Bens e Serviços que a observada nas Importações de Bens e Serviços, salientando-se em particular a redução muito significativa do turismo de não residentes.”

 

O Emprego / Desemprego

Ainda em relação ao completar de um ano de pandemia, o INE divulgou um balanço sobre a situação e a verdade é que os números revelados são muito menos negativos do que o que chego ua ser antecipado e caso nos próximos meses haja margem para garantir que não há uma regressão do processo de desconfinamento, indiciam que a retoma económica e os impactos sociais e financeiros da pandemia possam ser revertidos de forma relativamente célere e comportável.

Estes números podem ser um primeiro sinal claro de que as medidas de política económica e o esforço dos investidores e seus trabalhadores, seja de capital, de redução temporária de rendimentos, seja de reinvenção dos canais de distribuição e da formas de produção, conseguiram, no essencial, asseguram que muitas empresas tenham conseguido chegar ao que parece ser o outro lado do abismo em condições de operar.

Os dados do INE muito sinteticamente são os seguintes, após um ano de pandemia:

• Comparando o ano de pandemia COVID-19 com o que o precedeu, observa-se que a população empregada diminuiu 2,1%, enquanto a população desempregada, a subutilização do trabalho e a população inativa aumentaram (6,7%, 12,4% e 3,0%, respetivamente).

• A taxa de desemprego aumentou 0,6 p.p. e a taxa de subutilização do trabalho aumentou 1,6 p.p..

 

Comércio a Retalho

Depois de três trimestres de contração e com um período de confinamento reforçado em curso, o Índice de volume negócios do comércio a retalhorevelou, em março, uma forte recuperação, passando de um queda homóloga de 14,3% em fevereiro para um valor quase na linha de água em março (-0,1%), “refletindo a forte recuperação dos Produtos não alimentares“, segundo o INE.

Ou seja, o primeiro trimestre foi particularmente negativo para o comércio a retalho mas terminou em março com um indicador muito acima da média e é razoável esperar que com o progressivo desconfinamento iniciado em abril e que terá sequência em maio (ver “Nova fase de desconfinamento – Maio 2021“) o cenário evolua favoravelmente.

 

Indicador de Clima supera nível pré-COVID em Abril de 2021

Os primeiros dados concretos de abril que completam a análise possível, neste momento, à economia no primeiro quadrimeste de 2021, dizem respeito aos indicadores de confiança recolhidos juntos dos responsáveis pelos setores da indústria transformadora, serviços, comércio, construção e obras públicas e também junto dos consumidores.

O indicador de clima económico que consolida os níveis de confiança dos empresários atingiu, em abril de 2021, um patamar ligeiramente acima do registado imediatamente antes do início da pandemia.

Atendendo a que estes dados incluem opiniões que ponderam as perspetivas referentes aos próximos 12 meses, este andamento referente a um mês onde se começaram, de facto, a avançar com medidas de desconfinamento, parecem ser muito promissores.

Fonte: INE

Eis alguns excertos do INE sobre os Inquéritos de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores (também conhecidos por indicadores de confianças) em abri lde 2021:

O indicador de clima económico aumentou de forma expressiva em março e abril, superando ligeiramente o nível observado no início da pandemia (março de 2020). Em abril, os indicadores de confiança aumentaram na Indústria Transformadora, na Construção e Obras Públicas, no Comércio e nos Serviços.
A melhoria dos indicadores de confiança e de clima em março e abril ocorreu num contexto de abrandamento significativo dos efeitos sobre a saúde pública da pandemia COVID-19 face ao observado nos meses anteriores.

(…) 

O indicador de confiança dos consumidores aumentou significativamente em março e abril, após ter diminuído no mês anterior, aproximando-se do nível observado em março de 2020. A evolução do último mês resultou sobretudo do contributo positivo das expectativas relativas à evolução futura da situação económica do país, tendo as expectativas relativas à evolução futura da realização de compras importantes e da situação financeira do agregado familiar também contribuído positivamente, enquanto as opiniões sobre a evolução passada da situação financeira do agregado familiar registaram um contributo nulo.
O saldo das expectativas relativas à evolução futura da situação económica do país aumentou expressivamente em março e abril, após ter diminuído no mês anterior.
O sre das perspetivas relativas à evolução futura da situação financeira do agregado familiar aumentou nos
últimos três meses, depois da estabilização registada em janeiro.

O indicador de confiança da Indústria Transformadora aumentou entre fevereiro e abril, afastando-se do patamar em que havia estabilizado desde agosto. Em abril, a evolução do indicador deveu-se ao contributo positivo das expectativas de produção e opiniões sobre a evolução da procura global, mais intenso no último caso, tendo as apreciações relativas aos stocks de produtos acabados contribuído negativamente. O indicador aumentou em todos os agrupamentos: Bens de Consumo, Bens Intermédios e Bens de Investimento.
O saldo das apreciações sobre a procura global aumentou em março e abril, após ter diminuído no mês precedente, prolongando o movimento ascendente iniciado em junho. As opiniões relativas à procura interna, considerando as empresas com produção orientada para o mercado interno, recuperaram expressivamente em abril, após terem recuperado ligeiramente em março. Da mesma forma, as apreciações relativas à procura externa, considerando as empresas com produção orientada para o mercado externo, recuperaram nos últimos dois meses, de forma mais intensa em abril, prolongando o perfil positivo iniciado em junho.

O indicador de confiança da Construção e Obras Públicas aumentou em abril, depois de ter estabilizado em março, atingindo o máximo desde março de 2020. A recuperação do último mês refletiu o contributo positivo de ambas as componentes, apreciações sobre a carteira de encomendas e perspetivas de emprego.
O indicador aumentou nas três divisões, Promoção Imobiliária e Construção de Edifícios, Engenharia Civil, e Atividades Especializadas de Construção, de forma mais expressiva no primeiro caso.
O saldo das opiniões sobre a apreciação da atividade aumentou significativamente em março e abril, atingindo o máximo desde março de 2020.

O indicador de confiança do comércio aumentou em abril, de forma mais acentuada que no mês anterior e após as diminuições registadas em janeiro e fevereiro. Esta evolução resultou do contributo positivo das apreciações sobre o volume de stocks, das perspetivas de atividade da empresa nos próximos três meses e, de forma mais intensa, das opiniões sobre o volume de vendas.
O saldo das perspetivas de atividade da empresa aumentou em abril de forma menos intensa face ao observado no mês precedente.
Em abril, o indicador de confiança aumentou no Comércio por Grosso e no Comércio a Retalho, de forma mais intensa no primeiro caso.

O indicador de confiança dos Serviços aumentou expressivamente em março e abril, contrariando a diminuição registada em fevereiro. O comportamento do indicador resultou do contributo positivo de todas as componentes, perspetivas relativas à evolução da procura, apreciações sobre a evolução da carteira de encomendas e apreciações sobre a atividade da empresa, significativamente no primeiro caso.
Em abril, os indicadores de confiança aumentaram em sete das oito secções dos Serviços, destacando-se as secções de Atividades imobiliárias, de Atividades artísticas, de espetáculo, desportivas e recreativas e de Atividades de informação e de comunicação.
O saldo das perspetivas sobre a evolução da procura aumentou expressivamente nos últimos dois meses, após ter diminuído entre novembro e fevereiro.

Informação complementar

Sobre o comércio em abil há já dados quantitativos relvantes detalhados nesta peça do Público: Consumo entre 19 e 25 de Abril superou valores anteriores à pandemia.

Deixar uma resposta