Inflação inicia 2023 em forte desaceleração

A Inflação inicia 2023 em forte desaceleração, um facto muito suportado pela significativa desaceleração da inflação homóloga entre os produtos energéticos que passou de 20,8% em dezembro de 2022 para 6,8%. Como consequência, a variação homóloga global do índice de preços no consumidor desacelerou de 9,6% em dezembro de 2022 para 8,3% em janeiro de 2023.

De facto, há muitos meses que os preços da energia não cresciam abaixo da subida global do cabaz de preços. A desaceleração registada estará a antecipar em alguns meses um cenário que se esperava para o período após o aniversário da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Esta forte desaceleração, em janeiro, prolongou e reforçou, pelo terceiro mês, o andamento recente da inflação. A variação média anual terá, ainda assim, passado dos 7,8% para os 8,2% em virtude de terem saído dados históricos do indicador que contribuíam para uma inflação muito inferior.

Fonte: INE

O que esperar do resto de 2023 em termos de inflação?

Recordando que o Banco de Portugal apresentou uma previsão de inflação para 2023 de 5,8% vale a pena analisar os ainda escassos dados presentes.

Habitualmente, a colagem da variação homóloga com a variação média anual (8,3% compara com 8,2%, respetivamente) costuma sinalizar o pico da variação média anual num dado intervalo de tempo. Ou seja, é possível que o indicador mais relevante de inflação (que é precisamente a variação média anual) esteja próximo do seu pico. Algo que será reforçado com a entrada dos dados de fevereiro e, em especial, com os dados a partir de março, momento em que a base de 2022 foi já ela própria fortemente condicionada pelo impacto da guerra na Ucrânia que, como se sabe, se iniciou nos últimos dias de fevereiro de 2022.

A partir de março é natural que se comecem a registar taxas de inflação homóloga muito inferiores à variação anual dos preços. Contribuindo assim para uma desaceleração ainda mais significativa do aumento dos preços durante o resto do ano – isto, claro, admitindo que o conflito não gere novas e nefastas consequências, entretanto.

Outro indicador muito relevante, em especial do atual contexto, é a inflação subjacente, ou seja, o indicador de evolução dos preços no consumidor extirpado de produtos energéticos e de produtos alimentares não transformados. E este indicador dá-nos, igualmente, a indicação de que os preços passaram a crescer um pouco mais devagar (7,0% em termos homólogos em janeiro que compara com 7,3% em dezembro). Por outro lado, a inflação subjacente continua significativamente abaixo da inflação global do cabaz, confirmando como boa a expectativa de que a inflação global convirja para um ponto bem mais baixo do que o atual, agora que o motor da inflação energética parece finalmente controlado.

Alimentos não transformados teimam em não desacelerar subida de preços

Se os preços dos bens energéticos crescem finalmente mais devagar que a inflação global, a verdade é que ainda não se pode dizer o mesmo dos produtos alimentares não transformados que, aliás, registaram uma aceleração da inflação, passando de 17,6% em dezembro, para 18,5% em janeiro.

Tipicamente há um efeito de arrasto que leva a que uma subida dos preços nas matérias-primas (como a energia) demore um pouco a refletir-se no custo dos produtos acabados e perdure nestes durante algum tempo depois de já ter desaparecido o gatilho dos aumentos das matérias-primas. Os próximos meses dirão quão persistente será a inflação global, precisamente, ao acompanharmos como evoluirão os preços dos bens e serviços, afetados pelo encarecimento das matérias-primas.

Haverá uma dinâmica própria de subida de preços que será conservada, ainda que num patamar mais baixo, fora da esperada para os preços das matérias-primas, ou o desligar dessa máquina de produzir inflação associada aos combustíveis de demais energia, terá um impacto desfasado, mas decisivo no resto dos preços?

Esta é a pergunta a que teremos que obter resposta nos próximos meses, esperando pacientemente pela informação do INE.

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