Trabalhadores do estado perderam 20 dias de salário em 2022 (quase o dobro do privado)

Os salários no estado caem mais que no privado, entre 2021 e 2022. Segundo dados analisados pelo INE, tendo por base a Declaração Mensal de Remunerações de cerca de 4,5 milhões de trabalhadores (transmitidas à Segurança Social), uma das conclusões mais evidentes é a forte disparidade de evolução salarial entre o setor público e o setor privado no ano de 2022. Os trabalhadores do Estado perderam, em 2022, em média, o equivalente a 20,4 dias de salário face a 2021. No setor privado a perda foi cerca de metade: 11,3 dias.

Recorde-se que o valor oficial da inflação em 2022 se fixou nos 7,8%. Qualquer aumento nominal abaixo desse valor implicou uma perda de poder de compra.

Estas contas resultam da análise à evolução nominal (em número de euros pagos) dos salários por comparação ao que teria que ser o aumento desses salários só para manter o poder de compra registado em 2021. Ou seja, o que os salários teriam que ter aumentado para compensar a inflação.

Em 2022, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador aumentou, em relação a 2021, 3,6% para 1 411 Euros, a sua componente regular aumentou 3,1% para 1 140 Euros e a componente base aumentou 3,0% para 1 070 Euros. Em termos reais, e em relação a 2021, os três tipos de remuneração diminuíram: 4,0%, 4,4% e 4,5%, respetivamente.

in INE, Estatísticas do Emprego Remuneração bruta mensal média por trabalhador, 4º trimestre de 2022
Fonte: INE

Maiores perdedores de salário real em 2022

Sendo um facto comprovado que os salários no estado caem mais que no privado, não foi só o Estado a ficar do lado mais negativo nesta fotografia às remunerações. As grandes empresas e alguns dos setores que já pagavam os melhores salários (como os serviços financeiros) foram também dos mais penalizados, pois registaram os aumentos nominais mais modestos e muito insuficientes para compensar a inflação.

Maiores “vencedores” de salário real em 2023

O “vencedores” presente no sub-título merece muitas aspas, pois, na realidade, estamos perante os menores perdedores, dado que todos os setores registaram perda de poder de compra.

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Dito isto, o setor do alojamento e restauração (um dos que tem o nível salarial mais baixos), bem como as microempresas e o setor privado em geral, atualizaram os salários de forma bastante mais generosa, em média, do que o Estado, contribuindo para uma aproximação dos níveis médios pagos num setor e no outro.

Diferença de nível de formação base entre Estado e Privado

Recorde-se que, historicamente, o Estado emprega profissionais que, em média, tem um maior nível de qualificações (médicos, professores, magistrados, etc) pelo que, tipicamente, a remuneração média global é mais alta.

Ainda assim, quando a comparação é corrigida dessa assimetria de formação de base, o Estado paga melhor aos profissionais menos qualificados face ao privado, mas paga pior aos mais qualificados.

Posto isto, é provável que tenha sido entre estes últimos que se tenha produzido o maior efeito negativo dos aumentos mais modestos no Estado, o que poderá ter agravado as dificuldades do Estado em reter quadros altamente especializados.

Mais informação

Recomendamos vivamente, para mais análise e informação, a consulta da página do INE com o documento de análise e os dados em folha de cálculo (aqui).

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