O que aconteceu à social democracia europeia?

Ao longo dos anos, ainda que de forma pontual, o Economia e Finanças tem procurado acompanhar a evolução e as discussões em torno das grandes tendências políticas, em especial sempre que interfiram com as opções de política económica. É nessa linha que hoje sugerimos a questão do título “O que aconteceu à social democracia europeia?” e recomendamos vivamente a leitura de um artigo bem estruturado, tanto em termos de enquadramento histórico e factual quanto em termos daquilo que projeta para o futuro, usando como objeto de análise uma das correntes dominantes no espaço político europeu: a social democracia.

O pretexto próximo para a reflexão são os resultados eleitorais em França, mas a justificação mais profunda é a realidade do panorama político mundial nos últimos anos – na realidade, algo que tem a sua génese há algumas décadas – e o caminho que se tem percorrido e se perspetiva para o futuro.

O texto de Hugo Santos Mendes (sociólogo e investigador próximo do Partido Socialista português) invoca, em especial, o espaço político da esquerda social democrata, mas serve a todos, independentemente da proximidade ideológica ou afinidade política.

Deixamos de seguida três parágrafos que esperamos que convidem à leitura integral da prosa nos Ladrões de Bicicleta:

“(…) Há muito que todos os estudos mostram quem são os eleitores da FN: operários e trabalhadores de serviços com baixas qualificações e baixos rendimentos, e experiência de, e/ou elevada vulnerabilidade ao desemprego e/ou à precariedade endémica. Se estas pessoas votam de forma consistente e crescente num certo partido, é porque, de alguma forma, se sentem representadas por ele (o que não significa que concordem com, ou sequer conheçam, tudo o que esse partido propõe, como se fossem ávidos leitores de programas eleitorais) e, em particular, não se sentem representadas por nenhuma das forças políticas que, histórica e ideologicamente, sempre se propuseram representar/defender/falar em nome dos  económica, cultural e socialmente mais fracos. Não devia a esquerda confrontar-se com estas questões antes de, direta ou indiretamente, chamar estes eleitores de “racistas” ou “fascistas”? Esta tentação não só nos desobriga de compreender o que as leva a votar como votam (e não aceito o terrorismo intelectual inscrito na ideia de que “tentar compreender é começar a justificar”) como, infelizmente, não traz nenhum voto de volta; só impede a construção de uma estratégia viável de compreensão e (posterior) convencimento dessas pessoas, ao mesmo tempo que reforça junto delas a ideia de que as “elites”, lá de cima do seu mundo cosmopolita, não os compreendem (perguntem aos deplorables de Hillary Clinton). 

Talvez o que está em causa seja mais sério: talvez não haja sequer a vontade de “trazer votos de volta”, ou de construir uma qualquer “estratégia viável de convencimento”. Talvez a social-democracia tenha mesmo desistido de representar os perdedores das dinâmicas do capitalismo e da globalização – sobretudo se isso possa parecer “anti-europeu”. Nesse caso, a melhor estratégia a que ela pode aspirar no futuro é esperar que esses eleitores fiquem em casa.  (…)”

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