Dívidas: Auto – diagnóstico financeiro: o 1º e mais importante passo

Eis o segundo texto do nosso leitor Pedro Matos que se tem dedicado a estudar as finanças pessoais e que publicamos no Economia & Finanças. Temos muito gosto em publicá-lo pela pertinência do tema. Espero que apreciem. Se quiserem colaborar não hesitem e entrem em contacto connosco (clique aqui).

Não há impossíveis nas finanças pessoais

No caso e apesar de ter chegado a um ponto tal que as suas finanças pessoais estão um desastre, é sempre possível sair dessa situação e conseguir equilibrar-se. É difícil, principalmente no que respeita à fase de decidir e arrancar com a recuperação, mas não é nada impossível.

Deixo aqui algumas ideias erradas que as pessoas muito endividadas às vezes podem ter:

  • Tenho problemas de saúde e não conseguirei pagar as dívidas,
  • Não conseguirei colocar os meus filhos na escola,
  • Não conseguirei eliminar a minha dívida do cartão de crédito,
  • Gostava de eliminar as dívidas mas não gosto de fazer orçamentos domésticos,
  • Não sei como enfrentar os impostos.

Se tem algum destes pensamentos, ou algum relacionado, saiba que é possível dar a volta à situação. Pode não ser fácil mas é possível. Pode não ser rápido, mas é possível.

Então o 1º e mais importante passo consiste em olhar para a sua situação financeira actual.

Terá então de efectuar um diagnóstico sobre o momento actual das suas finanças pessoais, como por exemplo: que rendimento médio tem em relação ao montante médio de despesas que costuma suportar, se tem conseguido poupar ou não, se o tem conseguido, quanto tem poupado e se tem optado pelas melhores aplicações do mercado, ou então se está cheio de dívidas e com dificuldades para as pagar.

Só após este auto-conhecimento da sua situação financeira no momento actual é que poderá então começar a traçar um plano financeiro de acordo com o que pretende para o resto da sua vida.

A grande ideia a ser seguida para se atingir um ponto de equilíbrio financeiro é gastar menos do que se ganha e poupar-se a maior parte do que sobra, gastando apenas pontualmente parte desse valor sobrante em extras, mas só nos momentos certos.

Todos nós para conseguirmos atingir um ponto de bem-estar total necessitamos de estar bem financeiramente. Assim, o grande desafio que coloco na construção de um plano financeiro é o de pensar neste com o intuito principal de se atingir um dia a independência financeira. Esta consiste em conseguirmos chegar a um dia em que não precisamos de trabalhar para viver já que atingimos uma valor total de poupança investida que nos permitirá viver desses rendimentos.

Este ponto é totalmente realista e possível de alcançar. Todo o trabalho de planeamento financeiro consiste em desenvolver e aplicar na prática um plano que leve a que se chegue a atingir esse tal ponto de independência financeira.

Mas atenção que o fim de um plano de financeiro não se esgota no que acabei de referir. Nós temos também uma vida, que pretendemos ser longa, em que queremos ter os nossos momentos de lazer, de felicidade proporcionada eventualmente pelo atingir de objectivos ligados a certos projectos pessoais, como por exemplo, ter um carro novo, uma casa de férias, uma viagem ou várias viagens específicas, montar um negócio próprio, entre outros.

Concluindo a ideia base a ter em conta ao fazer-se um planeamento financeiro posso acrescentar ao facto de pensar-se sempre em gastar menos do que se ganha e poupar o que sobra, podendo-se gastar parte em certos extras nos momentos certos, a necessidade de construir-se diferentes carteiras de poupança/investimento para cada tipo de projecto que se tenha, e uma específica para atingir-se a independência financeira.

De seguida vou falar de um exemplo de uma pessoa (ou agregado familiar) que se encontra numa situação de sobre-endividamento, já que se trata de um caso-tipo de maior urgência de recuperação financeira e um dos maiores problemas actuais.

Como disse anteriormente não é impossível sair-se de uma situação de sobre-endividamento e atingir-se um ponto de equilíbrio financeiro.

Antes de partir para um plano de recuperação de dívidas é necessário começar por fazer uma avaliação psico-social do tipo de consumidor que é.

É preciso identificar que tipo de relacionamento tem com o dinheiro. 

O gastador torna-se na maior das vezes assim por questões psico-sociais, tais como, pensar que por ter mais dinheiro pode comprar o respeito e estatuto perante as outras pessoas, ou então pensa que gastando mais dinheiro os outros gostarão mais de si.

Depois há ainda a armadilha da publicidade, que faz com que a nossa sociedade associe o dinheiro a sucesso e só quem tem muito dinheiro e bens materiais é que consegue ser feliz. Esta ideia está completamente errada. Ter dinheiro não é condição necessária para se ser feliz. Tal como se costuma dizer, ajuda mas não é tudo. É necessário então saber-se utilizar da melhor forma o dinheiro, e esta passa por encontrarmos um ponto de equilíbrio nas nossas finanças tal que nos traga felicidade por conseguirmos atingir certos objectivos, através de um plano bem elaborado de utilização das poupanças e dos rendimentos.

É que de facto, ao pedirmos por exemplo um crédito para antecipar a compra de uma casa de sonho…podemos estar na realidade a antecipar um pesadelo e não um sonho, devido à grande carga de dívidas que podemos adquirir.

Portanto, identifique em si o tipo de relacionamento que tem com o dinheiro. Se gasta de forma constante e emocional, como por exemplo sempre que tem uma boa notícia gasta para se sentir recompensado, mas se tiver uma má noticia gasta também para tentar compensar a má sensação daí decorrente.

Todos nós gostamos de ter recompensas, mas são os tais extras que devem acontecer só nos momentos certos, e não fazer disso um acto banal que nos pode levar à ruína.

“Viver no presente” é bom quando se trata de algo relacionado com querer-se controlar situações como o stress, gestão do tempo, mas nas finanças pessoais o pensamento “viver um dia de cada vez” vai-se revelar num grande fracasso.

No próximo artigo, vou explicar como devemos comparar os rendimentos com as despesas.

Pedro Matos (Finanças Pessoais) – finpessoais@gmail.com

Deixar uma resposta