Como está a envelhecer a nossa projeção para a inflação de 2023?

A 14 de março de 2023 efetuámos um exercício simples de projeção da inflação até ao final de 2023 que passou por assumir a hipótese de o índice de preços no consumidor ficar fixado num patamar idêntico ao patamar mais elevado que havia registado em 2022, ou seja, o correspondente ao mês de outubro de 2022.

À data deste exercício a taxa de variação homóloga mais recente conhecida era a de fevereiro e apontava para uma inflação de 8,2%.

Na nossa projeção preguiçosa e desprovida de complexidade espalhafatosa com que por vezes os economistas gostam de cobrir a sua ignorância, antecipámos que, neste cenário, podíamos chegar a maio de 2023 com uma inflação cortada para menos de metade da registada em fevereiro. De 8,2%, a taxa de variação face a igual mês do ano anterior, poderia cair para 3,2%. Ora o número real, provisório, divulgado pelo INE a 31 de maio é de… 4,0%.

O exercício que efetuámos não compara assim muito mal com a realidade; a tendência imposta pelo efeito de base e a cautela de colar o índice ao máximo local que este tinha registado, serviram-nos bem, perante um exercício tão grosseiro

De onde veio o desvio de oito décimas? Encontramos uma explicação importante no indicador da inflação subjacente e na sua comparação com o indicador geral.

Note-se que se em fevereiro de 2023, o indicador geral ainda crescia a um ritmo claramente superior à inflação subjacente (8,2% versus 7,2%), a partir de abril essa situação mudou.

Em abril, a inflação global medida pela taxa de variação homóloga cresceu 5,7% e o indicador de inflação subjacente estava a crescer mais: 6,6%. Ou seja, os “motores” da energia e dos alimentares não transformados já não estavam a acelerar a inflação, eram as restantes classes de despesa a puxar a inflação para cima face à média.

Em maio, esse cenário aprofundou-se com a inflação global a desacelerar para 4,0% e a manter-se abaixo do ritmo de crescimento da inflação subjacente: 5,5%.

A boa notícia é que este indicador da inflação subjacente que poderia indiciar um novo motor da inflação, desacelerou significativamente entre abril e maio de 6,6% para 5,5%.

Assim sendo, se este for o início de uma tendência – algo que só os próximos meses nos esclarecerão – o perfil da evolução da inflação para o resto do ano deverá seguir de perto a curva presente na nossa projeção inicial ainda que fechando o ano num patamar superior, patrocinado por este período em que a inflação subjacente teve um fogacho de alguns meses.

A acompanhar no futuro.

Eis a nossa projeção de fevereiro e a atualização à nossa projeção de fevereiro realizada em junho de 2023 (incluindo as homólogas de 2022).

 

Com estes novos dados, a nossa previsão para a inflação no final do ano é revista para valores entre os 4,1% e os 4,2%, ou seja, incorporámos um salto de 0,8 pontos percentuais face à projeção anterior, tendo por base o diferencial médio, nestes três meses desde fevereiro, face à projeção inicial, apostando assim que esse diferencial se manterá ao longo do ano.

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