Imóvel

Vale a pena amortizar o crédito à habitação antes do fim do ano?

Com a garantia de que amortizar o crédito habitação vai ficar mais caro a partir de 1 de janeiro, vale a pena avaliar a opção de antecipar uma amortização antes do final do ano. Este artigo explora os principais prós e contras desta decisão, ajudando a ponderar os diferentes fatores envolvidos.

Neste artigo poderá ler:

Tenho uma poupança extra devo usá-la para amortizar crédito à habitação antes do fim do ano?

Antes de mais, apesar de o pretexto para este artigo ser o reaparecimento da comissão por amortização antecipada de crédito à habitação para os contratos com taxa variável (a partir de 1 de janeiro de 2026), este é apenas uma das muitas variáveis que deverá ter em conta na tomada de decisão. Estamos a falar de 0,5% do valor amortizado, logo haverá outros aspetos, a favor e contra a amortização que acabarão por poder ter um valor superior a este.

Se está na situação de já ter uma poupança de emergência para 6 a 12 meses de despesas posta de lado, a que juntou disponibilidades financeiras que lhe dão a opção de ponderar uma amortização do crédito à habitação, então propomos-lhe que leia as seguintes linhas.

Prós de amortizar o crédito à habitação

Poupança em Juros

Ao amortizar parte, ou a totalidade, do crédito à habitação, reduz o montante em dívida e, consequentemente, o valor total de juros que pagará ao banco. Quanto mais cedo fizer esta amortização, maior será a poupança, pois os juros incidem sobre o capital em dívida. Esta poupança pode, ao longo de anos, representar milhares de euros.

Poupança no Seguro de Vida associado ao crédito

O seguro de vida é obrigatório em quase todos os créditos à habitação e o seu valor tende a aumentar ao longo do tempo, sobretudo devido ao envelhecimento do titular do empréstimo. Amortizar o crédito (reduzindo o montante em dívida) pode levar a uma redução do prémio do seguro, ou mesmo à sua extinção em caso de liquidação total. Assim, para além dos juros, pode poupar significativamente no seguro de vida, que pode tornar-se bastante oneroso com o passar dos anos.

Tranquilidade e descanso psicológico

Estar livre de dívidas traz um grande alívio psicológico. Saber que já não existe a obrigação de pagar uma prestação mensal ao banco, nem a preocupação com possíveis imprevistos financeiros, proporciona uma sensação de segurança e liberdade que, para muitos, não tem preço.

Liberta liquidez mais depressa

Se pretender, poderá alterar o seu perfil de consumo, consumindo o que antes pagava ao banco.  Ou, em alternativa, aumentar o seu ritmo de geração de poupança arrecadando o extra que sobra e que deixa de ir para o banco.

A verdade é que reduzir a fatura de juros acabará por permitir-lhe libertar liquidez, ou gerar poupanças e respetivos retornos/juros, a um ritmo superior àquele a que estaria habituado.

Apesar do choque inicial de perder acesso ao dinheiro que usou para amortizar o crédito, deverá conseguir acelerar a sua capacidade de poupar e de voltar a ter dinheiro ao seu dispôr.

Contras de amortizar o crédito à habitação

Perda imediata de liquidez

Ao usar as suas poupanças para amortizar o empréstimo, fica com menos dinheiro disponível para emergências. Esta diminuição da liquidez pode ser penalizadora caso surja uma necessidade imprevista (despesas de saúde, desemprego, etc.) daí termos referido no preâmbulo deste artigo a importância de possuir uma poupança de emergência que deverá preservar.

Possível penalização bancária

O banco pode cobrar uma comissão de amortização antecipada. Poderá atingir os 2% do capital amortizado em crédito com taxa fixa ou, a partir de 1 de janeiro de 2026, de 0,5% no crédito a taxa variável. Embora estas comissões estejam reguladas por lei, é importante calcular se a poupança em juros e seguros compensa este custo adicional.

Aquisição de valor avultado no horizonte pode sair mais cara

Se conta num futuro previsível ter de realizar uma despesa avultada – por exemplo, comprar um automóvel – então deverá fazer as contas também considerando esse aspeto. Se estiver a amortizar para poupar 0,5% da comissão por amortização antecipada mas daqui a pouco tempo tiver de recorrer ao crédito para conseguir mudar de carro… a taxa de juro desse crédito será sempre muito superior à associada ao crédito à habitação. O que poupar em juros (e redução do seguro) no período que medeia entre a amortização e a necessidade de pedir empréstimo para comprar carro compensa? Esta será uma das contas a ter em consideração.

Alternativas de investimento potencialmente mais rentáveis

Caso as suas poupanças possam ser investidas em produtos financeiros com uma rentabilidade superior ao encargo do crédito à habitação e do seguro de vida (não olhe só para a taxa de juro do crédito, pois estará a subestimar a vantagem da amortização), pode ser mais vantajoso investir o dinheiro do que amortizar o empréstimo. O perfil de risco do próprio devedor/investidor poderá assim alterar o peso destes prós e contras. Em linguagem de economista, tudo isto faz com que o custo de oportunidade desta opção seja diferente de pessoa para pessoa. Dito isto, é importante considerar o risco associado a cada investimento.

  1. Benefícios fiscais por perda parcial
  2. Em alguns casos, o crédito à habitação pode estar associado a benefícios fiscais (como a dedução de juros em determinados contratos antigos). Amortizar pode reduzir ou anular esses benefícios.

Uma perspetiva de família

Está a ponderar amortizar um crédito à habitação com uma taxa que já não se usa e tem familiares próximos – filhos, por exemplo – que estão em vias de contratarem um crédito à habitação em condições bem mais onerosas? Pondere também a opção de fazer um contrato intergeracional. No limite, pode ser mais vantajoso para os filhos herdarem uma dívida dos pais se isso representar terem uma dívida pessoal inferior. Mas, tal como referimos, deverá ter em conta todos os prós e contras, incluindo os encargos com o seguro de vida que irão crescer com a idade do devedor (ou benefícios e isenções associados a créditos à habitação de jovens).

A corrida para a meta do valor em dívida

Uma perspetiva de poupança a considerar para quem gosta da paz de espírito de estar imune a problemas financeiras ou a subidas de taxa de juro inusitadas, passa por estabelecer como meta de poupança atingir o valor em dívida.

A poupança acumulada será rentabilizada de acordo com o perfil de risco e o conhecimento dos produtos financeiros por parte do devedor – dos certificados de aforro aos produtos financeiros mais complexos. Com isso, o encargo do crédito será diluído pelo retorno da poupança que o aforrador fizer e, atingida a meta do valor em dívida, o devedor sabe que a qualquer instante – por exemplo, caso a situação económica se degrade – poderá liquidar o crédito. Entretanto, a sua dívida continua a ter seguro de vida associado e poderá aproveitar oportunidades de investimento mais cedo do que faria se amortizasse assim que poupasse.

Não dá o mesmo nível de paz de espírito que uma amortização, mas é um meio termo que poderá ser interessante. Como dissemos, nesta perspetiva, atingir o mais depressa possível uma poupança equivalente ou superior ao valor em dívida é a meta fundamental.

Conclusão e uma última cautela

A decisão de utilizar as poupanças recentes para amortizar a dívida do crédito à habitação deve ser tomada de forma ponderada, considerando a sua situação financeira, o valor da poupança em juros e seguros, a necessidade de liquidez num futuro previsível e o perfil de risco. Para muitos, o descanso psicológico de não ter dívidas é um fator determinante, mas é essencial comparar todos os cenários antes de avançar.

Em caso de dúvida, recorra a um consultor financeiro para analisar a sua situação específica e tomar a melhor decisão para o seu futuro financeiro. Mas tenho uma cautela adicional, se não for você ao pagar ao consultor financeiro, ou se ele só ganhar dinheiro se lhe vender algum produto ou se se concretizar uma operação e nem é você que define o rendimento do consultor, então o mais certo é ele não estará a servir o seu interesse, mas o seu próprio interesse e o interesse de quem lhe paga.

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