Tutorial Evolução da Euribor

Mini tutorial sobre a evolução das Euribor (melhorado)

Vamos lá um mini tutorial sobre a evolução das euribor. Esperemos que ajude alguns a perceber um pouco melhor como funciona este mundo que têm impacto direto no bolso de cada um de nós.

O que é a Euribor?

A euribor ( Euro Interbank Offered Rate) é uma taxa de juro que define quanto é que os bancos pagam para obter crédito no mercado monetário. Segundo o Banco de Portugal, numa definição mais rigorosa é a taxa ou taxas às quais as instituições de crédito dos países pertencentes à União Europeia e à Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA, no acrónimo em inglês) podem obter fundos em euros no mercado monetário por grosso sem garantia, para os diferentes prazos.

Os bancos, ou instituições financeiras, são os principais atores no mercado monetário, pelo que não andamos longe da verdade se dissermos que as Euribor são as taxas às quais uns bancos pagam aos outros pelos empréstimos que fazem entre si.

Quando o empréstimo é a três meses, a taxa que se aplica é a euribor a três meses. Quando o empréstimo é a seis meses aplica-se a euribor a seis meses e assim sucessivamente.

Estas taxas são depois usadas, como muitos já saberão, como taxas de referência para indexar os juros a pagar em contratos de crédito, como contratos de crédito à habitação a taxa variável ou a taxa mista.

No caso dos créditos a taxa variável, quando é usada a euribor a três meses, a taxa de juro do contrato de crédito é revista a cada três meses, a contar do início do contrato. A revisão será a cada seis meses se o indexante usado for a euribor a seis meses e de um ano para as situações em que se use a euribor a 12 meses como indexante.

Nos contratos com taxa mista, sucede o mesmo que foi descrito acima, mas apenas após terminar o período em que o contrato é “governado” pela taxa fixa.

Banco Central Europeu – o banco que fixa administrativamente o preço do dinheiro sem fixar…

O Banco Central Europeu (BCE) fixa enquanto emprestador / depositário de último recurso e responsável por tentar estabilizar a inflação da Zona Euro em torno dos 2%, um conjunto de três taxas de juro. Uma delas, a mais relevante para este tutorial, é a taxa de juro que o próprio BCE paga aos bancos que depositem verbas junto do próprio BCE (também chamada de facilidade permanente de depósito). É aquilo que podemos chamar de taxa regulatória (uma das três).

As três taxas de juro regulatórias com os seus nomes oficiais são, por curiosidade (via Banco de Portugal):

  • a taxa de juro da facilidade permanente de depósito, ou seja, a taxa a que os bancos podem constituir depósitos pelo prazo  overnight junto do Eurosistema;

  • a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento (MRO, na sigla em inglês), com um diferencial de 15 pontos base em relação à taxa de juro da facilidade permanente de depósito;

  • a taxa de juro da facilidade permanente de cedência marginal de liquidez, ou seja, a taxa a que os bancos podem obter liquidez pelo prazo overnight junto do Eurosistema, com um diferencial de 25 pontos em relação à taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento.

Como evoluem as Euribor e como posso usar isso para antecipar o futuro?

Num cenário em que a inflação parece estar a ficar controlada (aproximando-se dos 2%) e as economias se estão a ressentir da recente subida acelerada das taxas de juro desencadeada pelo BCE, precisamente para “arrefecer” a economia (encarecendo todas as formas de crédito por via das subidas das taxas de juro), o BCE tem vindo, nos últimos meses, a descer a referida taxa de juro dos depósitos dos bancos, invertendo o que fez nos últimos dois anos.

A expetativa mais forte à data de hoje – e esta palavra, expectativa, é chave – é que o BCE continue a descer esta taxa de juro que, de momento, se encontra nos 3% para um valor bem mais próximo dos 2% ao longo dos próximos meses (desceu de 3,25% para 3,00% a 12 de dezembro de 2024).

Quantos meses? Chegarão a anos? Haverá alterações externas que mudem radicalmente as expectativas? Não sabemos. Mas, à data de hoje, a expectativa é de que o BCE continuará a descer as suas taxas de juro.

Todo este enquadramento é fundamental para perceber porque é que a Euribor a três meses, depois de, durante muito tempo, ter tido um valor inferior à Euribor a seis ou a 12 meses, hoje estar sistematicamente acima das Euribor com maiores prazos.

Tutorial Evolução da Euribor
Tutorial Evolução da Euribor

A diferença explica-se pelas expectativas que são embutidas nas própria Euribor que, como dissemos, é a taxa de juro que os bancos pagam para obter crédito no mercado monetário, para empréstimos de diferentes prazos.

Ora se a expectativa é a de que daqui a uns meses, o BCE tenha uma taxa de depósitos mais baixa, então se o crédito que estou a conceder for de prazos mais dilatados, com seis ou 12 meses, é natural que eu aceite ver o dinheiro que vou emprestar a esse prazos, a ser pago a uma taxa mais baixa do que a que vou exigir hoje para um empréstimo a mais curto prazo que exigirei que fique mais próximo da taxa de depósito que o BCE tem hoje em vigor (3%).

Este simples racional explica aquilo que parecer ser uma inversão do que devia ser racional. Ou seja, habitualmente pensamos que quanto mais tempo nos dispomos a emprestar dinheiro, maior será a taxa de juro exigida, pois estaremos a prescindir do dinheiro (em proveito do credor) durante um maior período de tempo, perdendo assim flexibilidade (também chamada de liquidez) para, eventualmente, usar o dinheiro noutros fins ou oportunidades de investimento que possam surgir.

Contudo, neste caso, a expectativa de se vir a ter juros futuros bem mais baixos, está a superar este prémio de liquidez associado a empréstimos mais longos, levando assim a uma inversão da curva das taxas de juro. Olhando para o gráfico, a curva mais comum seria ter um ponto de juros mais baixo na euribor a três meses, subindo para a de seis e atingindo um pico na de 12. Hoje sucede precisamente o inverso, pelas razões que acabámos de explicar.

O que nos estão a dizer as diferentes taxas dos diferentes prazos da Euribor?

Se atendermos aos valores das várias euribor, o que elas nos estão a dizer é que os bancos estão a antecipar que, daqui a um ano, a taxa de juro regulatória deverá estar ligeiramente abaixo dos 2,5% e que a seis meses deverá rondar os 2,6%, esperando-se que daqui a três meses esteja perto dos 2,8%. Ou seja, os bancos estão a antecipar que nos próximos três a seis meses haja pelo menos uma nova descida da taxa regulatória (talvez até duas) a rondar os 25 pontos base e que nos próximos 12 meses poderá haver pelo menos duas descidas de igual magnitude, talvez até três.

Em suma, as euribor, para todos os prazos, procuram antecipar quais serão os valores das taxas de juro regulatórias à distância de 3, 6 ou 12 meses, respetivamente.

Daí, não estarem habitualmente “em cima” do valor das taxas regulatórias (atualmente de 3,00%) mais abaixo destas se a expectativa for de descida ou acima destas se a expectativa for de subida. Quando surgir um momento em que o BCE sinalize uma estabilização da sua política monetária (ou seja, quando disser que numa perspetiva de curto, médio e longo prazo não antecipa grande necessidade de mexer nas suas taxas) será natural que as diferenças entre as euribor nos seus vários prazos traduza precisamente o prémio de liquidez de que falámos há pouco.

Questões, duvidas, comentários sobre este mini tutorial sobre a evolução das euribor?

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