Netbooks e não só: E ao enésimo dia fez-se o computador barato

Era uma vez um grupo de pessoas ricas que vivi numa ilha rica onde só se vendiam ricos computadores topo de gama equipados com as inovações tecnológicas que as duas empresas concorrentes existentes na ilha iam desenvolvendo com imenso frenesim. Os preços dos componentes desciam mais ao menos à mesma velocidade a que eram introduzidas inovações técnicas e novos componentes nas máquinas, pelo que o preço por cada computador se mantinha relativamente estável ao longo do tempo. Uma coisa era certa: o maquinão do ano anterior parecia sistematicamente  um vestígio arqueológico de um passado distante quando comparado com a novidade acabadinha de sair da linha de produção.

Era uma vez uma pobre ilha, habitada por gente pobre que não tinham sequer um pobre computador. Um dia um turista vindo da ilha rica cheia de ricas pessoas com ricos computadores vendo a falta que os computadores faziam para o próprio enriquecimento daquela gente resolveu usar toda a sua experiência (na realidade apenas parte dela) para construir um computador barato que conseguisse ser comprado pela pobre gente. Guiado pelo seu sentido prático e pela permanente escassez de recursos das gentes da ilha, o turista foi ficando e foi incrementando as capacidades dos computadores de modo que cumprissem de forma fiável e eficaz as funções básicas que se espera serem cumpridas por um computador: tinha capacidade para ser usado como ferramenta de trabalho operando um pacote gratuito de software de escritório, permitia a comunicação pela internet que entretanto se começou a disseminar pela ilha, mais ou menos à velocidade a que se fabricavam os computadores baratos e ainda permitia alguma utilização com fins de entretenimento. Há quem diga que, na realidade, o novo computador barato resultava tanto do esforço de inovação do turista quanto do simples deitar fora de componentes e funcionalidades de um computador muito mais sofisticado que existia na ilha vizinha; a tal de onde vinha o turísta. Há também quem diga que na realidade o turista era residente da ilha pobre, havia viajado e estudado na ilha rica e entretanto decidido regressar à ilha pobre especificamente para construir um computador acessível e prático. Outros ainda dizem que o computador barato era de facto feito na ilha dos ricos e enviado de noite, pela calada nuns barcos especiais feitos para o efeito. Os rumores são muitos mas pouco interessam para o desfecho da história. As duas ilhas continuaram a sua evolução, cada uma com o seu caminho e com os computadores à medida da respectiva riqueza. Fim de História.

Fim de história?

Nem por isso, afinal o nível das águas do mar desceu e as duas ilhas juntaram-se formando um pequeno continente. As viagens turísticas que era até então raras passaram a ser frequentes e as economias acabaram por se integrar com maior facilidade. Em pouco tempo, os computadores baratos chegaram às lojas da gente rica e, para espanto das empresas produtoras de topos de gama, começaram a ter um enorme sucesso. Aparentemente haviam um número enorme de pessoas que comprava os computadores ultra-apetrechados mais por falta de opção do que por opção consciente. Os computadores baratos mas fiáveis e práticos bastavam-lhes para as tarefas que lhes tinham destinadas.

Houve um momento em que se instalou o pânico entre as empresas produtoras de topos de gama. Em que disseram que “esta procura está a penalizar os resultados das empresas tecnológicas uma vez que o seu preço é menor“. Todo um estilo de vida e negócio estariam em risco. O que aconteceu de facto foi que os computadores topo de gama continuaram a vender-se, mas menos, e os computadores mais baratos e menos saturados de alta tecnologia continuaram a vender-se a bom ritmo. Passaram a ser inclusive um fenómeno de moda utilitária tal era a vantagem do trinómio qualidade/preço/portabilidade. As empresas de computadores topo de gama diversificaram a sua oferta, reduziram as unidades de produção de topos de gama, passaram a ter uma base de clientes substancialmente mais alargada tanto na ex-ilha rica como na ex-ilha pobre, e todos os clientes ficaram mais satisfeitos do que estavam antes. Até mesmo os que viviam para a novidade da tecnologia pois passado o susto apocalíptico de que a inovação tecnológica poderia estar em risco, acabaram por ver vantagem: passaram a sentir-se mais especiais, a elite que compunham era agora a elite de um grupo bem maior de utilizadores de computadores. Fim de história.

Fim de história?

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