Estatísticas mensais do emprego: eis porque o INE deve evitar prever dados

Volvidos nove meses desde que o INE começou a divulgar Estimativas Mensais de Emprego e Desemprego, ou seja a mensualizar as estatísticas trimestrais ainda que com muito menos detalhe em termos dos indicadores disponíveis é tempo de fazer um balanço crítico.

Os parâmetros de avaliação relevantes para avaliar uma mudança na periodicidade de difusão de um indicador passam habitualmente pelo saldo entre o que se ganha com a maior frequência, com a disponibilidade mais atempada da informação face ao que se perde em termos de rigor e precisão da informação produzida. É inegável que apresentar dados mais rapidamente geralmente tem um custo em termos de precisão da informação. As revisões posteriores às estimativas produzidas mais rapidamente, deverão ser, naturalmente, maiores pois as primeiras contas deverão basear-se em menor informação disponível e/ou de menor qualidade. O difusor deve avaliar se esse saldo, se os prós e contras, compensam.

Quanto às Estimativas Mensais de Emprego e Desemprego o balanço até ao momento parece-me ser claramente negativo. Entre maio e junho de 2015, para dar um exemplo particularmente significativo, a primeira estimativa da taxa de desemprego passou de 12,4% Trimestre centrado em maio) para 13,2% (trimestre centrado em junho). Mas aquilo que aparenta ser uma forte queda do desemprego é apresentada pelo INE nos seguintes termos “A estimativa provisória da taxa de desemprego para junho de 2015 situa-se em 12,4%, mantendo-se inalterada em relação à estimativa definitiva obtida para maio de 2015.” Ou seja, como entre a difusão de maio e junho o INE recebeu mais e melhor informação e substituiu aquilo que era uma previsão econométrica por dados reais de um inquérito e, com isso, teve de rever a sua estimativa inicial da taxa de desemprego de maio em 0,8 pontos percentuais, no final a comparação entre o trimestre centrado em maio e o trimestre centrado em junho não revelam mudanças. A oscilação resulta exclusivamente ou de informação parcial e previsão particularmente grosseira proveniente da estimativa inicial do trimestre centrado em maio ou desse mesmo fenómeno mas agora relativo aos dados centrados em junho que são ainda, de facto, muito preliminares. Ora perante tamanha incerteza, o que é que os dados divulgados pelo INE acrescentam de informação útil ao decisor político que quer medir o impacto da suas políticas e eventualmente redesenhá-las? Como pode ler um número que por via de uma revisão oscila em cerca de 50 mil indivíduos (sejam eles empregados ou desempregados)? O que ganha em ter passado a ter esta informação numa base mensal face à informação mais estável (não dependente de um exercício de previsão), com mais indicadores explicativos sobre as evoluções registadas como a que o INE continua a divulgar numa base trimestral?

Muito pouco na minha opinião. Estas revisões significativas nos dados do emprego e desemprego mensal têm alimentado muita pirueta de análise política vitimizando ela própria a credibilidade de quem se atreve a achar que encontrou nos dados uma tendência com nexo. No fundo, está a contribuir para acrescentar ruído ao debate político, fragilizando, no caminho, o próprio INE.

Noto que o INE tem por política de décadas não divulgar publicamente previsões económicas. Historicamente divulga – de que eu tenha memória – apenas um indicador totalmente centrado em previsão refere-se a informação demográfica, muito mais estável, numa lógica de difusão de cenários: as projeções demográfica a várias décadas.

Como cálculos intermédios e parcelares, o INE recorre a alguns exercícios de previsão que ajudam a completar, por exemplo, as Contas Nacionais Trimestrais, mas estou em crer que em nenhum indicador como nesta novíssima difusão mensal do emprego/desemprego, a previsão desempenha um papel tão relevante no valor final divulgado.

No caso em apreço, segundo o INE informa, os dados divulgados referem-se a um período de três meses. Por exemplo, a taxa de desemprego hoje difundida relativa a junho, é composta pelos dados definitivos de maio e junho resultantes do Inquérito ao Emprego, dos dados de junho que resultam de um valor preliminar e incompleto desse mesmo inquérito ao emprego e de uma projeção econométrica que constitui a informação de julho considerada. Adicionalmente estes dados são depois sujeitos a um processo de correção de sazonalidade, ele próprio potencialmente indutor de mais ruído na série caso o perfil de sazonalidade não seja muito robusto. O resultado final, sujeito a revisões muito expressivas sem que haja informação adicional que permita qualificar tais oscilações parece manifestamente inútil e contraproducente. No Economia e Finanças, recomendo que continuem a acompanhar o indicador, contudo, com imensas cautelas e, muito provavelmente sem promover a sua difusão pública pelo menos até que o indicador convença da sua real utilidade.

O INE deveria reponderar seriamente a metodologia usada, regressando a um princípio de prudência: outros que construam indicadores com informação que realmente não têm.

Rui Manuel Cerdeira Branco

ADENDA: na sequência deste texto recomendo a leitura de um outro com uma atualização importante sobre este tema => Emprego: INE vai apostar na antecipação de estimativas definitivas em 2016

3 comentários

  1. «Entre maio e junho de 2015, para dar um exemplo particularmente significativo, a primeira estimativa da taxa de desemprego passou de 12,4% Trimestre centrado em maio) para 13,2% (trimestre centrado em junho).»
    Os valores não estão trocados?

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