Está a banca e o país a repetir erros do passado na habitação?

Ainda não será caso para alarme mas os sinais que justificam alguma reflexão estão aí. A venda de imóveis está em clara recuperação seguindo uma evolução a par com a concessão de crédito à habitação. Segundo os dados mais recentes relativos à avaliação bancária na habitação, o valor médio nacional por metro quadrado registou em julho de 2015 o valor mais elevado desde junho de 2012, um máximo de mais de três anos portanto. Por um lado, há indicações de que as instituições financeiras estão a descer os spreads que cobram (já é possível obter spreads abaixo de 2% em vários bancos) e, por outro lado, estão a aumentar a percentagem de capital que emprestam face ao valor de avaliação dos imóveis. Segundo o Jornal de Negócios é já possível obter empréstimos de 80% do valor das avaliações bancárias das habitações em compra. Noutro indicador, há mais de quatro anos que os bancos não concediam tanto crédito para compra de habitação.

Parece cada vez mais evidente que o arrendamento volta a ser uma segunda escolha e que uma parte significativa da riqueza gerada e projetada das famílias portuguesas se canaliza de novo para a compra de casa. A banca precisa desesperadamente de regressar aos lucros e a recuperação do modelo de “sucesso” do passado, agora completado por um aumento inusitado das comissões está aí de volta e em força.

Mas será que este modelo de afetação de recursos, que se configura em simultâneo com a recuperação da aquisição de bens duradouros (como os automóveis) é compatível com uma alteração estrutural da economia portuguesa, na qual continua a escassear capital para investir em novos projetos, racionalizar a produção e em sustentar o aumento a capacidade produtiva? E será a aposta em habitação nova para satisfazer este novo impulso de casa própria uma tendência racional e desejável do ponto de vista coletivo num país onde proliferam fogos devolutos, muitos deles em zonas adequadas à oferta de postos de trabalho existentes?

E em termos de evolução estrita do mercado e habitação, a maior valorização dos imóveis em algumas regiões (como Lisboa) indicia a existência da formação de algum fenómeno especulativo que mereça preocupação?

Mais do que perguntas retóricas, estas são apenas algumas das questões que nos parecem relevantes na interligação entre o interesse individual, a força de vendas bancária e o interesse coletivo. Questões a que há que responder da forma mais responsável e instruída possível, especialmente sem esquecer o que se pagou e ainda paga pela distração, não intervenção ou captura por interesses particulares que caracterizou muitas das decisões do privado e do público no passado.

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