Nos últimos 20 anos constata-se que a produtividade do trabalho cresce mas os salários ficam aquém. A conclusão surge no Jornal de Negócios que apresenta uma análise aos dados da OCDE referentes aos salários e produtividade. A análise centra-se nos estados membros da OCDE e uma das conclusões destacadas é a de que em Portugal se registaram sensivelmente 20 anos de produtividade do trabalho crescente sem que as remunerações médias e em especial as remunerações médias reais tenham acompanhado uma subida na mesma dimensão.
Uma das fontes para a análise realizada terá sido o OECD Compendium of Productivity Indicators 2024 recentemente divulgado e que abrange 38 estados membros da OCDE.
Um excerto da peça do Negócios:
“(…) Face a 1995, o ponto de partida utilizado, até 2022 a média da massa salarial real no país cresceu 39%, à razão de 1,4% ao ano. Já a produtividade registava uma subida de 49,9%, representando um ritmo médio anual de melhoria de 1,8%.
A comparação do Negócios é feita tendo e conta, nos indicadores da OCDE, os valores de salários e contribuições sociais por trabalhador, descontado a variação no índice de preços no consumidor. Já o indicador de produtividade adotado – PIB por hora trabalhada – exclui atividades do setor primário, imobiliário e algumas atividades predominantemente do setor público (educação e saúde). A OCDE indica que o objetivo, ao excluir estes setores, é afastar fatores muito específicos na forma como o contributo destas atividades é medido nas contas nacionais que as desligam da evolução dos salários. Por exemplo, com fortes subidas de lucros por valorização de matérias-primas em áreas como minas e pedreiras, sem correspondentes subidas de salários, ou por serem contabilizadas no imobiliário as rendas de habitação (sem equivalente consideração de emprego neste setor). (…)”
A evolução do diferencial entre produtividade e salário terá, contudo, sido menos prejudical para os trabalhadores, se se levantar a restrição de deixar de fora o setor primário, imobiliário e algumas atividades predominantemente do setor público (educação e saúde). De facto, após 2018 a situação terá melhorado com os salários a subirem acima da produtividade em 2019, 2020 e 2021.
Em 2022, ano de crescimento histórico e recorde em Portugal, pelo menos desde o ano 2000, a situação voltou ao perfil anterior, com a produtividade a aumentar mais do que os salários. A OCDE sublinha mesmo que Portugal, Espanha e Itália constituiram exceções no espaço do OCDE nesse ano, por serem os únicos países onde não houve ainhamento entre a subida da pordutividade e a subida dos salários reais.
Da OCDE:
“(…) Italy, Portugal and Spain are the only OECD countries with available data where labour productivity increased (or was stable) while real average labour income fell in 2022, both for total economy, and for the business economy excluding primary, real estate and non-market sectors. This resulted in a negative gap between CPI-deflated average hourly labour income and productivity growth. This gap is relatively narrow for the total economy, but more pronounced for the business economy excluding the primary, real estate and non-market sectors. (…)”
No conjunto dos 22 anos analisados, a verdade é que a produtividade aumentou mais do que as remunerações médias reais, em Portugal. Se o alinhamento entre estes dois indicadores deve ser a regra para uma economia sustentável, há assim uma almofada de “excesso” de produtividade face ao déficit de aumento de remunerações reais que falta eliminar.
Comparação produtividade do trabalho vs remuneração real média 1995-2022