Num exercício de verificação de dados, o jornal Público numa peça assinada por Sérgio Aníbal, confrontou as declarações recentes do primeiro-ministro português nas quais invoca um maior esforço de austeridade por parte dos irlandeses como justificação para o sucesso aparente da Irlanda na saída da condicionalidade imposta pela troika. E da análise do Público resulta que não há evidência, de todo, que sustente essa perspetiva de um maior esforço de austeridade estar na base de tal sucesso, dado que são vários os parâmetros em que Portugal equiparou ou foi mesmo além do que se fez na Irlanda.
Destacamos a nota que nos parece mais significativa dada pela peça do Público (“Peso dos salários da função pública no PIB baixou mais que na Irlanda“) e que pode justificar a diferença encontrada, ainda que o sucesso seja ainda colocado em causa por alguns analistas (ver na Forbes “Ireland Exits Bailout With No Backstop: A Good News Story?“):
“(…) Uma das explicações para esta resposta tão diferente das economias num cenário semelhante de consolidação orçamental, estará certamente nas características estruturais das duas economias. A Irlanda, ao contrário de Portugal, Espanha ou Grécia, não revelou nas últimas décadas dificuldades e ter as suas contas externas equilibradas. O problema que sentiu agora teve apenas a ver com o colapso do seu sistema financeiro no meio da crise internacional, que o Estado irlandês decidiu amparar.
O facto de as exportações na Irlanda, durante o período de 2009 a 2013, representarem 108% do PIB do país – contra 39% de Portugal – mostram a capacidade do país em competir nos mercados internacionais, que não se perdeu com a actual crise. Explicam também como é que a economia irlandesa consegue resistir muito melhor que a portuguesa à quebra abrupta da procura interna provocada pela enorme dose de austeridade.
Será para estes últimos números – e não para o défice público de 8,2% que a Irlanda ainda irá registar em 2013 – que os investidores estão a olhar quando decidem emprestar dinheiro à Irlanda a uma taxa de 3,5%, permitindo assim a possibilidade de um regresso não assistido ao mercado.”