A credibilidade boa e a credibilidade má no regresso aos mercados

Há dois tipos fundamentalmente diferentes de “regresso com credibilidade aos mercados”: o de caminharmos pelo próprio pé e o de convencermos o fiador Europeu.

O primeiro dos caminhos, o desejável, pressupõe que a situação económica do país, por si só, inspire confianças e até desejo aos investidores internacionais de aqui colocarem as suas poupanças concedendo empréstimos a empresas nacionais e ao Estado. Este cenário obviamente não é compatível com o que se tem passado desde a crise financeira internacional. As perspetivas e realidade económica efetiva do país têm-se degradado gravemente nos últimos anos. Convém recordar os indicadores fundamentais:  economia a encolher há vários anos; sector empresarial não financeiro e financeiro altamente endividados com os últimos dependentes de empréstimos do Estado; Estado fortemente endividado e com  dívida pública em máximos históricos; desemprego igualmente em máximos históricos; delapidação do capital humano mais competente por via da emigração crescente; definhamento do mercado interno sem contrapartida suficiente do externo, reequilíbrio insustentável da balança comercial, etc.

O outro tipo de “regresso aos mercados”, é o existente. Passa por convencermos quem convença os mercados de que nos deve ser dado crédito. E aqui entram os nossos parceiros europeus. Como estamos cada vez mais longe de caminhar pelo nosso próprio pé perdendo a capacidade de nos apresentarmos como bom aplicador de capital alheio, resta-nos poder dizer ao investidor que qualquer valor aqui investido estará assegurado pela intervenção dos nossos parceiros que não nos deixarão falir desde que façamos o que nos mandam fazer. Como o que nos mandam fazer está estruturado de tal forma que, no balanço final, nos está a colocar ainda mais longe de sermos capazes por pé próprio, esta segunda forma de regresso aos mercados corre o risco de eternizar a situação de protetorado controlado por um processo autoritário, próximo do que advem do tratador que cuida de um animal no zoológico. Avaliar se é bom ou mau ser um animal enjaulado com direito à ração estritamente suficiente e a umas vacinas para continuar a poder se exibido em público, caberá, em última análise, ao povo português.

Fora da jaula está um mundo de riscos e perigos desconhecidos mas também um admirável mundo para descobrir e conquistar.

Para já, com as condicionantes internas e externas existentes, o nosso único cenário, o tal que publicamente tem sido anunciado como desígnio nacional para os próximos 9 meses,  é o segundo. Convém não termos ilusões quanto a isso, até para podermos decidir (por que vamos ter de decidir!) de que cor será o comprimido que Portugal vai querer tomar.

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