Economia: ciência social

Em poucas linhas Pedro Lains recoloca os postes e a trave na baliza daquilo que constitui a essência da Economia, uma ciência social. A Economia tem o costelado que tem, não vejo ganho nenhum em pedir-lhe que seja o que não pode ser, nem deve querer ser. Há muito e digno caminho para o debate político sobre como agir e reagir a factos comprovados economicamente, tal como há muita largura para discussões académicas sobre diferentes formas de modelizar e acompanhar racionalmente a realidade social, mas aqueles que patrulham contaminações políticas e, nesse sentido, “más teorias”, só têm a perder se centrarem a crítica  à Economia enquanto ciência social, em argumentos da mesma índole, alheios ao esforço de abstracção, sistematização e quantificação. Dizer e provar que o outro menino está a fazer batota deveria ser trigo limpo se se defendesse uma linguagem científica de desenvolvimento de trabalho científico. Se as teorias são más, devem sê-lo porque não são cientificamente plausíveis e comprováveis nos exactos termos em que foram propostas, não devem ser “cientificamente” avaliadas por juízos de valor.

Essa discussão saudável deverá processar-se noutra fase ou quando muito, o crítico deverá encontrar forma de incorporar de formas verificáveis e comummente aceites (desafio ingrato porque particularmente complexo) aquilo que valoriza na sua proposta alternativa que reclama mais sentimento e menos abstracção. Se o que sobra, sendo considerado fundamental, não pode ser traduzido na linguagem aceite de entendimento científico, que se parta para a sua defesa naquilo que se convencionou chamar de Economia Política, ou melhor, de Política Económica, ou melhor ainda, simplesmente, de Política.

Mas o que é a Economia afinal? É lerem o texto cuja ligação aqui vos deixo e seguirem a discussão que vem de trás e se seguirá certamente.

Como sempre, deixo mero palavreado de leigo e… iminentemente político como tal.

Um comentário

  1. Não posso estar mais em desacordo com Pedro Lains e com Vasco Pulido Valente.
    Em primeiro lugar, VPV erra sobre o conceito de ciência. E Pedro Lains também. VPV perfilha um conceito positivista de ciência, que foi abandonado há 60 anos. O conceito de ciência de hoje é outro. É um conceito que visa deixar de fora aquilo que não é refutável, falsificável. Teorias que não são “falsificáveis” existem tanto nas ciências naturais como nas ciências sociais e, portanto, não são ciência. Esta distinção é claríssima e de uma enorme utilidade, porque o que não é falsificável é o que é arbitrário.
    Exemplo: Quando Simone de Beauvoir diz: “os comportamento típicos das mulheres são adquiridos pela cultura e não estão associados às características biológicas que distinguem as mulheres dos homens”, esta afirmação não é científica porque a autora não justifica esta afirmação (em vez disso, conta histórias soltas que tocam as pessoas nos seus pontos sensíveis, como a sexualidade, etc.). Como não a justifica, a teoria não é falsificável. (Ou melhor, não é imediatamente falsificável. Foi necessário passarem 50 anos e um grande avanço da biologia para que uma outra teoria, esta sim científica, viesse explicar os comportamentos típicos das mulheres com base em factores biológicos e assim demonstrar a falsidade da teoria de Beauvoir). Experimentem os leitores tentar falsificar a teoria de Beauvoir, e logo verão que é impossível. É tão difícil como tentar falsificar a teoria de uma vidente que sabe como vai acabar o mundo, e pelas mesmas razões. São teorias formuladas de modo a não se oferecerem à falsificação, sem fundamentação, ou sem uma fundamentação racional. É isto a “não ciência”. (No entanto, Beauvoir está a ser reeditada em Portugal, com muito sucesso, o que não é para admirar, num país em que nem os investigadores das ciências sociais sabem o que é ciência).
    Dizer que a Economia não é ciência é um disparate descomunal. Mas se fosse eu a dizê-lo, era um disparate inócuo. Ser VPV a dizê-lo, no Público, é mais uma acha para a fogueira onde nos estamos a queimar todos. Porque o problema da definição de ciência tem implicações políticas muito sérias. Quando VPV diz que a Economia não é ciência, ele não o sabe, mas está a desculpabilizar os decisores políticos, de política económica e não só, e todos os economistas que, estando em posição de influenciar as decisões políticas (universidades, organismos consultivos, grupos de pressão, etc.) agem no seu dia-a-dia ignorando as teorias da ciência económica, não por uma tomada de posição epistemológica mas simplesmente porque isso serve melhor os seus interesses.
    Por exemplo: Greenspan sabia, porque aprendeu da ciência económica, que a situação de aumento anormal da massa monetária por efeito do crédito requeria um aumento das taxas de juro. Tanto o sabia, que vem defender-se, dizendo que, mesmo que tivesse tentado, não o conseguiria sem isolar o mercado de capitais americano dos fluxos de capitais vindos do exterior. Mas a verdade é que Greenspan não tentou, nem alertou, não fez nada. Mas mais, havia uma coisa que Greenspan podia ter feito e não fez, e que era regular. Isto, Greenspan não fez porque não quis, passando por cima dos ensinamentos da ciência económica. E não quis porque se deixou avassalar pela vertigem de uma economia norte-americana que fosse “a mais forte economia do mundo”. O que falhou não foi a ciência económica, foi a política. VPV não consegue destrinçar estas duas coisas simples.

    Em Portugal, está a acontecer um desastre económico, provocado pelas más políticas dos sucessivos governos e também pela má governação do governador do Banco de Portugal. Mas como não existe massa crítica na economia em Portugal (estou a falar em volume) quase ninguém discute o assunto. O assunto não existe. E é isso precisamente que VPV pretende. Como não percebe nada de economia, não quer que se discuta economia. Eu já vi VPV fazer isto tantas vezes que já nem me admiro e não vou perder tempo com VPV. Digo só que VPV mantém a sua coluna no Público à custa da ignorância maciça do povo português.
    Os “Cinco economistas” têm inteira razão e tomaram uma posição louvável ao chamaram a atenção para algo que é poderia ser muito importante, se alguém conseguisse estar atento o suficiente para o entender.

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