Como tem evoluído o custo de construir habitação nova em Portugal? O Instituto Nacional de Estatística (INE) faz as contas todos os meses e permite-nos responder a esta pergunta com rigor, apurando o Índice de Custos de Construção de Habitação Nova.
Desde abril de 2023 que a evolução dos preços dos materiais tem puxado o custo de construção de habitação nova para baixo, ou seja, desde esse mês que se regista uma descida de preços do conjunto dos materiais de construção, deflação, portanto.
No entanto, o custo da mão de obra nunca deixou de subir mais do que compensando a queda registada nos materiais.
Na prática, os custos de construção de habitação nova continuaram a subir todos os meses, ainda assim a um ritmo muito mais lento do que o que se registava, por exemplo, em 2022, onde eram comuns as subidas de dois dígitos.
Em março de 2024, a subida global foi de 2,1% em termos homólogos e nos meses anteriores chegaram a registar-se valores inferiores a 2%.
O INE oferece ainda algum detalhe adicional sobre a evolução registada em março de 2024 que aqui reproduzimos:
O custo da mão de obra contribuiu com 2,9 p.p. (2,7 p.p. no mês anterior) para a formação da taxa de variação homóloga do ICCHN e os materiais com -0,8 p.p. (-0,2 p.p. em fevereiro). Entre os materiais que mais influenciaram negativamente a variação agregada do preço estão os Materiais de revestimentos, isolamentos e impermeabilização, a Chapa de aço macio e galvanizada e o Aço para betão e perfilados pesados e ligeiros com descidas de cerca de 15%, bem como os Tubos de PVC e os Produtos para instalações elétricas com reduções de cerca de 10%. Em sentido oposto, destacaram-se o Betão pronto, o Cimento e as Obras de carpintaria com crescimentos homólogos de cerca de 5%.
Construir casa nova custa mais 22,6% do que há três anos mas inflação sem habitação só subiu 15,9%
De facto, analisando a evolução do índice divulgado pelo INE constata-se que enquanto que em março de 2021, o custo total para construir habitação nova era de 97,01 pontos, volvidos três anos esse mesmo índice atingiu os 118,98 pontos, um aumento de 22,6%.
Dividindo por componentes, temos um aumento do custo de materiais de 22,5% nesse período que compara com um aumento do custo de mão de obra de 22,8%. Isto leva-nos a constatar que, apesar de os preços dos materiais estarem em queda há cerca de um ano, estes terão aumentado mais depressa na primeira parte deste período de três anos, face as custos de mão de obra. Os custos de mão de obra com este último ano, ao terem mantido um registo de subida, “apanharam” inflação dos materiais, terminando-se o triénio com aumentos praticamente idênticos nas duas grandes componentes que contribuem para o custo global da construção de habitação nova.
É útil para a análise adicionar um último dado que balizará estes registos. Quanto subiu a inflação, o índice de preços no consumidor nesse mesmo período?
Consultámos o INE, identificámos o índice para abril de 2021 e abril de 2024 (os dados mais recentes) e tomámos para as nossas contas a versão do índice de preços no consumidor que exclui a habitação (para Portugal). Apurámos uma inflação acumulada da 15,9%.
Constata-se assim que, construir casa nova em Portugal ficou mais caro, mais depressa do que o aumento do preço do cabaz de compras médio no consumidor. Por outra palavras, a taxa de inflação aplicada à construção de casa nova foi superior em 6,7 pontos à taxa de inflação média do cabaz de compras sem habitação, entre sensivelmente o final do 1º trimestre de 2021 e o final do primeiro trimestre de 2024.
O custo relativo de construir casa ficou assim mais alto face a muitos outros produtos e serviços.
Já em março de 2024, verifica-se que a variação homóloga no custo de construção foi igual à variação homóloga da inflação sem habitação (2,1%) pelo que construir casa nova já não está a ficar comparativamente mais caro do que a média do cabaz de compras de um consumidor. Pelo menos neste momento.