Com a difusão da primeira estimativa completa das Contas Nacional Trimestrais referentes ao 4º trimestre de 2022, o INE revela que o PIB de 2022 cresceu 11,5% em termos nominais. Este crescimento traduziu-se em mais €24.738 de riqueza criada, totalizando €239.479. Por outras, palavras o PIB cresceu 7,5 vezes mais do que a dívida em 2022 em termos nominais. Este é o maior crescimento num ano, tanto em termos nominais quanto reais para o PIB 1996 a 2022.
Note-se que em 2020 o PIB tinha caído €13 856 mil milhões e em 2021 tinha crescido €14 222 mil milhões.
Em termos reais, ou seja, descontando o efeito dos preços que inflacionam o PIB, o crescimento do PIB, em 2022, foi de 6,7% (5,5% em 2021). Em termos reais, o PIB está cerca de €7 mil milhões acima (€210 486 mil milhões) do anterior máximo, registado em 2019 (€203 855 mil milhões).
PIB cresceu 7,5 vezes mais do que a dívida em 2022
O valor nominal de, praticamente, €240 mil milhões em 2022 é especialmente relevante para determinar qual o peso da dívida pública no PIB, bem como o valor do défice orçamental do Estado em percentagem do PIB. Recorde-se que sinalizámos aqui quando se superou a fasquia dos €230 mil milhões do PIB.
Quanto ao peso da dívida pública no PIB, este terá descido muito significativamente em 2022.
A dívida pública, em número de euros, aumentou €3,3 mil milhões em 2022.
Como o PIB, no mesmo período, aumentou 7,5 vezes mais (aumentou, como já referimos €24,738 mil milhões) o peso da dívida no PIB caiu.
Assim, segundo o Banco de Portugal, o peso da dívida pública no PIB reduziu-se de 125,5% em 2021 para 113,8% em 2022.
No gráfico em baixo apresenta-se o PIB 1996 a 2022, tanto em valor, quanto sob a forma de variação da taxa de crescimento nominal e real (que já desconta o efeito dos preços).
Ou seja, apesar de se deverem mais euros, o seu fardo no total da riqueza gerada no país, num ano, é agora menor, pois a riqueza aumentou muito mais do que a dívida, nesse mesmo período.
Na realidade, se tivéssemos a garantia de que a riqueza nacional gerada num dado ano cresceria sempre a um ritmo superior ao do crescimento da dívida, a cada ano, a dívida seria um desafio decrescente, apesar de em número de euros continuar a aumentar.
A verdade é que esse aumento será cada vez mais fácil de pagar, pois representará cada vez menos da riqueza que terá disponível.
A sustentabilidade da dívida depende da sustentabilidade do investimento feito com o crédito obtido ou da insustentabilidade de investimento que se deixa de fazer para a pagar
Naturalmente, para tudo isto se manter sustentável e para garantir que a riqueza nacional cresça sempre mais depressa do que a dívida (seja ela pública, ou privada) é fundamental que aquilo em que a dívida é aplicada se revele produtivo o suficiente para:
- pagar os juros,
- devolver a parte do capital emprestado que se vence em cada ano e ainda
- sobrar um valor extra que não existia antes do investimento e que se traduz num aumento da riqueza gerada.
Será a sabedoria desses investimentos (ou a falta dela) que permitirá a um país ir saindo do sufoco da dívida ou enterrar-se nele.
Note-se que este raciocínio também se aplica à opção de abater a dívida em termos nominais, ou seja, fazer diminuir o número de euros em dívida.
Se esse esforço tiver como consequência emperrar o crescimento do PIB, nomeadamente por se deixar de fazer investimento produtivo, isso poderá, na prática, levar a um indesejável aumento do peso da dívida, pois esta poderá acabar por diminuir mais devagar do que o PIB.
Se, pelo contrário, o investimento que se deixar de fazer não tiver impacto na riqueza gerada ou, tendo, este seja menos relevante do que o que se ganha com dever menos (por exemplo, com o que se ganha na redução dos juros a pagar) a redução da despesa nominal fará sentido.
Em baixo colocamos a tabela de dados que apurámos junto do INE, com algumas agregações nossas.
É lamentável que se façam tantos exercícios para provar que vivemos no melhor dos mundos quando o dinheiro disponível se esgota rapidamente numa simples ida aos hipermercados e os mesmos de sempre continuem a parasitar a sociedade. Isto é uma evidência, não é preciso nenhuma ideologia para concluir que as crises não servem o indivíduo comum mas garantem lucros aos bancos e aos distribuidores de bens de primeira necessidade. Farto disto.