Segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística, as remunerações reais até ao terceiro trimestre de 2022 caíram 4,7%, quando comparado com idêntico trimestre do ano anterior.
Neste artigo iremos dar especial destaque aos valores reais por oposição aos valores nominais, atendendo a que as previsões para a inflação em 2022 rondam os 8%.
Queda real muito superior no setor público
A queda real foi, contudo, muito diferente, consoante se observam os 3,748 milhões de trabalhadores da iniciativa privada ou os 731 mil trabalhadores do Estado. Entre os primeiros (privado), a redução real da remuneração foi de 3,9% enquanto entre os segundo (público) atingiu os 6,5%.
Em termos nominais, ou seja, em valor monetário e sem considerar o efeito da inflação, as remunerações aumentaram 4,0% no total. Este aumento, decomposto por setor público e privado, foi de 2,0% e de 4,9%, respetivamente.
Recorde-se que a estrutura de empregados do Estado apresentam bastantes diferenças face ao setor privado. A principal será a escolaridade média, bastante superior entre os trabalhadores do Estado que incluem médicos, professores, investigadores, tudo funções relativamente menos presentes no tecido privado, ainda muito dominado por setores intensivos em mão-de-obra menos qualificada e, em média, por essa via, com salários mais baixos.
Note-se ainda que entre profissionais com habilitações superiores, os trabalhadores do Estado tendem a ter remunerações médias inferiores.
Queda real muito superior entre as maiores empresas
A dicotomia público/privado é, contudo, redutora para analisar as Remunerações nas Estatísticas do Emprego do INE que se baseiam na Declaração Mensal de Remunerações enviada à Segurança social, todos os meses, pelas empresas.
Desde logo, a dimensão das empresas surge como um claro fator de distinção nos dados relativos ao terceiro trimestre de 2022. As empresas acima dos 249 trabalhadores registaram quedas reais das remunerações superiores a 6% face ao período homólogo. E as microempresas, com até 4 trabalhadores foram aquelas onde se registou a menor queda, apenas 2,3%.
Olhando para os oito escalões de dimensão de empresas por número de pessoas ao serviço, a progressão é quase perfeita: quanto maior a empresa, maior a perda real de remunerações.
Sem surpresa, ao aumento nominal dos salários neste período foi maior nas microempresas até 4 trabalhadores: +6,6%. Foi menor nas maiores empresas, com mais 500 trabalhadores: +1,8%.
Destaque-se que o setor público está também sobre-representado nas empresas de maior dimensão.
Queda real muito superior entre as empresas com maior intensidade de conhecimento
Outro ângulo de análise possível de considerar usando as estatísticas o INE é aquele que categoriza a intensidade tecnológica e a intensidade de conhecimento de cada emprego.
O INE dividiu as várias classificações de atividade económica (CAE) segundo o maior ou menor grau de intensidade tecnológica e com o maior ou menor grau intensidade de conhecimento.
Desta análise resulta que foram os Serviços Financeiros com Forte Intensidade de Conhecimento (Banca e Seguros) que registaram a maior queda de salário real: 7,6%. Foram seguidos de perto pelos Outros Serviços com Forte Intensidade de Conhecimento (que inclui Educação, Administração Pública e Defesa, Atividade Veterinárias, etc) : -6,2%
No extremo oposto, temos os Serviços de Alta Tecnologia com Forte Intensidade de Conhecimento, que incluem as Atividades de Investigação científica e de desenvolvimento, Consultoria e Programação Informática e Atividade Relacionadas, Telecomunicações, etc (-2,4%) e os Serviços de Mercado com Forte Intensidade de Conhecimento que incluem as Atividades Jurídicas, Outras Atividades de Consultoria, Científicas, Técnicas e Similares, etc (-2,8%).
Remuneração bruta real mensal média por trabalhador (total, regular e base) por atividade económica (CAE-Rev. 3) em setembro de 2022
Não podendo ser exaustivos e recomendando sempre a leitura da informação original do INE deixamos para apreciação um quadro que abrange todas as atividades económicas, destacando a evolução dos salários reais, ou seja, aquela que mais próximo fica de nos dar uma ideia da evolução do poder de compra em cenário inflacionista.
Qual a remuneração utilizada para as contas?
O INE produz estes dados usando três tipos de remunerações possíveis. Neste artigo, destacamos um deles: a remuneração bruta total mensal média.
A remuneração bruta total mensal média inclui todas as remunerações regulares, especiais ou extraordinárias, sujeitas a tributação, seja ela para efeitos de retenção na fonte de IRS, seja para desconto para a Segurança Social ou para a Caixa Geral de Aposentações.
De fora ficam apenas as remunerações isentas como o subsídio de refeições até aos €4,77 ou até aos €7,63, se pago em dinheiro ou cartão de refeição.
Quem tiver curiosidade por conhecer esta definição em maior detalhe encontra-a no final do destaque do INE (clique no elo para o pdf).