A revisão na Balança de Serviços apresentada pelo Banco de Portugal a 19 de fevereiro de 2019 surpreende e conduz a revisão em alta significativa no PIB de 2018 e de 2019.
Na primeira estimativa com dados completos para todas as componentes do PIB (ver “PIB 2019 surpreende acelera e fecha a crescer 2% no ano“), o INE reviu de forma significativa os números que havia avançado inicialmente na estimativa rápida sobre a evolução do PIB em 2019. Segundo as contas nacionais trimestrais divulgada pelo INE relativa ao quarto trimestre de 2019 que dão também uma indicação para o ano completo, o PIB português cresce 2,2% em volume (corrigindo o efeito da subida dos preços associados PIB) face ao ano anterior, tendo aumentado 3,9% em valor.
Em termos monetários o PIB aumentou de €204.304,8 no final do ano de 2018 para €212.253,9 no final do ano de 2019 – o tal aumento de 3,9% em valor. Em termos trimestrais, o PIB fecha o ano em aceleração.
A revisão em alta não se cinge, contudo, ao PIB de 2019, a revisão agora efetuada tem também impacto significativo no valor finais de 2018. Afinal, o PIB em 2018 não cresceu 2,4% mas antes 2,6% em volume. A estimativa em valor também cresceu mais do que apurado até aqui passando para 4,3%.
Note-se que é sobre o crescimento em valor (ou nominal) que se calcula o peso da dívida pública no PIB pelo que se espera que este indicador assinale uma queda significativa no conjunto do ano 2018 e 2019, dado que a dívida pública está a crescer mais lentamente que o PIB de forma consecutiva há vários anos.
Porque esta revisão em 2018 e 2019?
São recorrentes a revisões dos valores do PIB e são mais frequentes as revisões em alta. Este é um tema que já abordámos anteriormente no Economia e Finanças e que agora conta com mais um exemplo que reforça o viés no sentido das estimativas iniciais serem “conservadoras” para depois serem corrigidas em alta.
A principal justificação apontada pelo INE para esta revisão em alta refere-se a uma revisão significativa da Balança de Pagamentos (informação produzida essencialmente pelo Banco de Portugal) que aponta agora para um cenário mais benigno do que o indicado ao longo do ano em especial nas Balança de Serviços (o saldo entre exportações e importações de serviços foi melhor em 2018 e 2019 face a uma versão anterior da Balança de Pagamentos).
Eis a justificação completa patente no destaque do INE:
“Os resultados provisórios de 2018 foram revistos devido sobretudo à incorporação de informação atualizada da Balança de Pagamentos, publicada no passado dia 19 de fevereiro pelo Banco de Portugal. A nova versão da Balança de Pagamentos, relativamente à publicada no mês anterior, representou uma reavaliação da Balança de Serviços de 511,8 milhões de euros no ano de 2018 e de 873,1 milhões de euros nos meses de janeiro a novembro de 2019.
Assim, as contas agora publicadas têm implícita uma revisão em alta de 0,2 p.p. das taxas de variação em volume e em valor do PIB em 2018, para 2,6% e 4,3%, respetivamente, em relação às estimativas divulgadas em 23 de setembro de 2019. Esta nova informação implicou também uma revisão em alta de 0,2 p.p. da variação em volume do PIB em 2019 indicada na Estimativa Rápida para o 4º trimestre de 2019.”
Sobre o PIB de 2019…
O INE sublinha que:
“Em 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,2% em volume, menos 0,4 pontos percentuais (p.p.) que no ano anterior. A procura externa líquida registou um contributo de -0,6 p.p. para a variação em volume do PIB (-0,4 p.p. em 2018). O contributo da procura interna diminuiu para 2,7 p.p. (3,1 p.p. em 2018), refletindo o crescimento menos intenso do consumo privado. Em termos nominais, o PIB aumentou 3,9% (4,3% em 2018), tendo atingido 212,3 mil milhões de euros, enquanto o Saldo Externo de Bens e Serviços representou 0,1% do PIB (0,4% em 2018).”
Mais detalhes no INE.