Sugestão de leitura “BCE nacionaliza riscos mas mutualiza lucros” por Rui Peres Jorge, no Negócios.
Um excerto:
“(…) A arquitectura do programa de alívio quantitativo anunciado a 22 de Janeiro pelo BCE coloca o risco de 91% da dívida pública adquirida no respectivo país. Já os lucros que o BCE vier a realizar com os juros associados às obrigações serão distribuídos por todos, de acordo com a participação de cada Estado-membro no capital do banco central.
No programa apresentado pelo BCE, 12% das compras serão de títulos de dívida de instituições europeias que terão risco mutualizado, a que se somam 8% de dívida soberana que ficará no balanço do BCE. Estes 20% das compras serão assim sujeitos à habitual mutualização de risco da política monetária, que respeita o peso de cada país no capital do BCE, com Alemanha (25,7%) e França no topo (20,3%) e Portugal numa posição modesta (2,5%). Já o risco dos restantes 80% das aquisições, dedicados a dívida pública, ficarão com cada banco central.
Como explica Marco Annunziata, economista-chefe da General Electric, numa análise publicada no Voxeu, isto significa que “por cada 100 euros de compras adicionais, 88 euros serão obrigações de governos e agências públicas, o que descontando os 8 euros que ficarão com o BCE, deixa 80 de 88 euros como risco para os bancos centrais nacionais”. Contas feitas: “isto implica que 91% das obrigações soberanas e de agências públicas não serão sujeitas a partilha de risco”. (…)”
Ou seja, a fração mutualizada do programa de Quantitative Easing é simbólica (9%) mas os juros não o são pois a totalidade reverte para o BCE que depois distribui lucros segundo a chave de capital de cada país (cerca de 2,5% cabem a Portugal). Na prática Portugal pagará juros a quem não corre o risco associado ao crédito e quem corre o risco receberá muito pouco dos juros. Inovação financeira feita no BCE para encontrar consenso.