A ler “Querer sair do Euro é um desejo mortal?“” por Rui Manuel Cerdeira Branco no Adufe. Um excerto:
” (…) Sair do Euro, renegociar a dívida, reformar o sistema político, ajustar o papel do Estado numa perspetiva estratégica e, muito provavelmente, assumir um regime de exceção temporário, ainda que duradouro, que viole regras importantes em vigor na União Europeia, poderá fazer parte do cenário político mais razoável a breve prazo.
Em bom rigor, controlamos muito poucas variáveis do nosso destino e podemos fazer pouco (ainda que mais do que temos feito) a nível europeu para que se retome a construção do edifício incompleto cujas lacunas, em boa parte, aqui nos trouxeram. E se, tal como um eleitor descrê de um político que não o convence da justificação para um sacrifício, nós, como povo, não descortinarmos como o plano imposto se integra no mapa que seja o do rumo para um futuro melhor? Que mais fazer se não procurar alternativas que, pelo menos a prazo, no deem garantias de atingir esse mesmo futuro que nos foge?
Com as cartas que temos em cima da mesa, a que podemos juntar algumas premissas habituais que ditam o comportamento humano, dos políticos de conjuntura e dos Estados, não consigo deixar de acreditar que hoje, o cenário mais provável e desejável, a prazo, poderá não andar longe daquele que procuramos a todo o custo evitar. A escolha corre o risco de ser tragicamente facilitada pela inevitabilidade das consequências da persistente estupidez.
Se chegarmos ao cenário que, institucional e formalmente nos afastará mais do sonho antigo, quererá isso dizer que a União Europeia acabou ou nós para ela? Quererá isso dizer que regressaremos ao orgulhosamente sós? Perante a alternativa, acredito que será a que melhor poderá preservar qualquer esperança de que se retome o projeto Europeu. Algo que manifestamente enfrenta as consequências de graves erros de que até hoje não se soube desenvencilhar. Se não o soubermos fazer em conjunto, a via das pedras, tomada por um povo soberano, poderá vir a ser a única verdadeira esperança de sobrevivência do projeto europeu. De resto, não consta que o destino final de qualquer (historicamente) corriqueira reestruturação da dívida conduza inevitavelmente o respetivo povo a uma temível e duradoura lógica isolacionista.
Estar com a União Europeia, nunca poderá ser sentido como pior do que não estar. Será esse o patamar contra o qual deveremos, a cada dia, apreciar a nossa posição no tempo e no modo. De preferência conseguindo realizar essa avaliação indo além do que temos à frente do nariz, mas sem esquecer o que temos na barriga.”