No início de Maio houve uma queda abrupta (flash crash) no mercado de acções americano que levou a autoridade de supervisão local a impor suspensões travão quando e se houvesse títulos a cair abruptamente em poucos minutos. O limiar foi fixado nos 10% de variação se ocorrerem num espaço de 5 minutos, entrando em funcionamento apenas algum tempo após o início de cada sessão.
Na altura, perante a perplexidade do evento se cogitou ter-se tratado de erro humano no lançamento de algumas ordens. Alguns disseram que podia não ser isso. Segundo o Negócios, anteontem o Citigroup caiu em poucos minutos cerca de 17% no mercado americano e não terá caído mais porque entrou em acção o referido travão. Há alguns dias havia sido a Boeing a cair 44% em pouco tempo sem que tivesse surgido nova informação sobre o título. E meio do mês havia sido o Wall Street Journal que disparara 99%. Afinal o que se está a passar?
Pesquisando o assunto, a justificação parece assentar nos interesses de quem está por trás de uma das coqueluches tecnológicas do mercado que ganha crescente visibilidade: os high frequency tradings (Transacções de alta frequência). Ora façam o favor de espreitar este artigo do Investment News “High-frequency trading merits close examination”.
Em resumo e para os não anglófonos, as transacções de alta frequência são uma mecanismo que alguns operadores usam para ganhar vantagem sobre os demais, explorando os nanosegundos extra de velocidade na colocação de ordens que lhes são dados pelos supercomputadores que usam, devidamente programados com algoritmos que exploram diferenças de preços ao instante. Se no momento A por uma fracção de segundos que seja, há quem esteja disposto a pagar mais do que o que outro está disposto a vender pode haver uma oportunidade de negócios para quem compre por um pouco menos e venda por um pouco mais, dentro do intervalo inicial que eram as pretensões do vendedor e do comprador. A rapidez é crucial para se poderem aproveitar estas potenciais migalhas que multiplicadas por milhões de negócios geram receitas importantes.
Uma visão benemérita deste negócio atribui-lhes, tal como à especulação, uma função de provedor de liquidez ao mercado. Ou seja, estes actores estão sempre atentos a oportunidades e estão sempre disponíveis para comprar e vender facilitando aos investidores de longo prazo poderem desfazer-se dos seus títulos sempre que vão ao mercado. Uma visão menos ortodoxa denuncia estes operadores como os responsáveis pelas quedas abruptas das acções que referimos no início. Segundo o artigo citado, afinal estes high frequency traders ao desligarem as máquinas momentaneamente (se for da sua conveniência) podem fazer desaparecer num ápice aquilo que parecia ser um movimento de procura e oferta sustentado para um título. Se deixam de comprar os títulos podem colapsar. Se deixam de vender, podem disparar. Haverá aqui margem para uma acusação de abuso de mercado promovida por uma espécie de adição artificial que atinge volumes astronómicos movimentados? Isso são preocupações para os reguladores e supervisores, o que é certo é que, como as coisas estão, do ponto de vista do pequeno investidor, os mercados andam a ser frequentados por seres muitos estranhos e em número e dimensão crescente ao ponto de, a ave rara, ser cada vez mais ele, o pequeno investidor, que deverá perguntar se tais mercados serão locais saudáveis que mereçam a sua presença, pelo menos como investidor directo de títulos.
Era uma vez um mercado onde se emprestava dinheiro a uma empresa acreditando que o seu crescimento e desempenho iriam ser decisivos para a valorização do dinheiro investido.