Peso do emprego público no emprego total 2011 a 2025

Faltam 224 000 empregados no Estado para atingir a média da OCDE

Em dezembro de 2011, poucos meses depois da entrada da troika em Portugal, por cada 100 empregados no país, havia quase 16 empregados que tinham o Estado como entidade patronal (15,8 para ser mais preciso).

Nestes números incluíam-se (e incluem-se) não só os funcionários públicos como também outros empregados como os que têm contratos individuais de trabalho com o Estado. Abrangem ainda tanto a administração central como a local (autarquias) e regional (autonomias).

Com os novos dados disponíveis, divulgados tendo por referência o 3º trimestre de 2025, neste artigo, vamos tirar teimas quanto à evolução recente do Estado (é hoje maior, menor?) e vamos, estritamente centrados nos dados, estimar qual deveria ser a dimensão da força de trabalho do Estado para que este estivesse alinhado com o que já foi no passado em três cenários:

  • pré-troika;
  • seguir a média da OCDE; e
  • considerar um referencial pós-troika registado antes de se iniciar o colapso em curso nos últimos 18 meses (em termos do seu peso no emprego total).

Assim, abordaremos:

Estado perdeu 78 000 funcionários entre 2011 e 2015

Avançando quatro anos, chegados ao fundo dos efeitos contracionistas dos acordos com a troika, o país tinha perdido cerca de 80 mil empregos públicos (passando de 727 294 em dezembro de 2011 para 649 450 em setembro de 2015, uma redução de 78.000). No fim desse 3º trimestre de 2015, há exatamente 10 anos, o número de funcionários do Estado tinha caído para pouco mais de 14 por cada 100 empregos existentes no país (14,2 por 100 para ser mais rigoroso).

Estado recuperou 110 000 funcionários entre 2015 e 2025 mas…

Com a divulgação dos dados do 3º trimestre de 2025 pudemos comparar o momento atual com o que se passava há 10 anos e constatámos alguns factos.

Entre 2015 e 2025 (final de setembro) o número de empregados no sector das administrações pública passou de 649 294 para 759 402, um aumento líquido de 110 108 indivíduos.

… peso no emprego total estagnou comparando 2015 com 2025 e…

No entanto, se calcularmos qual o peso dos empregados do Estado no total de empregados no país em setembro de 2015 e em setembro de 2025 chegamos ao mesmo exato número: havia e há 14,2 empregados do Estado por cada 100 pessoas empregadas em Portugal.

Ou seja, o número de funcionários públicos já mais do que recuperou da redução, registada com a troika, sendo o total em cerca de 110.000 face há 10 anos e superior em cerca de 30 mil face ao final de 2011.

Outro número, não menos relevante, é de que apesar dessa subida, há hoje a mesma exata proporção de pessoas empregadas para o Estado face ao emprego total que havia há 10 anos, merecendo destaque adicional que a proporção de há 10 anos era historicamente baixa.

Tudo isto é possível porque a população empregada tem estado a bater recordes sucessivos nos últimos anos. Bem como a população residente que o Estado deve servir.

Peso do emprego público no emprego total 2011 a 2025
Peso do emprego público no emprego total 2011 a 2025
Fonte: DGAEP e INE. Gráfico E&F

… tem estado a cair a um ritmo acelerado desde meados de 2024

Como já referimos, um outro aspeto que determinámos depois de mergulharmos um pouco mais nos dados oficiais é que a proporção existente de empregados do Estado no emprego total (a tal que é igual à de há 10 anos), é historicamente baixa (ver gráfico). Ou seja, estamos a comparar a proporção atual com um valor de há 10 anos que era ele próprio consequência de uma forte contração do emprego público face ao emprego total.

É preciso recuar a março de 2019 para encontrar um valor tão baixo. De então para cá, o peso subiu com as necessidades de combate ao COVID (e alguma contração do emprego nesse período) mas acabou por se ajustar em torno dos 15% – bem acima dos 14% – durante largos trimestres, mesmo após o COVID, para ter começado a cair de forma cada vez mais rápida desde meados de 2024.

Peso do emprego público em Portugal claramente abaixo da média da OCDE (2023)

Em junho de 2025, a OCDE divulgou uma nova edição do Government at a Glance 2025 com dados até 2023 para os mais de 30 países que pertencem a esta instituições, nos quais se inclui Portugal.

As definições utilizadas para os conceitos de emprego são um pouco diferentes, mas sendo usadas de igual forma para todos os países é possível realizar comparações adequadas. Para os propósitos deste artigo, destaca-se que Portugal regista uma proporção do emprego público no emprego total claramente abaixo da média de toda a OCDE (dados de 2023).

O número apurado pela OCDE para Portugal foi de 15%, muito em linha com o que estimámos e apresentamos no gráfico anterior para 2023. Entretanto, como já referimos, o peso está a descer desde meados de 2024, provavelmente afastando-nos da média ainda mais.

Note-se que a economia portuguesa tem registado um comportamento atípico face à maior dos seus principais parceiros nos últimos anos, com crescimento acima da média suportado, entre outros, mas com grande destaque, pelo turismo e por um forte afluxo de imigrantes que têm impedido um sobreaquecimento e estagnação da atividade económica em vários setores.

Portugal surge como PRT no gráfico em baixo.

Emprego publico no emprego total Paises OCDE 2023
Emprego publico no emprego total Países OCDE 2023
Fonte: Government at a Glance 2025

Quem quiser ir um pouco mais além sobre o que a OCDE apurou sobre Portugal pode ler as páginas dedicadas ao nosso país aqui (Government at a Glance 2025 – Portugal).

 

Quantos empregados deveríamos ter no Estado para manter o peso que este já teve no emprego total?

Regressar ao pré-troika:

  • Para termos o mesmo peso de emprego do Estado no emprego total que havia no final de 2011 (ou seja, para a proporção ser de 15,8%) teria de haver  845 000 pessoas a servir no Estado, ou seja, mais 86 000 do que as que há hoje.

Regressar ao pós-troika antes do colapso em curso:

  • Se considerarmos esse valor excessivo e tomarmos por mais adequado uma proporção de 15%, ainda assim, o número de empregados do Estado deveria subir significativamente para os 802 000. Ou seja, 52 000 acima do contingente atual.

Usar a média da OCDE como referencial:

  • Se o referencial a seguir fossem os valores médios da OCDE mais recentes então teríamos de contar com cerca de 18,4% de emprego público, o que levaria a dimensão de referência para 983 000, ou seja, aproximadamente mais 224 000 empregados do Estado do que os que temos hoje.

Conclusão:

224 mil, 86 mil ou 52 mil. Dependendo do cenário de referência, do nível de serviço desejado e do nível de investimento coletivo que se pretenda dedicar.

Do estudo realizado não nos parece viável imaginar como compatível assegurar uma manutenção do serviço com uma redução do número de funcionários que leve o peso do emprego público para um nível ainda inferior.

Mesmo admitindo melhor gestões e novas tecnologias que, certamente, já estarão de alguma forma disponíveis no conjunto dos países da OCDE. em média um pouco menos envelhecidos do que Portugal.

A última nota é mesmo para recordar que, volvidos 15 ou mesmo 10 anos, a população portuguesa, mesmo com o influxo de imigrantes em idade ativa, continua a envelhecer rapidamente, sendo hoje das mais idosas do mundo.

Por outro lado, pode haver oportunidades de inovação tecnológica que auxiliem numa gestão mais produtiva para o mesmo número de empregados, mas que dificilmente deixarão de implicar um reforço do investimento, pelo menos até à consolidação dessas tecnologias. 

Para reflexões sobre este último ponto recomendamos o artigo de opinião: Quanto vale um euro (des)investido em saúde?

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