População residente em Portugal bate recorde absoluto em 2023

Durante muitas décadas Portugal foi um emissor líquido de emigrantes (saiam mais pessoas a título permanente para irem viver noutros países do que entravam). Raramente Portugal conseguia fixar a população estrangeira que por cá passava. Mas desde há sete anos, esse cenário mudou. Assim, a população residente em Portugal bate recorde absoluto em 2023: 10.639.726 pessoas.

Hoje, ao contrário do que as projeções demográficas de há 10 ou 20 anos indicavam, a população residente em Portugal está a reforçar-se, apesar de ainda estar a envelhecer.

Migração com saldo positivo há sete anos seguidos

De facto, desde 2012 Portugal consegue fixar em Portugal mais pessoas do que as que decidem sair do país. Isto resulta de dois efeitos combinados. Por um lado, o ritmo de saídas abrandou significativamente depois de ter sido muito elevado entre 2012 e 2014. E, por outro, e mais importante, porque começou a atrair um volume crescente de imigrantes. Em 2019 e 2021, foram cerca de 100.000 e, em 2022 e 2023, a fasquia superou os 150 mil. Finalmente, no ano de 2023 o valor aproximou-se dos 200.000 novos residentes. Entre estes podem estar estrangeiros mas também regressos de portugueses.

Com isto, há sete anos consecutivos que Portugal regista um saldo positivo do saldo migratório. Segundo o INE, em 2023, entraram 189 367 imigrantes permanentes e saíras 33 666 emigrantes permanentes. O saldo foi assim positivo em 155 701 indivíduos, o mais elevado observado nos últimos 10 anos e certamente um dos mais elevados de sempre, apenas superado pelo processo de regresso das ex-colónias na segunda metade dos anos de 1970.

Fizemos um exercício simples de apurar qual a média anual de saídas de emigrantes permanentes entre 2012 e 2016 (5 anos) e entre 20119 e 2023 (5 anos) e apurámos que no primeiro quinquénio, o valor médio de saídas permanentes foi de 46.793 tendo sido de 28.761 no quinquénio mais recente (com 33.666 em 2023).

O INE apura ainda as saídas temporárias, emigração não permanente e neste indicador registou-se o valor máximo em 2014 com 85.052 indivíduos e o valor mínimo em 2022 com 40.763. Em 2023 foi de 47.760.

Ou seja, 2023 foi um ano de reforço da emigração permanente e não permanente, mas também, e principalmente, de forte reforço das imigração destinada a Portugal.

Atividade económica e aumento da projeção de Portugal “puxa” por números dos imigrantes

Este ganho de atratibilidade de Portugal sucede ao mesmo tempo em que Portugal regista taxas de desemprego histórica e persistentemente baixas. Provavelmente, este afluxo terá respondido a necessidades importantes de recursos humanos para os setores da restauração e hotelaria, mas também para áreas das indústrias digitais, para a agricultura, construção, serviços pessoais ou prestados às famílias, entre outros.

É ainda possível que no futuro próximo existam necessidades importantes de mão de obra adicionais em vários setores. Na realidade, adivinham-se necessidades importantes de reforço da força de trabalho para dar sequência a grandes obras públicas, projetos agro-industriais e projetos de reindustrialização nacional, em especial nas áreas da energia, química, indústria extrativa,  metalúrgica e indústria transformadora em geral.

Vale a pena recordar o artigo: “Nunca houve tantos empregos em Portugal: mais 97,8 mil empregos em janeiro de 2024“.

População residente em Portugal bate recorde
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Saldo natural é cada vez menos negativo

Outro dado revelado pelas Estimativas de População Residente de 2023 apresentadas pelo INE é o registo do segundo ano consecutivo em que o saldo natural é menos negativo.O saldo natural apura nascimentos menos óbitos. De 2022 para 2023, o saldo natural foi menos negativo em cerca de 8.000 pessoas.  Esta evolução deveu-se ao aumento dos nascimentos (mais 6.117 por ano quando comparamos 2021 com 2023) e à diminuição dos óbitos (menos 6.546 por ano quando comparamos 2021 com 2023).

 

Esperança de vida, envelhecimento e outras notas

No triénio terminado em 2023, o indicador de esperança de vida à nascença regressou ao perfil de aumento (81,17 anos) que havia interrompido à conta do impacto do COVID durante os dois anos anteriores. A população como um todo envelheceu mais um pouco, com a idade mediana a fixar-se nos 47,1 anos. A idade mediana é aquela abaixo/acima da qual está 50% da população. O  índice de envelhecimento voltou a aumentar para 188,1. Ou seja, para cada 100 pessoas com 0 a 14 anos, há 188,1 pessoas com 65 e mais anos no país.

Estas estatísticas da população residente não nos dão o impacto da população imigrante neste indicadores. Contudo, é sabido que a idade mediana dos imigrantes é muito inferior à dos residentes. É assim razoável antecipar que sem o saldo migratório positivo dos últimos anos, a população residente seria muito mais envelhecida. Por outro lado, a população ativa e empregada seria significativamente menor. E, finalmente, o número de nascimentos igualmente inferior.

As últimas curiosidades estatísticas prendem-se com o facto de em 2022 e 2023 a idade média da mulher ao nascimento do primeiro filho ter diminuído. Uma diminuição ligeira, ainda para os 30,1 anos mas significativa por ser inédita em muitos anos. E ainda com o facto de o índice sintético de fecundidade ter atingido o valor mais elevado desde, pelo menos 2012 (1,44).

Para este fator devem estar a contribuir, tanto a maior estabilidade relativa das condições da população face ao período da pandemia (com algumas gravidezes adiadas a terem agora a oportunidade de se juntarem a gravidezes “normais” para a idade) como o afluxo de imigrantes jovens que estarão a repor alguma da população em idade fértil perdida para a emigração, em especial nos anos de 2012 a 2016.

Em suma, a população residente em Portugal bate recorde com vários outros recordes em simultâneo, desde o número de imigrantes a entrar até ao número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil.

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