Uma empresa vale o que pagarem por ela. Esta á uma realidade que ainda assim costuma “esconder” uma história geralmente muito interessante. Qual é a valorização da TAP atualmente?
Antes de se fazer qualquer negócio é necessário avaliar ativos, passivos, projeto, perspetivas futuras, enquadramento do setor, resultados passados, acesso à dívida, necessidades de investimento urgente, número de interessados na compra, eventuais sinergias para cada um dos potenciais compradores, o ambiente social na empresa, a capacidade de valorização e promoção do negócio pelo vendedor, o valor das ações em mercado se for uma sociedade cotada. Enfim, um número vasto e complexo de variáveis no qual o “house staging” em preparação da venda não é irrelevante.
Ter um vendedor a anunciar publicamente restrições à sua margem de negociação traduzidas por exemplo em declarações com o” é para vender até à data x ou y” são geralmente um imenso disparate. Tal como antecipar se se “tem de vender” 100% ou 50% ou 5%. Tudo que o que seja revelar “o jogo” corre o risco de ajudar o comprador a obter um melhor negócio. O segredo é a alma do negócio é outro dos mantras que não convém ser desprezado, dentro dos limites impostos pelas regras de transparência, naturalmente.
Certo é que um mesmo bem ou produto não vale necessariamente o mesmo para todos os compradores e que o valor final resultará sempre de uma negociação. O valor não é determinado nem pelo comprador, nem pelo vendedor, mas por ambos com o contributo de reguladores, concorrentes e até outros atores menos óbvios.
Pode a TAP valer €3,9 mil milhões?
O jornal online ECO utilizou várias metodologias e opiniões num exercício simplificado de apuramento do intervalo de valores razoáveis para a TAP seguindo algumas das metodologias mais comuns de valorização de empresas e recorrendo como dissemos a algumas opiniões de especialistas. O pretexto é uma alegada proposta de €200 milhões por 19,9% do capital social da TAP feita pela Lufthansa.
Numa conta de regra três simples, se a Lufthansa oferece €200 milhões por 19,9% então a TAP vale €1.000 milhões. Certo?
Mais ou menos, a verdade é que é legítimo associar à aquisição de uma posição de controlo (que 19,9% não confere, de todo), um prémio no preço, logo, não é líquido que os primeiros 19,9% de uma empresa custem o mesmo que os segundos 19,9% ou os terceiros 19,9%.
Será prudente dizer em vez disso que a Lufthansa avalia a TAP em mais de €1.000 milhões.
Qul foi a amplitude de valores a que se chegou para colocar na avaliação da TAP?
Dependendo da metodologia há avaliação chegou a valorizações tão pequenas quanto €400 milhões (o que a fazer fé na alegada proposta da Lufthansa fará pouco sentido) até avaliações que apontam para valores máximos de:
- €2,63 mil milhões (seguindo múltiplos do enterprise value sobre o EBITD),
- € 2,36 mil milhões (seguindo múltiplos do enterprise value sobre o EBITD mas descontando a dívida líquida),
- € 2,9 mil milhões (seguindo um múltiplo da faturação),
- €3,8 mil milhões (seguindo múltiplos do enterprise value sobre o EBITDA de companhias europeias mais pequenas) ou, finalmente,
- €3,9 mil milhões (seguindo múltiplos do enterprise value sobre as vendas de companhias europeias mais pequenas)
No final, o engenho e arte do negociador será importante, além, naturalmente, do desempenho efetivo da emprea e da saúde do próprio setor.
Recorde-se que o Estado Português detém hoje a TAP a 100% após ter desenhado um plano de reestruturação da empresa com o acordo da Comissão Europeia, no processo do qual investiu €3,2 mil milhões de euros (curiosamente um valor muito próximo do ponto médio das cinco avaliações acima reproduzidas). A empresa não faliu, manteve a maior parte da força de trabalho, da frota e dos slots de operações, permitindo-lhe concretizar um plano viável de negócio.
A empresa é hoje a maior exportadora de serviços do país e mantem uma rede de fornecedores nacionais vasta que alimentam o seu hub sedeado no Aeroporto Internacional de Lisboa, operando voos diretos para a América do Sul, América do Norte, África, Ásia e Europa. A TAP começou a gerar lucro alguns anos antes do projetado no plano de reestruturação.