Numa entrevista recente dada a um órgão de comunicação alemão, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, levou bastante mais longe o diagnóstico e a análise sobre as opções em cima da mesa, por parte do BCE, quanto ao combate à inflação. Sugerimos a leitura deste artigo em conjugação com a nossa peça recente: “Taxas de juro da dívida vão subir mas não é motivo para alarme“.
Controlar a inflação na Europa: Duas causas fundamentais da inflação
Quanto ao diagnóstico, Lagarde identifica duas causas fundamentais para a inflação, ambas exógenas à União Europeia: a subida dos preços da energia por condicionamento da oferta (que não retomou, anda, os níveis pré-pandemia, por interesse particular dos produtores) e os problemas na cadeia logística e de oferta de certos bens e consumos intermédios de origem externa (como os famosos chips).
Para ambas as situações Lagarde defende que a política monetária, a principal “arma” do BCE, não apresenta qualquer eficácia no sentido de reduzir o ritmo de subida de preços. A consequência mais natural de uma política monetária contracionista seria acrescentar um choque ao que é já um choque externo muito perturbador, vindo do exterior.
A economia europeia não está sobreaquecida como a dos EUA ou a Britânica
Mas a este diagnórico e análise Lagarde acrescenta outro fator que contribui de forma decisiva para que o BCE tenha especiais cautelas no desmantelamento da sua política monetária dos últimos anos: a economia Europeia, ao contrário da Norte Americana onde a Reserva Federal irá fazer já várias subidas das taxas de juro, não está sobreaquecida.
O que quer isto dizer? Que nos EUA a economia já recuperou para níveis de produção pré-pandémicos e já os superou largamente encontramdo-se a operar acima da sua capacidade instalada o que gera, por si só, tensões muito grnades no sentido de haver uma corrida aos recursos sejam eles humanos ou outros, induzindo uma subida generalizada de preços a que se soma a também promovida pela subida dos preços dos combustíveis e a oriunda dos problemas da cadeia logística.
Quer também dizer que, na opinião do BCE, a generalidade da economia da Zona Euro e da União Europeia está longe desse pleno emprego dos recursos, pelo que, restringir o acesso ao capital, à moeda, encarecendo o seu uso, ira potencialmente interromper a retoma económica quando ela mal está a começar. As consequências, em vez de benignas, no sentido de controlar a inflação na Europa, poderiam assim desencadear algo bem pior: um processo recessivo de todo indesejável.
A política monetária não é pau para toda a obra e pode estragar mais do que resolver
Largarde reconhece que um pouco mais de metade da inflação que temos na Europa se deve a um único fator que nada tem a ver com o andamento da nossa economia: a subida dos preços dos produtos energéticos.
Adicionalmente, reconhece que a política monetária não inclui instrumentos que possam ter impacto na resolução dos problemas da cadeia logística ainda perturbada pela pandemia. Reconhece ainda que as medidas tomadas pelo BCE; em regras, têm impacto largamente desfasado no tempo, só cerca de 18 meses depois atingem o seu pico de eficácia.
Desmame monetário: gradual, calmo e passo a passo
Perante tudo isto, o BCE irá começar, progressivamente a desmontar alguns dos instrumentos que tem tido em campo no sentido de facilitar o acesso ao dinheiro e o preço do dinheiro. Começando pelos programas especiais criados no âmbito da pandemia e prosseguindo com o “desmame” muito parcimonioso em termos de velocidade face a outros programas do BCE, nomeadamente aqueles que ainda levam o BCE a ser comprador líquido de dívida pública.
Só terminado esse programa de compras líquidas o BCE se virará efetivamente para a hipótese de começar a subir taxas de juro algo que terá de ser analisado e decidido à luz do que, a essa data, “disser” a situação económica europeia e as próprias projeções de médio e longo prazo para a inflação.
Combustíveis vão continuar mais caros mas subiram muito e depressa demais
Lagarde reconhece que os preços altos dos combustíveis face à média histórica estão aqui para ficar mas acredita que a subida for muito expressiva tendo levado os preços para um patamar já de si muito elevado face ao que seria um ponto de equilíbrio necessariamente mais alto, no contexto em que as emissões de carbono têm de ser penalizadas para acelerar a transição energética.
A dimensão da intervenção monetária futura do BCE será condicionada pela transmissão da inflação a outros setores sublinhado até à exaustão que qualquer intervenção do BCE será gradual, feita calmamente, passo a passo, sublinhando que a meta do BCE é agora a de garantir uma inflação fortemente ancorada em torno dos 2%, e não abaixo de 2% como era interpretado até à relativamente pouco tempo e desde a fundação do BCE.
Greenflation não está a conduzir a maior inflação
Lagarde desacredita também a tese de que a inflação está a ser provocada pela transição energética (a greenflation) indicando que todas as medidas de internalização nos preços dos produtos energéticos dos efeitos negativos das emissões de carbono estão a ter um impacto completamente marginal quando estudado todo o fenómeno inflacionista em curso.
Lagarde: exigências salariais em cima da mesa não muito moderadas
Quanto às atualizações salarias, Christine Lagarde não identifica qualquer problema emergente na negociações salarias em curso promovidas pelso sindicatos europeus, esclarecendo que é legítimo e desejável que os salários seja atualziado atentendo à subida de produtividade mas também atendendo às expectativas de médio prazo para a inflação que se encontra, de momento, ancoradas em torno do objetivo de 2% do BCE. Em suma, aumentos a partir de 2% e que só superem esse valor perante aumentos de produtividade não são um tema de preocupação quanto ao combate à inflação. Lagarde afirma mesmo que as exigências salariais que estão em cima da mesa são muito moderadas, não sendo uma ameaça para controlar a inflação na Europa.
Pode ler a entrevista, na íntegra, aqui, em inglês, no sítio do BCE.
Produtividade, com redução de horas de traalho e aumentos de ordenado !? É nefasta ! Combustiveis, aumentam a inflação global e isso aumenta custos de preços ate, nos produtos de primeira necessidade !!! @ dizemos que, fazer omeletes, sem ovos 😉 have a nice week end.