No artigo “Certificados do Tesouro Poupança Valor” demos a conhecer os Certificados de Tesouro com o respetivo nome e, ao longo do texto destacámos, entre outros, algumas semelhanças entre estes e os certificados de aforro. Neste artigo procuramos levar a comparação a um outro nível, de modo a melhor ajudar diferentes perfis de aforradores a ponderarem qual dos produtos de baixo risco melhor se ajusta a cada um.
Certificados do Tesouro ou Certificados de Aforro – semelhanças e diferenças?
Comecemos por recuperar sumariamente a comparação entre as características fundamentais dos Certificados do Tesouro Poupança Valor e os Certificados de Aforro.
Estas diferenças podem levar a que a resposta à pergunta acima colocada seja diferente consoante os interesses de cada aforrador.
Semelhanças: | Diferenças: Os Certificados de Aforro… |
ambos os produtos têm o mesmo nível de risco | têm um período de imobilização de 3 meses (e não de 12 meses como nos de Tesouro) |
ambos são garantidos integralmente pela República Portuguesa e têm remuneração e capital garantido | têm juros que capitalizam (o que não existe nos de Tesouro) |
ambos estão isentos de imposto de selo no momento da herança por herdeiros legitimários | têm juros que são calculados a cada 3 meses (e não anualmente) |
ambos devem ser reclamados até 10 anos a contar da dat de falecimento do titular sob pena de reverterem para o Estado | reagem mais rapidamente às taxas de juro do mercado por estarem indexados à Euribor a 3 meses (o que nos últimos anos não tem sido uma vantagem) |
ambos podem ser subscritos nos CTT, Lojas do Cidadão, AforroNet | têm incorporado um prémio de juro crescente (0,5% do 2º ao 5º ano) e de (1% do 6º ao 10º ano) |
têm uma maturidade mais longa, de 10 anos em vez de 7 anos |
Cenário: Certificados do Tesouro Poupança Valor ou Certificados de Aforro?
Neste artigo optámos por considerar o seguinte cenário para comparar os Certificados do Tesouro Poupança Valor e os Certificados de Aforro:
Um mesmo investidor:
- Tem o mesmo montante para investir em ambos os produtos;
- Tem interesse em efetuar uma aplicação de poupança durante 10 anos. Só ao fim desses 10 anos necessitará do dinheiro de novo para outras aplicações;
- Para facilitar a comparação vamos assumir que tal como nos Certificados do Tesouro há entrega de juros anuais, nos Certificados de Aforro o investidor opta para levantar, em cada ano, um número de certificados equivalente ao juro obtido de modo a manter constante o montante investido (não capitalizando assim os juros);
- Este investidor pretende correr o menor risco possível com este investimento/poupança.
Face a este cenário o investidor sabe desde já que os Certificados do Tesouro não lhe permitirão obter retorno durante todo o período, pois atingem a maturidade ao fim de sete anos. Assim, decide ao fim dos sete anos voltar a investir o capital em Certificados do Tesouro durante mais três anos. Para efeitos da simulação vamos assumir que ao fim desses sete anos existirá um produto de Certificados do Tesouro igual ao que existe hoje, o que, não sendo certo, é uma hipótese que nos parece razoável.
Certificados de Aforro passaram a ser mais competitivos mas nem sempre…
No gráfico seguinte temos a comparação do retorno que se obterá em cada ano para cada produto. As barras a cinzento revelam a diferença. Quando o valor é positivo a vantagem vai para os Certificados do Tesouro Poupança Valor, quando é negativo, vai para os Certificados de Aforro.
O gráfico em cima não apresenta o ganho acumulado, mas apenas as diferenças em cada ano, contudo, é evidente que, dependendo do horizonte temporal do investimento, a recomendação pode ser mais favorável aos Certificados de Aforro ou aos Certificados do Tesouro.
Por exemplo, para uma aplicação só por um ano, os Certificados do Tesouro oferecem maior retorno (+0,25 pontos percentuais antes de impostos), mas se o investimento for por três anos, já serão os Certificados de Aforro os mais interessantes com um ganho (antes de impostos) de 0,15 pontos percentuais. A menos que, no 3º ano, o primeiro em que os Certificados do Tesouro podem ter um prémio associado à evolução do PIB, esse prémio supere os 0,15 pontos. Assim, se o PIB tiver um crescimento real superior a 0,75%, o prémio será superior a esses 0,15 e este passa a ser o produto mais vantajoso.
No conjunto dos sete anos, a vantagem será dos Certificados de Aforro a menos que, mais uma vez, o prémio associado ao PIB (20% do crescimento médio real do PIB a preços de mercado) supere os 0,15 pontos percentuais que são a vantagem acumulada na taxa fixa atribuível aos Certificados de Aforro. Ou seja, se em algum dos anos a seguir ao segundo, o PIB superar um crescimento real de 0,75%, os Certificados do Tesouro serão mais interessantes.
A 10 anos, se olharmos apenas para as taxas de juro garantidas (ignorando o prémio potencial do PIB), a opção de reinvestir nos Certificados do Tesouro após se ter atingido a maturidade do primeiro investimento no sétimo ano, não é concorrencial com as maiores taxas de juro dos Certificados de Aforro que atingem o pico precisamente na segunda metade da década (período onde já beneficiam da majoração do prémio de permanência). Contudo, é preciso sublinhar, mais uma vez, que as contas não são definitivas, dado que há um fator variável presente nos Certificados do Tesouro, a partir do 3º ano, associado à evolução do PIB; os tais 20% de prémio da taxa de crescimento real do PIB (num máximo de 1,5 pontos percentuais).
A vantagem dos Certificados de Aforro nas taxas fixas ao longo de 10 anos será assim de 2,3 pontos percentuais de juro. Para que os Certificados de Tesouro fossem mais interessantes a 10 anos, remunerando mais, seria necessário que o PIB nos 6 anos dos 10 em que haveria prémio associado ao PIB, crescesse, em média, pelo menos 2% em termos reais em cada ano.
Conclusão: Certificados do Tesouro Poupança Valor ou Certificados de Aforro?
Qual a melhor opção? Bom depende de qual o grau de confiança que o investidor terá que o PIB português tenha um ganho consistente igual ou superior a 2% em termos reais (ou seja, descontado o efeito de preço). Se acreditar que esse cenário é verosímil, os Certificados do Tesouro serão sempre a melhor escolha para investimentos acima dos 2 anos de duração. Se, pelo contrário, não está confiante, já é mais difícil definir qual a melhor opção, sendo que, quanto menor a crença em crescimentos positivos do PIB português, mais próximo o investigador fica de ter os certificados de Aforro como a sua melhor opção.
Há aqui um outro fator importante que não temos referido, essencialmente porque nos últimos anos tem tido um comportamento estável: a euribor.
A verdade é que os Certificados de Aforro estão indexados à Euribor a 3 meses que há vários anos tem sido negativa e tem apresentado oscilações menores. Naturalmente, se a euribor começar a subir, os Certificados de Aforro refletirão muito rapidamente essa subida (as taxas dos certificados de Aforro são revistas todos os meses), ganhando competitividade.
Em suma, as expectativas do aforrador quanto à evolução do Euribor, são também um fator importante a ponderar na escolha. Se achar que vão subir na próxima década e acima do próprio PIB, então os Certificados de Aforro serão mais atraentes e ajustados para esse investidor. Se confiar que se manterão deprimidas ou poderão até ainda descer mais, os Certificados do Tesouro revelar-se-ão mais interessantes.
Como em todos os produtos financeiros, também nos Certificados do Tesouro e de Aforro, o perfil de risco do investidor, a sua disponibilidade para prescindir de liquidez (o tempo que está disposto não movimentar o seu dinheiro) e as suas próprias expectativas e interesses quanto à evolução de variáveis importantes do mercado são determinantes para verificar qual o produto que mais se lhe adequada.
O cenário que aqui expusemos, mais do que dar uma resposta definitiva a uma pergunta, procura alertar o aforrador para os vários aspetos sobre os quais deverá refletir para tomar uma decisão informada.
A reposta à pergunta poderá e deverá, assim, ser diferente de tipo de aforrador para tipo de aforrador, não havendo uma resposta certa ou errada em termos absolutos. Em alguns casos as melhor opção será subscrever Certificados do Tesouro, noutros Certificados de Aforro.
A principal evidência que crêmos incontestável com o surgimento dos Certificados do Tesouro Poupança Valor é que eles vieram recolocar os Certificados de Aforro mais dentro da corrida pela poupança dos cidadãos, pois, em termos relativos, são menos vantajosos dos que os Certificados do Tesouro Poupança crescimento que vieram substituir.