Consegui a sua atenção? Correndo o risco de a maioria só se ficar pelo título vamos a isto: imagine que tínhamos esta notícia para dar: “Estado gasta milhões em carros novos”. Atrevia-se a dar opinião com base nisto? Provavelmente sim, alguns talvez não, talvez dissessem que precisavam de mais informação, poucos.
Agora imagine que os carros novos substituem carros velhos, com centenas de milhar de quilómetros. E imagine que os carros velhos custam em manutenção duas ou três vezes o que custam os carros novos, apenas no período de um ou dois anos de faturas de oficina.
Sabendo isto, a decisão racional e mais defensiva do interesse público a ser tomada pelo executivo seria desfazer-se dos carros velhos e comprar carros novos.
Mas imagine que por mais racional que seja a decisão e mais económica para o Estado, o executivo – que é eleito e que depende, portanto da opinião dos eleitores – sabe que se comprar carros novos vai ter de apanhar com várias manchetes como “Estado gasto milhões em carros novos”. E imagine que o político também sabe que há muitas pessoas que só leem os títulos e que, mesmo para as que leem a notícia completa, não há garantia de o jornalista explicar que a compra até pode ser uma forma inteligente de poupar dinheiro.
Perante isto, o que acha que fará a maioria dos políticos?
O que acha que se deveria fazer?
Continua a pensar da mesma forma como pensou quando viu o título “Estado gasta milhões em carros novos”?
Ter capacidade crítica dá trabalho, fazer bom jornalismo também, governar bem com os incentivos errados é imensamente mais difícil. Comunicar bem e ter boa informação independente não é uma peça menor na engrenagem que nos permite ter uma boa democracia.
Não sendo suficiente, convém deixar de ler só os títulos. Depois, convém pensar um bocadinho para além da informação que nos é oferecida e não ter medo de coçar a cabeça e de perguntar.
Cuidado!
Rui Cerdeira Branco
“Estado optou por viaturas de 30.000eur em vez dos habituais topos de gama de 150.000eur” – Isso é que eu gostava de ler, e não havia motivo para aproveitamento jornalístico. Aliás, suspeito que nem seria notícia.
Devemos ser tão críticos em relação ao jornalismo como em relação às opções de quem usa o dinheiro dos nossos impostos.
Completamente de acordo.
Sem dúvida Jorge!
E se fossem mais baratos que 30000 não lhes ficava nada mal……Os políticos não sabem que há carros usados e baratos..e em bom estado conservação…..
De facto há muita gente que só lê titulos e por vezes em diagonal. Mas como li tudo penso poder dar a minha opinião. Os carros do estado deevriam ser administrados por uma entidade que supervisionasse as manutenções mas também os usos e especialmente os abusos. Ainda há dias, no dia 31 de Maio, cerca do meio dia, fui ultrapassado pela direita, por uma AUDI dos grandes, cheio de strobers azuis, na praça da portagem da A1 em Leiria. Quem era? Para onde ia? Porque ia cheio de pressa para fazer manobras perigososas? Tudo isso conta para a duração das viaturas. Agora que há muitas que precisam de ser substituidas isso é um facto Vejam-se os carros velhos da PSP e da GNR e até as Ambulâncias do INEM. Para isso não há dinheiro a tempo e horas mas para os grandes senhores, que andam sempre atrazados e por isso têm que ultrapassar todas as regras de trãnsito, para esses há sempre dinheiro. Não se lembram daquele aparatoso acidente, há anos na avenida da Liberdade, entre duas viaturas do Estado, com pessoas importantes que iam atrazadas para uma reunião qualquer e afinal foram parar ao hospital?
Ainda sou do tempo em que vi praticamente só carros com muitos kms, foi em Espanha em 1945/50. Nos anos seguintes , nesse país, para se ter um carro novo havia que esperar anos na fila. E porquê? porque não tinha pesetas para gastar. Admito que mesmo mal comparado, a situação em Portugal não seja exactamente a mesma, em Portugal não há dinheiro mas há crédito. Mas se eu sou de opinião que para privados carros de alta cilindrada, em especial desportivos , deviam ainda pagar mais imposto, na função pública, incluindo Governo e afins, deviam ter mais respeito pelos contribuintes, e evitar carros que ultrapassassem determinado valor e cilindrada. Mas um carro de alta cilindrada devia aguentar pelo menos 10 anos, ou 500.000 kms, antes de ser trocado. Talvez assim os motoristas guiassem com mais cuidado (atenção para mim a velocidade , mesmo que abusadora de posições, não é razão para grande desgaste numa viatura de boa cilindrada). Nos carros de serviço, outro tempo, outros kms deviam ser aplicados. E também penalizados condutores cujos carros sofressem mais oficina em cada ano.
Concordo plenamente com as opiniões anteriores. Acrescentaria o seguinte: E se os condutores fossem sujeitos a avaliação do seu desempenho e sofressem penalizações? E se os ocupantes fossem responsabilizados pelo desempenho dos mesmos?
Notícia mesmo seria que: Estado poupa milhões andando de transportes públicos.
Na Alemanha cada um vai no seu carro privado para o parlamento e pagam a gasolina do seu próprio bolso, não são tão chulos como os nossos governantes, mesmo a Merkel o faz.