“Bom dia. Aqui é da CGD e queremos reduzir-lhe a prestação da casa em €118. Parece-lhe bem? Podemos avançar?” Terá sido com uma frase parecida com esta que se iniciou um contacto telefónica entre a CGD e um seu cliente relatada no artigo “Honestidade e boa-fé” do Destreza das Dúvidas e que já chegou às páginas do Diário de Notícias.
Em poucas palavras a CGD tomou a iniciativa de contactar diretamente os seus clientes, por telefone, para alterar as condições dos respetivos créditos iniciando a conversa com o isco e tardando em revelar a verdadeira motivação da conversa. Na realidade, do relato, fica-se com a sensação de que se o cliente, no caso, não fosse particularmente informado e desconfiado, o negócio tinha ficado apalavrado com consequências potencialmente danosas para o cliente.
Na prática, a CGD não ofereceu uma redução do custo do crédito ao cliente mas antes o seu contrário. O que queria (e quer) fazer era aproveitar o engodo de uma descida do esforço mensal para prolongar o crédito por mais dezena e meia de anos e, principalmente, rever o spread ridiculamente baixo com que se havia comprometido para angariar o cliente aqui há uns anos (no caso 0,3%) para um valor que mais lhe convinha para regressar aos lucros: 2,0%.
A CGD tal como muitos outros bancos estão hoje a tentar de forma mais ou menos criativa e mais ou menos ardilosa, livrar-se dos créditos com spreads baixos. No caso da Caixa Geral de Depósitos a estratégia parece centrar-se na exploração da iliteracia financeira dos seus clientes, potenciada por uma prática comercial extremamente agressiva. Noutros bancos o registo é bem mais razoável e cristalino. Por exemplo, no Deutsche Bank os clientes estão a ser contactados no sentido de averiguar se estão interessados em contratar um novo crédito – por exemplo para mudar de casa – sendo-lhes oferecido um spread muito competitivo face aos valores hoje praticados, mas, ainda assim, claramente superior ao que foi negociado nos anos de ouro dos spreads baixos. Contrariamente ao caso da CGD, no caso de Deutsche Bank tudo é deixado em pratos limpos, numa proposta escrita, logo no primeiro contacto.
A situação da CGD foi relatada ao Banco de Portugal dado que poderá ferir alguns dos procedimentos elementares a que qualquer banco está obrigado em termos comportamentais na sua relação com os seus clientes pelo que se aguarda uma reação do supervisor nesta matéria.
Além do alerta a eventuais clientes bancários da CGD e de outro bancos que possam estar a receber propostas boas de mais para serem verdade, no sentido de iniciarem qualquer negociação com extrema cautela e mesmo desconfiança, fica também a nota crítica para a prática comercial seguida pelo banco do Estado que sabe ser referencial no sector.
Estas práticas parecem-nos suficientemente graves para justificar uma explicação pública e potencial penalização da administração pelo poder político. Se mais uma vez uma situação inaceitável e reveladora de profunda má fé comercial passar incólume junto de supervisor, poder político e detentor do capital, teremos mais um argumento a juntar a muitos na nossa história recente (nacional e internacional) para encarar de forma crescente as instituições financeiras com que lidamos como pouco menos do que extorcionistas autorizados.
Procuraremos acompanhar desenvolvimentos desta situação.
A CGD já foi uma instituição credível, actualmente é do pior…
Óptimo a alarme! Concordo com comente do Pedro.
Os bancos já foram INSTITUIÇÕES decentes, sendo hoje pouco diferenciados dos mais vulgares burlões bem engravatados e perfumados com quem não nos cruzamos nas ruas de cidades e vilas europeias. Os governos, que “supervisionam?” a banca não passam de paupérrimas marionetes na boca de cena do grande teatro montado pelo capitalismo selvático. Até os indigentes são hoje “OBRIGADOS” a ter conta bancária para receberem as “esmolas” que os Estados ou IPSS lhes atribuem. Por cá, não sei se no resto da Europa também, até foi criada uma conta especial; parece-me que se chama conta base, sem despesas (?) de manutenção para controlar os mais pobres dos POBRES, para que os serventes dos famigerados “mercados” andem bem montados e alimentados. ´E a crise… de VALORES ÉTICOS E DA MORAL. lembrando Jacques Séguelá: Se a minha mãe perguntar se sou BANQUEIRO, diz-lhe que toco piano num bordel!