Imagine duas famílias gémeas. Dois adultos, duas crianças das mesmas idades, que andam nas mesmas escolas. Os adultos têm os mesmos empregos, ordenados, despesas fixas obrigatórias. Imagine que foram todos despedidos num despedimento coletivo há pouco mais de 3 anos. Imagine que durante as respetivas carreiras a família A sempre poupou uma parte do rendimento e que hoje tem €10.000 em certificados de aforro mais €10.000 em dois PPR, um em nome da mulher e outro em nome do homem (€5.000, cada, portanto). Os PPR foram constituídos com incentivo do Estado, via benefício fiscal de estímulo à poupança. Imagine que esta família A tem ainda pouco mais de €5.000 entre depósitos a prazo, um número simbólico de ações das privatizações que o gestor de conta lhes vendeu e a conta à ordem de onde vão tirando o que precisam para as despesas diárias. Tal como a família B, a família A está sem qualquer tipo de apoio e rendimentos há vários meses. Estão muito apreensivos, empregos nem vê-los e as contas não desaparecem. O subsídio de desemprego já acabou, o social de desemprego também. Há apenas umas dezenas de euros de abono de família. De resto, entradas por mês, zero. No caso da família A, posses além das já descritas, um carro com cerca de 10 anos, que há-de valer uns €2.000.
Agora vejamos a família B. A família B tem €2000 euros na conta à ordem e mais nada. Ou melhor, tem um carro comprado pouco antes do despedimento (custou quase €15.000) e no qual gastou uma parte importante das suas poupanças. De lá para cá, tudo o resto desapareceu. Verdade seja dita que a família B poupava menos que a família A. Afinal gastava um pouco mais em alimentação comprando comida de melhor qualidade e fazendo uma dieta mais equilibrada. Tinham também investido um pouco mais na formação dos filhos pagando aulas de música, inglês e natação (só aqui eram quase mais €200/mês de despesas do que a família A), oferecendo-lhes ainda cursos didáticos durante as várias férias escolares em regime de ocupação de tempos livres. As crianças da família A, nessas férias, ficavam com os avós. Não sabem nadar, nem tocar qualquer instrumento e o inglês saberão o que vierem a aprender na escola pública.
Hoje, estão ambas as famílias sem qualquer rendimento anual e com despesas fixas inelutáveis. Ambas têm os automóveis à venda, ainda que saibam que sem eles será muito mais difícil voltarem a conseguir encontrar um emprego que se lhes ajuste. O último recurso foi pedir o RSI que lhes poderá amenizar um pouco as dificuldades.
A família B recebeu o apoio no seu valor máximo permitido por lei: €374,1/mês ou seja, sensivelmente €3 por dia, por pessoa neste agregado de dois adultos e duas crianças. A família A não recebeu nada. Só poderá receber quando gastar mais alguns milhares de euros e depois disso terá de esperar até que seja aceite a nova declaração de condição de recursos. As poupanças que acumulou excedem ligeiramente o limite máximo autorizado (tudo junto passa ligeiramente os €25.153,20). Não são suficientemente pobres em termos monetários e hoje ficam a matutar se fizeram bem em não ter investido mais na educação dos filhos, em não ter comprado mais fruta e peixe quando podiam. Chegam a pensar se não terem mudado de carro terá sido uma boa aposta ou se terem juntado para a reforma foi inteligente dado que agora são obrigados pelo próprio Estado a gastar a poupança antes de poderem ser apoiados. Só daqui a uns meses poderão voltar a concorrer, até lá vão ficar a matutar nisto, a procurar emprego, a evitar biscates para não perderem a hipótese de aceder ao apoio e, quem sabe, decidir-se por fazer pela primeira vez na vida umas férias no estrangeiro.
Este texto é um exercício de ficção. Ou será que não é?
Pessoalmente eu preferia estar na família A. Os tais 374€/mês mal chegam para as despesas do dia a dia dos 2 adultos e 2 crianças. E então, se houver um empréstimo a pagar ou algo do género, os 2000€ depositados vão-se em poucos meses. Claramente tem de haver mudanças na educação dos filhos, na alimentação etc, até voltar a haver emprego.
Enquanto isso, a família A pode continuar o seu estilo de vida mais remediado (eventualmente até nem encontra tanto onde cortar) durante mais tempo. E, se realmente chegar ao ponto de descer as suas economias abaixo dos 25.000€ pode sempre candidatar-se novamente ao mesmo apoio que a família B está a receber. E, mesmo nessa altura, continuará em melhores condições.
Pensando bem eu estou na família A – não sei nadar, não toco qualquer instrumento e o inglês que sei é o que aprendi na escola pública (e na tv e no cinema, vá). E hoje lido diariamente com clientes espalhados pelo mundo todo com quem falo inglês, naturalmente; estou casado com uma canadiana que se mudou para PT há pouco tempo (por isso ainda comunicamos sobretudo em inglês) e sinto que estou bastante acima da média da população. Esta história de não olhar a gastos para não comprometer o futuro dos nosso filhos tem muito que se lhe diga, não tem? E eu não sou um exercício de ficção 😉
Em Portugal só se ajuda quem nada tem e quem nada dá ao país. Se não quiseres trabalhar, o estado dá dinheiro, casa, e até a alimentação na escola e bens necessários. Mas se por acaso ate trabalhava e teve o azar de ser despedido e tem uma casa (que no fundo é do banco), estado já não ajuda em nada.
Querem que eu concorde com RSI? Não posso. Claro que há excepções, mas a maioria vive muito melhor e ainda se queixam que as vezes são controlados.
Moral: Quem menos tiver (vontade de fazer o país andar pra frente) melhor se safa neste País que devia olhar por todos de forma igual.
Pois porque afinal é o que trabalha que paga impostos, e não são poucos…
Contra todas as evidências, estatísticas (nacionais e internacionais) a Angélica tem a sua “maioria”, a sua “certeza absoluta” de malfeitores. Que nunca precise é o que eu lhe desejo. Quanto ao resto não me atrevo sequer a tentar colocar dúvidas nas suas certezas, vejo que nenhuma evidência a convenceria. Mas uma coisa lhe digo, a sua moral é uma grande treta.
Pobre do nosso país e coitados de nós, se temos o azar de ficarmos sem nada no fim de tanto trabalho. O pior é o tempo, que não volta para trás e a democracia que o deixou de ser, pois temos que viver e poupar não como queremos, mas em função daquilo que um qualquer “Senhor”, que não está na classe social com maioria no país, achou que teriamos que fazer, porque o nosso dinheiro (impostos), foi desperdiçado por um outro qualquer “Senhor” da mesma familia (políticos) e agora…voltas a poupar, não como deves, não como queres, mas como os “Senhores” acham de deves. Coitados de nós, pobre Portugal.