Afinal onde é que os bancos vão, em cenário de recessão económica, buscar recursos para remunerarem depósitos a taxas crescentemente generosas? O Jornal de Negócios recupera hoje para capa um tema recorrente e que tem ganho relevo com as declarações e recomendações feitas pelo Governador do Banco de Portugal.
É provável que em breve esta instituição venha a proceder como em Espanha, impondo penalizações às instituições financeiras que se afastem em demasia das euribor. O Banco de Portugal pode optar por esta acção face ao acompanhamento que tem feito da evolução dos montantes depositados em “super-depósitos” (depósitos que remuneram muito acima das taxas de referência do empréstimo de dinheiro a nível interbancário – euribor). A preocupação é que as instiuições financeiras estejam a colocar em risco a sua própria sustentabilidade e a sustentabilidade do sistema financeiro.
Para um leigo crente no mercado, ver o regulador financeiro preocupado em incutir racionalidade aos regulados por via de limitações administrativas é no mínimo bizarro, parece contrariar toda a argumentação que as próprias instituições e, por vezes, os reguladores, invocam para deixar correr, por exemplo, disparidades de comportamento que são identificadas.
A pergunta será a de saber se poderá um banco embarcar numa escalada das taxas de juro ainda que com isso esteja a cavar a sua sepultura? Mas talvez haja demasiadas variáveis em jogo para simplificar desta forma a questão. Seria necessário considerar quais são as alternativas. Recorde-se que decorre uma guerra fria entre o regulador e os regulados quanto ao rumo a seguir em termos de reforço do capital, com o primeiro a preferir encaixes de capital por via de venda de ativos não essenciais e os segundos a resistirem em desfazer-se de anéis preciosos (ou não) apostando antes na captação de ativos via depósitos, reforçando comissões e fechando o crédito de forma tenaz.
Mas voltemos à questão concreta. Já aqui abordámos este assunto aquando dos primeiros alertas do Governador e, na altura, o comentário parecia-nos óbvio: “Banco de Portugal vigia depósitos a prazo mas ainda terá poucos motivos de preocupação “. Hoje, com cenários como o que aqui retratámos há dias, (ver “Há pelo menos 20 depósitos a prazo a pagar mais de 5% TANB – Setembro de 2011 “), a resposta poderá não ser tão óbvia. O que poderá o Banco de Portugal fazer?
Se o regulador seguir de perto as recomendações efetuadas, deverá impôr aos bancos um spread máximo de 3 pontos percentuais acima da euribor relativa ao prazo do depósito.
Por exemplo, num depósito a 3 meses, tomando por referências a Euribor a 3 meses de hoje, a remuneração máxima seria de 3,881%, a seis meses seria de 4,137% e a 12 meses de 4,420% – se comparar com alguns depósitos a prazo que recentemente atualizamos no nosso ficheiro, verificará que várias superam estes limiares. As instituições que superassem estas fasquias seria forçadas a contributos adicionais para o Fundo de Garantia de Depósitos.
Para já, a taxa média dos depósitos (que correspondem a cerca de 92% do PIB) anda pelos 3,82% de média, o que não sendo alarmante face à referência sugerida pelo Banco de Portugal, poderá forçar a que se coloque a questão atendendo ao ritmo de incremento registado nos últimos meses. Note-se ainda que a inflação, provavelmente, terá atingido o máximo da sua curva ascendente em 2011, pelo que incrementos adicionais nos juros deverão traduzir-se em incrementos reais líquidos nas remunerações dos depósitos. Em suma, aguardemos para confirmar se a expectativa de intervenção imperativa se confirma nos próximos meses ou semanas o que parece certo é que, de alguma forma, estaremos próximo do limiar máximo de incremento das taxas de juro dos depósitos a prazo.