Sabia que um desconto em cartão é muito diferente de um desconto directo na factura? Vejamos quão diferente pode ser.
Se lhe derem um desconto de 50% na compra de um produto mas esse desconto for creditado num cartão, de quanto é efectivamente o desconto que lhe deram?
50%? Não propriamente. Vejamos um exemplo concreto.
Comprou uma televisão de 800€ com 50% de desconto em cartão. Ou seja, entregou 800€, recebeu uma TV e um crédito de 400€.
Imaginemos que com esse crédito regressou à loja e lhe deixaram comprar produtos num valor exacto de 400€ tendo assim usado o crédito que tinha sem gastar mais um único tostão. Ou seja, ao todo gastou 800€ e levou para casa produtos no valor global de 1200€. Sabendo isto de quanto foi o seu desconto efectivo? Pelas nossas contas deverá ter sido de 400€/1200€, ou seja, de 33,33%. A compra poderá ter continuado a valer a pena, ou não, mas 33,33% é um pouco diferente dos 50% aparentes na promoção.
E se em vez de 50% de desconto em cartão lhe dessem 35% de desconto imediato? Nesse caso o preço da TV passava a ser só de 520€ (em vez de 800€) e, se assim desejasse, terminava a história pois não tinha nada que o compelisse a efectuar mais despesa, logo, o desconto efectivo seria de 35%, neste caso superior aos 33,3% do desconto em cartão.
Directo | Em cartão | |
Preço do produto | 800 € | 800 € |
Paguei | 400 € | 800 € |
Valor do desconto | 400 € | 400 € |
Valor dos produtos adicionais | 0 € | 400 € |
Valor total das compras | 800 € | 1.200 € |
Desconto em % | 50,0% | 33,3% |
No entanto, se à partida você precisasse mesmo de comprar a TV mais 400€ em produtos (por exemplo, as compras do mês lá para casa) a história muda de figura. Nesse caso, se você precisasse mesmo dos dois produtos vejamos o que acontecia.
Na situação do desconto em cartão já sabemos como ficava: gastava 800€ e levava produtos no valor de 1200€ a que correspondia um desconto de 33,3%.
Na situação do desconto imediato tinha pago 520€ pela TV que custava 800€ e a seguir teria de ir gastar 400€ para trazer o resto das compras, ou seja, gastava 920€ para trazer 1200€ em compras, ou seja, o desconto passava para apenas 23,3%, certo? Talvez não, é que esta situação só é verdadeira se você fosse proibido de comprar a TV mais os outros 400€ de produto logo à primeira com os 35% de desconto! Se o desconto dos 50% em cartão ou dos 35% de desconto imediato se aplicarem a todos os produtos da loja sem limitações de quantidade, a melhor opção é sempre o desconto imediato onde os 1200€ ficam em 780€ e não nos 800€ que teria de pagar na situação do desconto em cartão (a tal situação que lhe exige sempre regressar no outro dia para levar o resto e beneficiar do desconto).
Se por ventura não precisa mesmo dos 1200€ de compras a preço de tabela e precisa apenas da TV e o resto é apenas levado a comprar para beneficiar dos “50%” de desconto em cartão… Bom, então se calhar, na prática o seu desconto em cartão vale tanto quanto a utilidade daquilo que é forçado a levar para materializar o desconto. Na opção do desconto directo paga logo à cabeça menos dinheiro e o resto pode ser investido em algo que seja mesmo útil, talvez algo que apenas precisa de comprar muito tempo depois já com uns juros de uma aplicação financeira em cima a dourar o bolo acrescido, quem sabe.
Em suma, a menos que o desconto directo esteja limitado a um conjunto de produtos restrito e que haja outros de que necessita mesmo que não são abrangidos por esse desconto, provavelmente para uma situação de 50% de desconto em cartão versus 35% de desconto directo, a segunda opção é mais vantajosa.
Mais alguns considerandos:
Agora imagine que, como já vimos em alguns casos, só pode beneficiar do crédito em cartão se efectuar compras de pelo menos 500€ ou coisa que o valha. O desconto será ainda menor, pois além do crédito terá ainda de gastar mais 100€ (400€/1300€ levam a um desconto de 30,7%).
Imagine ainda que por altura do final do prazo de utilização do desconto em cartão (tem havido muitos descontos em cartão que expiram no final do ano, por exemplo) todos os produtos entrarão em saldos. Ou seja, o seu desconto pode ter funcionado apenas como um antecipador do período de saldos. Então, de quanto é que foi o desconto que efectivamente lhe deram?
Conclusão: não compare directamente as percentagens dos descontos imediatos com os descontos em cartão ou notas de crédito pois, como viu pelo exemplo dado, 50% de desconto imediato não são iguais a 50% de desconto em cartão, nem sequer os descontos directos de 35% são iguais aos 50% de desconto em cartão. Tenha sempre em consideração se precisa mesmo de efectuar mais compras e se o fizer verifique se o desfasamento das compras (com desconto em cartão) compensa face à alternativa de compra com desconto directo que eventualmente lhe proponham. Em bom rigor, qual é melhor? O desconto directo ou em cartão? Em bom rigor vai ter de fazer as contas porque a resposta mais sincera é depende.
Note-se que a larga maioria dos nossos leitores (68%) que responderam ao desafio na pesquisa “Desconto directo versus Desconto em cartão” (total de 202 respostas neste momento) também chegou à mesma conclusão. Desenrolou-se inclusive uma discussão interessante nos comentários do inquérito. Ainda assim, cerca de 31% preferiu o desconto em cartão. Sendo uma escolha inteiramente legítima, será que alguns estarão disponíveis para reconsiderar à luz das interpretações oferecidas?
Bons negócios!
Muitos parabéns. Já sigo o seu blog faz muitos anos e continua sempre a surpreender. Quanto a esta ideia, poderia aprofunda-la ainda mais. É uma coisa que já tentei muitas vezes ( e acredito que muita gente ) perceber e nunca consegui chegar a nenhuma conclusão a não ser esta: compras precisamos todos de fazer sempre, todos os meses. No caso do Continente, se não estou em erro, não existe um prazo limite para gastar o saldo no cartão, e o desconto é efectuado no total das compras efectuadas, independentemente dos produtos. Agora, a grande questão é: os preços do Continente são mais caros que os outros? Também depende do que compramos. No meu caso, com 25 euros de produtos que tenho por hábito comprar,sou capaz de trazer três sacos cheios do Pingo Doce, enquanto no continente só trago um. Eu acho que a grande questão não tem a ver com cartões, com descontos directos ou por outro tipo de descontos. Passo a explicar: tenho amigos que são capazes de comprar umas coisas no Intermarché, depois vão ao Lidl, depois vão ao Continente e depois vão ao Pingo Doce. Será que compensa? Impossível. Todos eles ficam pelo menos a 6 km ou mais, e a diferença de preços que dizem haver nos produtos não é assim tão diferente. E como não podem comprar quantidades industriais de iogurtes por exemplo, devido ao seu prazo de validade, nunca pode compensar tal deslocação. Eles não contam é com despesas automóveis nas contas. Na minha sincera opinião, eu acho que os cartões são “um bichinho” que as pessoas gostam. É uma coisa que não tem explicação, tem a ver com prazer ou algo do género. O que as pessoas gostam de passar o cartão! E o que gostam de dizer à boca cheia: “Já tenho 100 euros no cartão!”, como se fossem 100 euros oferecidos. Como não está associado a nada que tenha a ver com bancos etc, a sensação é que não se gastou aquele dinheiro, foi-nos oferecido. A história dos cartões de descontos, na noite das pulseiras que garantem a entrada, aqueles convites que oferecem que não são convites nenhuns , causam nas pessoas um sentimento especial, como se tivessem ganho algo. Não sei.
Artur, obrigado pelo cumprimento e pela reflexão 🙂
Obrigado eu. Não imagina o que tenho aprendido com o seu blog. Ao principio foi um pouco estranho, e foram muitos meses de esforço para me obrigar a ler todos os posts, pois não fazia ideia de nada do que escrevia, de como funcionavam as coisas e nem para que as coisas serviam. Mas agora já consigo perceber quase tudo. Já lá vão uns anos de leitura do economia e finanças.
Cumprimentos e continuação de bom trabalho que, pelo menos a mim, já me tirou de muita ignorância.
Ó Artur com incentivos desses já nos tramou! Vamos ter de continuar com redobrada dedicação esta “empresa” 🙂 Um abraço.
Olá…
Por isso é que nunca beneficiei de descontos em cartão… Não tanto pelas contas apresentadas, mas porque, sempre defendi que não tinha que gastar novamente para beneficiar do desconto…
Para mim, desconto é desconto, custa 100, desconto de 30%, pago 70…
Ainda recentemente tive uma situação no Toys R’ Us onde fiquei de tal forma chateado que deixei o carrinho de compras, pois, no anuncio do desconto mencionava, mas naqueles letrinhas para Inglês ver, que o desconto era em vales. Como não tinha reparado comprei os tais 100 euros de compras para beneficiar e quando chego ao caixa descobri o sucedido e perguntei porque não efectuar o desconto directo… A resposta foi não, como é óbvio. A consequência foi ficar lá todas as compras… Os senhores da Toys R’ US preferiram deixar de vender 100 euros de brinquedos do que me dar o desconto directo…
Bem, mas quem manda no nosso dinheiro somos nós..certo…
Até já…
João, em relação à tua última frase e como diz o Burno Aleixo: “Até ver!” eheh Eu ainda vou reflectir umas belas horas no assunto um dia e vou escrever uma opinião estruturada, que a que deixei foi um pouco “sem reflexão”. Já agora, gostava de lançar uma dúvida que tenho tido em relação a uma coisa: sem utilizarmos o argumento de quando uma pessoa vai ao hipermercado e acaba sempre por trazer mais do que precisa e de que uma embalagem com mais quantidade é mais barata, como é possível um garrafão de 5 litros de água “marca branca” custar o mesmo que uma garrafa de litro e meio da mesma marca? A embalagem é maior, a quantidade de produto nele é maior, o tempo de verter o produto é superior, em termos de transporte cabem metade num camião embora tenham mais produto. Já me dei ao trabalho de fazer contas e continuo sem encontrar uma lógica.
Deixo a ideia. Cumprimentos
Bom dia Sr. Rui
Constatei que é óptimo em matemática e estatística, mas se o meu sentido pratico não me falha, apesar de o cabaz de compras valer 1200€, e o desconto ser de 400€, o bónus no cabaz permanece nos 50%.
Se o cliente da superfice comercial em causa, for um cliente pontual, tudo bem estou de acordo com o Sr., mas se o cliente utilizar prequentemente a superficie comercial o desconto é real dado que os 50% de valor do bonus teria de ser gastos de qualquer forma.
🙂
A situação não depende apenas da fidelidade do cliente… Também depende da “fidelidade” do desconto. Se o desconto for pontual (e a comparação é entre um desconto directo de 35% e um em cartão de 50% e não entre um desconto directo de 35% e descontos sucessivos e infinitos de 50% em cartão) a taxa de desconto efectiva do desconto em cartão é mesmo de 33,3%. Se o desconto em cartão de 50% estiver sempre disponível e se for um cliente fiel (tiver sempre compras úteis e perecíveis para comprar lá), então ao fim de algumas visitas provavelmente passará a ser mais vantajoso.
Mas como disse, estes são grandes “ses” que não foram referidos no exemplo e que acredito serem dificeis de encontrar de forma generalizada na “vida real”. Um exemplo próximo muito cohecido será o desconto em cartão do Modelo-Continente, que é de 10% e não garantido, pois a sua existência em meses sucessivos é irregular e, geralmente, “estrategicamente” escolhida.
Cumprimentos Sr. Nelson e, já agora, Sr. Rui.
Acho que o cálculo exemplificado é falacioso na medida em que inicia com um desconte de 50% de 800€, o depois procura achar o índice percentual não em relação aos 800€ mas aos 1.200€.
No artigo parte-se de um pressuposto errado, de que o desconto de 50% teria de ser aplicado também às compras dos 400€ (50% dos 800€ da compra inicial).
Há que rever melhor esses conhecimentos de matemática….
E AINDA:
– os descontos em cartao ou talao so se podem gastar no dia a seguir,
– logo ha mais gastos com o combustivel para se deslocar aos centros comerciais
– alem disto esses taloes teem uma validade muito curta, o k obriga os consumidores a usarem o talao o mais rapido possivel, o k na maior parte dos casos compram coisas k nem precisam.
A história dos 1200€ só traz confusão. Ninguém pagou esta quantia.