Mais uma recomendação de leitura. Desta feita um artigo do Jornal I, mais concretamente uma entrevista a Keith Wade, responsável pelas previsões da empresas de gestão de activos Schroders. Um excerto:
” (…)A Comissão Europeia podia, ou deveria, fazer algo mais?
Seria muito útil que as autoridades da zona euro fossem mais pró-activas e garantissem que, se Portugal precisar de ajuda, ela estará disponível. Temos o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, mas estão a ser postas condições em cima da mesa para o poder utilizar, como é o caso do IRC na Irlanda. Acho que ajudaria a resolver a crise em Portugal que as autoridades europeias garantissem a ajuda sem impor esse tipo de condições, que levantam dúvidas sobre se será mesmo aplicada.
Há dois problemas na zona euro. As diferenças de competitividade e o facto de a desvalorização do euro ter um efeito muito desnivelado, favorecendo países como Alemanha e França, que exportam muito. Isso não seria um problema se existisse uma lógica de redistribuição na zona euro. É isso que acontece nos EUA. Os estados que estão pior recebem ajuda do poder central. Os estudos sobre uniões monetárias mostram que é preciso um mecanismo assim, que não existe na zona euro. O que me preocupa é que o euro pode estar mais fraco, o que pode ajudar a economia da zona euro como um todo, mas não ajuda os países periféricos. No entanto, no fundo, os países mais desenvolvidos estão a ser obrigados a fazer essas transferências através destes planos de ajuda. (…)Cinco anos de deflação tornariam Portugal competitivo?
Seria regressar ao que era antes de entrar na zona euro. Mas é muito difícil. Como se controla o défice e a dívida com fraco crescimento? O peso da dívida é muito grande. Chega uma altura em que se torna insustentável. Daí ser necessário crescimento. É muito complicado resolver os problemas com deflação. Era isso que os países faziam para restaurar a competitividade durante a era do padrão-ouro. Contudo, o desemprego seria muito elevado e, nas sociedades actuais, com sistemas de segurança social modernos, mais desemprego significa maior défice. Não me parece um mecanismo aceitável.
Então como nos podemos tornar mais competitivos?
É preciso ter uma visão de longo prazo. Atrair indústrias que estão a crescer, através de maior produtividade. A Irlanda fez isso através de taxas baixas para as empresas. Mas essas vantagens competitivas são muito difíceis de conquistar.
Os países periféricos da zona euro estão ser postos pela Alemanha numa posição quase impossível?
Sim. A Alemanha acha que a solução passa por estes países terem deflação e um período de maior austeridade. O que eu digo é que a competitividade tem muitas dimensões. Simplesmente diminuir salários não tornará Portugal um motor de exportações. É mais complicado que isso. Além disso, como referi, o mecanismo de deflação tem outras consequências negativas. (…)”
Pode ler a entrevista na íntegra aqui (vale a pena!).