Tanto quanto a nossa memória o permite todos os analistas vaticinavam um crescimento do PIB durante o 3º e 4º trimestre claramente inferior ao registado nos dois primeiros trimestres do ano. A estimativa rápida do INE, hoje divulgada é a todos os títulos surpreendemtne para quem se fiou nas opiniões habituais. Como se explica então que a taxa de variação homóloga do PIB tenha acelerado ligeiramente de 1,4% para 1,5% do 2º para o 3º trimestre de 2010?
Explica-se essencialmente pelo que já aqui destacámos: Exportações mantêm-se firmes, importações desaceleram significativamente. Ou seja, os analistas não se enganaram na perspectiva de que o consumo privado iria passar a registar uma evolução negativa, terão é sub-estimad o o impacto do comércio externo com as exportações a manterem um forte dinamismo em simultâneo com a desaceleração acentuada do crescimento das importações. Aconteça o que acontecer no 4º trimestre, não será em 2010 que o país entrará em recessão técnica (a taxa de variação em cadeia também aumentou). Outra boa notícia é a indicação de que voltámos a ter um comportamento acima do registado, em média, no resto da Europa.
Comparando com o resto da Europa, Portugal parece ser de entre os países mais periféricos aquele que está a conseguir aproveitar melhor “as sobras” do forte crescimento económico de países como a Alemanha, o Reino Unido ou a França. A Grécia afundou-se um pouco mais com um crescimento homólogo negativo de 4,5%, a Espanha cresceu 0,2% face a igual trimestre do ano anterior. Na Europa menos periférica a Holanda e a Itália registaram indicadores pouco animadores. A Irlanda não divulgou, ainda, as suas estimativas para o 3º trimestre.
Nota: o “surpreendente” que acrescentámos no título para melhor balizar o sentido deste número gerou algumas críticas de falta de isenção na nossa página no Facebook. Acabámos por publicar lá um editorial sobre o assunto que aqui transcrevemos ligeiramente truncado:
“O Economia & Finanças não é nem nunca foi feito por jornalistas. É feito por amadores que têm procurado usar a linguagem m…ais útil e informativa para quem nos lê. Há pontos comuns importantes: dizer a verdade, ter uma perspectiva crítica bem activa, etc. Mas parte da nossa motivação é também desmontar algum do discurso jornalístico, nem que para isso tenhamos de ter uma atitude mais provocativa. Um exemplo: houve órgãos de comunicação social que destacaram o mais absurdo e desinformativo dos números da inflação quando ela foi recentemente publicada: a taxa de variação face ao mês anterior. Era o menor valor do destaque do INE, toca a publicar. Pouco relevou que esse número enferma de sazonalidade e objectivamente não diz nada sobre a tendência ou evolução da Inflação. Destacámos, pelo contrário; a taxa de variação média anual (A inflação) e a taxa de variação homólogo (que é imune à sazonalidade). Se tivéssemos adjectivado a inflação baseados nos indicadores mais informativos, ainda assim teríamos dado melhor informação sobre o assunto do que os jornalistas do Diário Económico ou da Agência Financeira.
Reconhecemos que intencionalmente estamos a humanizar um pouco mais o discurso (ou seja, a não usar apenas a velha linguagem do jornalismo de notícias que como se sabe está em vias de extinção). O Facebook e o seu micro resumo foram um estímulo muito forte para testarmos esta variação de linguagem mas também o nosso velho moto “Todo o economista é um leigo, todo o leigo é economia “. Concretamente quanto a este tipo de informação macroeconómica temos percebido que dizer que o pib é de 1,5% adianta pouco ao leigo, dizer que este número é inesperado (ou não) já acrescenta qualquer coisa e muitas vezes permite “descascar” a notícia a quem tem menos capacidade para criticar tecnicamente o número. A nossa reputação e credibilidade é posta em causa, não por acrescentarmos um “surpreendente” mas cremos que o será se o “surpreendente” for um disparate pegado. É esse o risco que queremos correr e que provavelmente justificará este sítio que não sendo um jornal se baseiam em informação e a divulga numa perspectiva mais próxima do jornalismo do cidadão (para o cidadão). E com isto escrevemos um editorial no Facebook :-)”