No âmbito da suas recentes competências de supervisão comportamental (competências atribuídas em 2008 e que estão previstas migrarem para a nova autoridade que resultará da fusão entre a CMVM, o ISP e a parte do Banco de Portugal que se ocupa da supervisão comportamental), o Banco de Portugal (BdP) contratou à Eurosondagem um inquérito realizado porta-a-porta com o ambicioso objectivo de aferir o estado da arte da literacia financeira entre os portugueses: Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa|2010.
Segundo se pode ler no resumo hoje divulgado pelo BdP, foram entrevistadas 2000 pessoas:
“(…) de idade igual ou superior a 16 anos, [que] foram estratificados de acordo com cinco critérios: género, idade, região NUTS II (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira), situação laboral (activo ou não activo) e nível de escolaridade.
As entrevistas basearam-se num questionário composto por 94 questões de escolha múltipla, que incidiram sobre cinco áreas temáticas:
1. INCLUSÃO FINANCEIRA;
2. PLANEAMENTO DE DESPESAS E POUPANÇA;
3. GESTÃO DE CONTA BANCÁRIA;
4. ESCOLHA DE PRODUTOS FINANCEIROS;
5. COMPREENSÃO FINANCEIRA.A metodologia do inquérito baseou-se nas melhores práticas internacionais e procurou assegurar a qualidade dos resultados obtidos e a sua extrapolação, a partir da amostra, para o conjunto da população.
A realização de entrevistas presenciais (e não por telefone ou Internet) permitiu que o questionário abarcasse um vasto conjunto de temas, além de melhorar o processo de confirmação das respostas e suscitar a participação pró-activa dos entrevistados. (…)”
Feita a apresentação metodológica, que é bem mais do que um mero detalhe, recomendamos vivamente a leitura integral do documento que contêm alguns dados que atestam, no fundamental, que Banco de Portugal, CMVM e ISP bem como os respectivos supervisionados e sistema educativo em geral, têm ainda um longo caminho a percorrer para dotar o país de um grau de litereacia financeira minimamente decente. Em todo o caso, a iniciativa de conhecer e reconhecer o estado da literacia financeira será sempre um primeiro passo indispensável para conduzir de forma adequada acções futuras.
Eis algumas frases chave (que não os algo bizarros assomos pedagócios que surgem nas laterais do documento):
“(…) dos inquiridos ridos que dizem fazer poupanças, a maioria (54%) considera como poupança o dinheiro deixado numa conta à ordem para gastar mais tarde. A prática de deixar os recursos excedentários numa conta à ordem poderá indicar alguma inércia quanto à poupança, o que normalmente decorre da falta de sensibilizada à sua importância ou do desconhecimento sobre as possíveis aplicações.”
“Finalmente, as decisões quanto à poupança são determinadas também, em grande medida, por restrições financeiras: a maioria dos inquiridos que não poupam (88%) referem rendimentos insuficientes como principal razão.”
“De entre os critérios de escolha do crédito à habitação, apenas 4% dos inquiridos indicam a taxa anual efectiva (TAE) – medida que engloba todos os encargos obrigatórios associados ao crédito – e 18% mencionam a taxa de juro.”
“No caso dos detentores de cartões de crédito, dos 43% que não pagam a totalidade do saldo em dívida no final do mês apenas 22% dizem saber qual o valor exacto da taxa de juro associada ao cartão.”
“Questionados sobre o conceito de Euribor, apenas 9% dos inquiridos respondem com rigor e apenas 17% revelam saber o significado do spread que incide sobre uma taxa de juro de referência.”
“Embora a maioria dos inquiridos (73%) saibam correctamente identificar o saldo num extracto de conta, apenas 46% demonstram saber calcular esse saldo após uma simples operação de débito da conta ou têm noção do conceito de descoberto bancário. Os resultados são também menos positivos na avaliação do grau de risco de produtos financeiros.”
É também por isto que humildemente, à nossa pequena escala, temos algum gosto particular em continuar a ajudar a decifrar alguns conceitos e processos financeiros em liguagem comum.