Recursos humanos: trabalhadores de vistas curtas, provocações de horizontes largos

A conversa que se segue fez-me lembrar o pavor de perder o emprego que vi em alguns colegas meus que me acompanharam num primeiro emprego (vai para 11 anos), na “extinta” Arthur Andersen.  Eis uma crónica interessante que li hoje na Agência Financeira, “Da «rádio-alcatifa» à «falta de mundo» dos licenciados”:

Um excerto:

“(…) A ligação universidades/necessidades do mercado de trabalho também mereceu críticas por parte de Miguel Portela e Luís Reis nas «conversas ao pequeno-almoço», organizadas pelo IPAM. O CEOO da Sonae.com sublinhou que as escolas «deviam pôr as pessoas a pensar, a saber reagir ao desconforto, à diferença». Os cursos superiores, acrescentou, «são demasiado fáceis. As pessoas só sabem até onde podem ir se forem levadas ao seu limite».

«A muitos licenciados falta o mundo. Para muitos, o mundo acaba no fim da rua da aldeia dele». Esta imagem fornecida por Luís Reis serviu para demonstrar como os portugueses se «agarram desesperadamente ao seu cantinho».

O CEOO da Sonae.com deu um exemplo: «Num processo de recrutamento, perante a «ameaça» de que podem ser colocados em qualquer ponto do país, metade desiste. À metade que fica, dizemos que podem ser colocados em qualquer ponto do mundo e metade vai embora. Dos candidatos iniciais restam-nos normalmente 25 por cento». Daí o desabafo: «Devia ser proibido aos recém-licenciados namorar ou casar nos próximos dez anos».  (…)”

6 comentários

  1. Ao raciocínio exposto acima, eivado de valores mercantis e frios puros poderiamos também dizer: De CEO o Sr. passaria para um país subdesenvolvido, com uma casa modesta, e rendimentos mínimos, sem os confortos da sua vida e do seu cargo. Ah, e os seus bens monetários e físicos no país e off shores seriam distribuídos como prémio de desempenho de trabalhadores efectivamente produtivos, sendo-lhe assegurada apenas um PPR com garantia de reforma mínima. Ah, e não pode levar mulher e filhos durante 5 anos, nem dar-lhe as regalias do país de origem mas apenas as do de destino. Aceitaria!

    E esta hein?!

  2. Era mesmo para provocar 🙂 Ainda assim não deito fora tudo o que os senhores dizem. Para lá da brutalidade que alguma descontextualização provoca, sempre há por ali algumas linhas que merecem reflexão. Obter educação tem de ir além de alcançar um canudo, tem de passar mais por ganhar competências e essa é uma responsabilidade e uma tomada de consciência que passa fundamentalmente pelo futuro trabalhador.
    Outra nota em que acho que estes senhores têm cada vez menos razão é em relação às vistas curtas: há hoje, como nunca houve, uma imensa falange de portugueses qualificados disponíveis a trabalhar lá fora.

  3. Concordo com as observações. A aqusição de competências deve ser uma responsabilidade dos trabalhadores, em particular, e da população activa, em geral, contudo, não devem ser obstaculizadas pelas empresas (algumas fazem-no!) e o Estado, de facto, tudo deve fazer para evitar e penalizar tais casos.

    As qualificações devem ser pagas em conformidade, e não ocorrer uma especie de proletarização dos qualificados, que certas alas gostam de promover e defender a todo o custo, esquecendo ou querendo ignorar o reverso da medalha.

    🙂

  4. Querem é escravos… este pensamento vem na mesma linha dos famosos anúncios pedindo candidatos com menos de 30 anos (quando não é com menos idade ainda)

  5. Essa história da mobilidade é outra… A facilidade em arrendar uma casa noutro ponto do país que não Lisboa ou Porto pode ser tarefa difícil, depois quem é que paga os custos da deslocalização? Hmm pois, bem me parecia… Portugal nem aos cães começa a interessar…

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