Esporadicamente surgirão aqui artigos de opinião de convidados do Economia & Finanças. O de hoje é um guest post da autoria de Paulo Querido, jornalista e impulsionador da utilização e organização de conteúdos da Internet em Portugal. o Paulo é O fundador da TubarãoEsquilo, rede em que o Economia & Finanças se insere.
Qual é o modelo de negócio dos blogues?
A pergunta veio de uma licenciada em Relações Internacionais a fazer agora uma pós-graduação em marketing e comunicação empresarial. Qual o modelo de negócio dos blogues?
Em geral respondo às solicitações de estudantes de vários graus de ensino e o presente inquérito acabou por estar menos tempo na fila de correio do que é infelizmente costume, graças ao tempo que este fim de semana dediquei a desbastar as minhas inboxes.
Aqui ficam as perguntas e respostas, uma espécie de FAQ rápida ao dispor de outros estudantes.
- Qual o modelo de negócio dos blogues?
- Quais os objectivos do blogue? Porque é que alguém faz isto?
- Qual o retorno de investimento – ROI? Como é que se ganha dinheiro com os blogues?
- Quais os factores críticos de sucesso? Quais são os factores que levam ao sucesso dos blogues?
- Porque é que as empresas já utilizam os blogues para divulgar os seus produtos?
- E como o fazem? A quem se dirige os blogues (target – segmentos)?
- Os blogues estão a ser uma nova forma de marketing com muita força e poder?
A esmagadora maioria dos blogues não tem nem pretende ter modelo de negócios.
Os que têm, dividem-se em cinco modelos que se podem acumular, a saber:
* simplesmente, captar a atenção de uma audiência e fixá-la. A atenção está a tornar-se um bem escasso e quem a tenha, tem valor. Esse valor pode eventualmente mais tarde ser trocado por outro tipo de recompensa.
* ter publicidade remunerada nas páginas do blogue, podendo os rendimentos contribuir para os custos, ou mesmo garantir a profissionalização do blogger, como há cada vez mais casos, inclusivé em Portugal.
* vender serviços graças à reputação conquistada via blogue; podem ser serviços dentro do meio Internet ou serviços no meio físico, como é o caso de cronistas que ganham espaço nos jornais graças à suas prestações nos blogues e de escritores que promovem o seu nome e obra junto de audiências antes longínquas.
* usar a blogosfera para construir laços de proximidade com uma audiência interessada numa marca ou serviço de uma empresa.
* como o modelo 4, mas de forma desonesta, explorando a inocência do meio: criar links artificiais que, não correspondendo a uma apreciação efectiva da audiência para o produto em causa, vão porém alimentar a riqueza da marca em termos de resultados em motores de pesquisa. Temos em Portugal um triste caso de um marca bem conhecida, a Superbock.
Há milhares de milhões de razões, eventualmente uma razão por blogue. O maior denominador comum é a comunicação. Toda a gente quer participar comunicando.
O ROI é uma medida com fraca aplicação na Internet, em geral. Aplica-se apenas a casos particulares, como é o caso da publicidade contextual paga ao clique.
Ganha-se dinheiro com os blogues de diversas maneiras. No caso do Sapo, por exemplo, o lucro está na poupança do tráfego que deixa de ser pago a partir do momento em que os seus clientes consomem mais tráfego interno. No caso dos principais blogues internacionais e nacionais que geram receitas, a publicidade é a principal fonte, quando não a única. Também se ganha dinheiro a vender a imagem e/ou mensagens comerciais, bens intangíveis (software, posições em jogos…) e bens tangíveis (livros, bonecos de pano, camisolas…).
A ecologia da blogosfera determina duas linhas de razões para o sucesso. A primeira, e mais importante para o sucesso continuado, tem a ver com a qualidade da mensagem e capacidade dos autores. A segunda linha de razões diz respeito à sua rede de contactos. Esta pode ser fruto do acaso (pessoas que já tinham notoriedade noutros meios) ou do empenho (pessoas que aprendem a dominar o meio mais depressa que as outras).
Raras o fazem em Portugal e em geral fazem-no mal. As livrarias foram as primeiras a explorar o meio — mas começam a perder a capacidade de passar a mensagem à medida que o meio amadurece.
Não conheço a linguagem dos segmentos em termos de marketing. Os blogues começaram por se dirigir sobretudo às elites intelectuais e ociosas, com grande poder de compra. Hoje já estão nas classes mais modestas. Mas ainda estão longe das camadas desfavorecidas.
Por outras palavras, é escusado comunicar sabão através da blogosfera, mas comunicar marcas tem hipóteses de retorno. Fora de Portugal, comunicar serviços e produtos ligados às tecnologias também tem tido retorno.
São sem dúvida uma nova forma de marketing com grande potencial e estão a revolucionar o marketing, “obrigando-o” a situar-se ao nível conversacional. Isto é, empurram a comunicação que era vertical e formal para uma relação horizontal e de proximidade entre marca e audiência — isto quando não se mistura mesmo a marca com a audiência e vice-versa, em produtos-serviços-marcas interactivas. A Google, Inc e o sistema operativo Linux são dois casos de estudo diferentes deste último formato.
É pertinente o aviso: não é sensato migrar a comunicação de outros meios para o meio internet. A linguagem muda, o posicionamento muda, a relação muda. A Internet, a blogosfera, é um meio quente, instantâneo e precário.
Que me desculpe o Paulo Querido mas as respostas 3. 5. e 6. estão incorrectas. Na verdade o ROI (Return On Investement) pode ser aplicado para medir qualquer actividade de que se pretenda obter lucro até mesmo daquelas em que lucro não é meramente (ou sobretudo) financeiro. Desde que seja possível medir o investimento feito (em $ ou horas ou outra coisa qualquer que se queira valorizar) e se possa medir o resultado (também em qualquer tipo de bem que se queira valorizar) é possível calcular-se o ROI.
Na pergunta 5. não é verdade que as livrarias percam capacidade à medida que o meio amadurece. Quando o meio amadurece normalmente o que acontece é que se atinge o ponto em que o espaço destinado à publicidade atinge valores normalmente não comportáveis para qualquer pequeno negócio. Porém isto é verdade para meios essencialmente massificados e generalistas o que não é caso da blogosfera. Aqui precisamente porque o meio é segmentado naturalmente pelos interesses (um blog normalmente é sobre qualquer coisa bem especifica) temos um meio altamente especializado – de nicho se quisermos. E nestes tipos de meios mesmo os pequenos negócios ou negócios naturalmente segmentados como as livrarias podem continuar a comunicar de forma eficaz (e isto de certa forma é parte da resposta ao 6.)