Por estes dias é comum encontrar entre a imprensa Norte-Americana referências a fontes alternativas de financiamento. Alternativas aos Bancos que, ou deixaram de emprestar dinheiro a algumas pessoas, ou aumentaram os seus prémios de risco subindo as taxas de juro reais sobre os novos créditos. À escala, e atendendo à subida recente e aparentemente para ficar, dos spreads bancários em Portugal, julgo que é um assunto que nos poderá interessar.
Já aqui referi no passado o Zopa, um sítio que promove uma solução de Social Lending, permitindo os empréstimos directos entre aforradores e investidores (ver aqui e aqui) permitindo-lhes acertar as respectivas condições contratuais. Tanto quanto sei o cenário não mudou por cá: este tipo de iniciativas não existe em Portugal.
Mas é sempre possível pedir dinheiro emprestado à família ou aos amigos mesmo não havendo intermediário pelo meio, afinal, o intermediário é útil quando não há uma relação de confiança prévia entre os intervenientes. Lendo “The benefits of borrowing from relatives or friends” hoje publicado no MarketWatch percebe-se desde logo que lá (nos EUA) como cá, há um custo emocional, ou diria social, associado a esta solução: pedir dinheiro emprestado à família pode ser visto como um sinal de insucesso, de claudicação na afirmação pessoal. Mas também lá, como cá, isso não passa de um disparate do qual beneficiam directamente terceiros (os Bancos), em prejuízo de todos: de quem precisa e de quem tem para emprestar.
No artigo já referido apresentam-se argumentos chave na defesa desta forma de financiamento com os quais concordo. Vejamos os principais:
Risco reduzido: se o seu filho, amigo ou outro familiar em quem confia não lhe paga o que deve quem irá pagar? Antes de emprestar tem uma vantagem enorme sobre qualquer instituição financeira: conhece exactamente (ou quase) o risco que corre pois tem anos e anos de história comum com a pessoa que lhe pede o dinheiro sabendo até onde pode ir e que risco está a correr. E, para dormir mais descansado (perante um divórcio inesperado, por exemplo) não é crime nenhum assinar-se um contrato simples onde se atesta a dívida.
Do lado de quem pede: poderá conseguir ajustar mais facilmente o peso do encargo ao fluxo dos seus rendimentos. O seu familiar terá à partida mais disponibilidade para receber pagamentos irregulares ou concentrados em certas alturas do ano ou do seu ciclo de vida/profissional. Mais facilmente compreenderá e o ajudará perante uma situação de desemprego do que um banco, por exemplo.
Todos ganham: em regra, quem pede emprestado pode pagar menos que ao banco e ainda assim estar a oferecer uma remuneração acima daquela que quem aforrou alguma vez conseguiriam numa aplicação de baixo risco (como os depósitos a prazo).
Os custos de contratualização diminuem drasticamente: custo de dossier, comissão de apoio jurídico, custos com hipotecas, imposto sobre o valor emprestado, anualidades de cartões de crédito, comissões por-que-sim, tudo isto faz parte de outro cenário que não o de um empréstimo directo entre conhecidos com confiança mútua. E no caso de empréstimos entre pais e filhos as próprias obrigações fiscais são mínimas. Mesmo havendo um contrato onde se atesta a dívida, os custos serão infinitamente inferiores aos cobrados por uma instituição financeira.
Em suma, há prós e contras, mas ultrapassando o estigma social e havendo familiares com capacidade para emprestarem (o que infelizmente não está ao alcance de muitas famílias), é caso para pensar duas vezes antes de ir ao banco.
Diz-se “não emprestes dinheiro a um amigo, arriscas-te a perder ambos”. Penso que o mesmo se aplica a familiares (não literalmente, a maior parte das relações familiares são “inquebráveis”).
É, esse preconceito é uma forte barreira. Mas parece-me que pelo “serviço” que os bancos estão a fazer em destruir a sua própria imagem há um novo preconceito a nascer…
Boa tarde; acerca deste assunto será que me poderia ilucidar como é que a nivel das Finanças se enquadra o mesmo, ou seja,há lugar a algum pagamento de imposto?… é que ouvindo histórias de pagar impostos acima de dádivas de 500 euros…enfim, ficamos sempre á espera de outras coisas…Cumprimentos.