Caro Vizinho (permita-me esta liberdade a que acho piada na blogoesfera, bem como a minha discrição);
Antes de mais, deixe-me que lhe diga que admiro e acompanho o seu Blogo Existo.
Na prosa que escreveu ontem e que intitulou Superstições Económicas, onde aborda o debate que se vai fazendo quanto às alternativas de gestão para a sustentabilidade financeira de um sistema de segurança social, afirma que:
“(…) se diminuir a população activa por motivo do seu envelhecimento, e se a produtividade não crescer o suficiente para compensar essa quebra, o rendimento futuro de quem investir em títulos ressentir-se-á por tabela.
É por isso que o regime de capitalização não é melhor nem pior do que o de distribuição no que toca a evitar o problema do envelhecimento da população.(…)“
Sem querer contrariar os factos que enuncia, ocorreu-me pôr em causa as permissas, nomeadamente uma que me parece implícita: o investimento em títulos dos fundos oriundos da componente em regime de capitalização é realizado a nível nacional. Mas teria de ser assim? Se se levantar essa restrição, o investimento ao poder ser feito em outras zonas do globo que escapem ao lastro decadente da demografia e, eventualmente de produtividades insuficientes, não poderia levar à “importação de riqueza” (sendo dinamizador dessas economias com maior potencial), constituindo-se assim como uma vantagem face a um regime que não contemplasse a capitalização?
São estas as questões que lhe deixo.
Despeço-me com os melhores cumprimentos,
R
Como eu disse, a análise pode ser complicada…
A sua observação faz todo o sentido. Entretanto, note duas coisas:
1. A solução que sugere implica a saída de capitais até ao momento em que os títulos forem resgatados, um problema grave para um país com um elevado desequilíbrio da balança de transacções correntes como o nosso.
2. Ao risco usual de um investimento no mercado interno de capitais somar-se-ia o risco cambial. Se a coisa desse para o torto, já se sabe que o Estado teria que intervir para os pensionistas não ficarem na miséria.
Assim sendo, importar trabalhadores imigrantes e deixar a Segurança Social como está parece-me uma solução melhor do que exportar capitais para financiar a transição para um sistema de capitalização.
Sem me comprometer em definitivo quanto à superioridade de uma solução face à outra (até porque o balanço parece-me que depende largamente dos detalhes ficando com a impressão que nas doses certas se poderiam ter soluções igualmente razoáveis pelas duas vias) acho o seu “assim sendo” particularmente feliz.
Fica no ar a ideia de que a imigração tem feito muito mais pela sustentabilidade da segurança social portuguesa do que a generalidade da medidas e omissões dos últimos governos enquanto actores directo na saúde do sistema. Fica a idea e parece-me uma muito boa ideia que não andará longe da verdade.
Obrigado pelo comentário.