Economia portuguesa acelera 3º trimestre 2025

Porque é que a economia portuguesa acelerou pelo 3º trimestre consecutivo? (3º Trimestre 2025)

Com a divulgação dos valores preliminares do produto interno bruto relativos ao 3º trimestre de 2025 pelo INE, constata-se que após a forte desaceleração da atividade económica entre o 4º trimestre de 2024 e o 1º trimestre de 2025 (passando de um crescimento homólogo de 2,6% para 1,7%, respetivamente), a economia portuguesa está a acelerar pelo 3º trimestre consecutivo.

De facto, o PIB cresceu em termos homólogos e já descontado o efeito dos preços, 1,7%, 1,8% e agora 2,4%, respetivamente em cada trimestre do ano. Segundo o consenso económico recolhido junto de vários analistas que têm por hábito realizar projeções para a economia portuguesa um crescimento de 2,4% estava claramente acima do intervalo de expectativas.

O PIB não só cresceu face ao mesmo período do ano anterior como também registou uma evolução claramente positiva face ao trimestre imediatamente anterior tendo crescido 0,8%.

Porque é que a economia portuguesa acelera pelo 3º trimestre consecutivo?

Se nos primeiros dois trimestres o crescimento foi relativamente modesto e antecipável (note-se que a economia chegou mesmo a contrair, em cadeia, entre o último trimestre de 2024 e o primeiro de 2025) a grande surpresa surge com o saldo de 0,6 pontos percentuais em variação homóloga entre o 2º trimestre e o 3º trimestre.
O INE, ainda com informação incompleta, aponta para uma melhoria da procura externa líquida que não teve um contributo tão negativo como há um ano (com as exportações a acelerarem e as importações a desacelerarem). Note-se que, neste contexto, quando falamos de comércio internacional incluem-se não só os bens mas também os serviços com o o turismo.

E quanto à procura interna onde se inclui o consumo? Apesar de o 3º trimestre ter beneficiado de um aumento extraordinário de rendimento para muitas famílias, por via das mexidas no IRS, do pagamento de retroativos e do aumento extraordinário de pensões (setembro), a verdade é que o INE, apesar de assinalar uma aceleração do consumo, assinala também uma desaceleração na outra componente que integra a procura interna: o investimento. Após a análise do conjunto dos dois efeitos o INE concluiu:

O contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB manteve-se próximo do observado no trimestre anterior

Ou seja, o aumento do consumo não foi um puxa carroça assim tão forte para explicar o crescimento de 2,4%. No final de novembro saberemos mais detalhes com a difusão de dados mais pormenorizados pelo INE.

Entretanto, colocando a situação em perspetiva o crescimento agora registado embora surpreendente face às expectativas criadas, está significativamente abaixo do registado ao longo od ano de 2023 e, como já vimos, dos 2,6% registado no final de 2024, estando ainda mais distantes doa meta de 3% apontado inúmeras vezes pelo atual ministro das finanças como uma meta perfeitamente alcançável (quando ainda em campanha eleitoral). Mais recentemente Miranda Sarmento apontou a meta de 3% como um objetivo a atingir até ao final da legislatura, em 2029, e não como uma meta a registar continuamente em cada ano.

Curiosamente, na comparação entre abril-junho e julho-setembro deste ano (+0,8%) o INE já identifica isoladamente a aceleração do consumo privado como um fator relevante, em conjunto com uma degradação da situação no comércio internacional.

Economia portuguesa acelera 3º trimestre 2025
Fonte: INE

2024 versus 2025 e a política eleitoral

Uma última nota para assinalar que em 2024 já tinha existindo um efeito similar de aumento extraordinário do rendimentos disponível para as famílias. Ainda assim, nessa circunstância, este ocorreu nos meses de setembro e de outubro, abrangendo dois trimestres diferentes (o fim do 3º e o início de 4º).  Politicamente, o período coincidiu com a discussão do orçamento do estado para 2025, havendo a perspetiva de uma possível queda do governo minoritário que poderia atirar o país para eleições legislativas entre o final de 2024 e o início de 2025, o que não veio a suceder.

Em 2025, o governo apesar de repetir o pagamento de retroativos do IRS em dois meses, “antecipou” esse pagamento em um mês, concentrando-o em agosto e setembro e não em setembro e outubro pelo que, em 2025, não existirá qualquer empurrão extra no rendimento do 4º trimestre. Resta saber se isso se tornará visível em termos de PIB quando daqui a três meses se comparar o PIB dos últimos dois trimestres do ano de 2024 e de 2025.

Em artigo complementar far-se-á a comparação da evolução do PIB de Portugal com o dos restantes parceiros da União Europeia que já divulgaram informação relativa ao 3º trimestre de 2025.

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