Nunca a economia portuguesa teve tamanha capacidade de emprestar tanto ao estrangeiro

O que queremos dizer exatamente com a frase do título “Nunca a economia portuguesa teve tamanha capacidade de emprestar tanto ao estrangeiro“? Estamos a falar das capacidades líquidas de financiamento ao exterior dos setores institucionais da economia portuguesa.
Queremos sublinhar que a economia portuguesa nunca teve tantas capacidades excedentárias de financiamento desde, pelo menos, o ano 2000.

No ano terminado no primeiro trimestre de 2024, a economia portuguesa geram um “excedente” ou saldo externo de €8.760 milhões, ou seja, existiam cerca de 3,2% do PIB disponíveis para financiar outros países.

Capacidades líquidas dos setores institucionais 2000 a 2024

Na realidade, o INE apurou que os resultados líquidos ou capacidades líquidas dos setores institucionais da nossa economia (famílias, empresas não financeiras e estado) atingiram um valor máximo positivo no ano terminado no fim do primeiro trimestre de 2024 face a, pelo menos, dados históricos recolhidos nos últimos 24 anos.

Estes dados são uma novidade pelo valor recorde mas resultam de uma evolução que se regista desde o final de 2012 com uma ligeira interrupção durante o pico do impacto da pandemia de COVID 19.

A evolução positiva deste indicador veio a ser mais vincada em 2023 e início de 2024 e resulta tanto do excedente do saldo das contas do setor Estado como da melhoria do saldo positivo das famílias.

Entre as empresas não finaceiras a situação encontra-se relativamente estagnada, em valores negativos, e as financeiras relativamente estagnadas mas em valores positivos.

Capacidades líquidas dos setores institucionais 2000 a 2024
Fonte: Economia e finança com base em dados do INE (Contas Nacionais Trimestrais por Setor Institucional)

 

Os dados no ano terminado no fim de cada trimestre usarma dados de base do INE. Eis a série completa para o total da economia portuguesa.

Ano terminado no trimestre Capacidade / necessidade líquida de financiamento em % do PIB
1º Trim 2000 -7,7%
2º Trim 2000 -9,0%
3ª Trim 2000 -9,2%
4º Trim 2000 -9,4%
1º Trim 2001 -9,1%
2º Trim 2001 -9,1%
3ª Trim 2001 -9,1%
4º Trim 2001 -8,6%
1º Trim 2002 -8,2%
2º Trim 2002 -7,4%
3ª Trim 2002 -7,3%
4º Trim 2002 -6,7%
1º Trim 2003 -5,7%
2º Trim 2003 -4,9%
3ª Trim 2003 -4,3%
4º Trim 2003 -4,5%
1º Trim 2004 -5,0%
2º Trim 2004 -5,4%
3ª Trim 2004 -6,0%
4º Trim 2004 -6,5%
1º Trim 2005 -7,3%
2º Trim 2005 -7,7%
3ª Trim 2005 -8,2%
4º Trim 2005 -8,4%
1º Trim 2006 -8,7%
2º Trim 2006 -9,2%
3ª Trim 2006 -8,8%
4º Trim 2006 -8,9%
1º Trim 2007 -8,1%
2º Trim 2007 -7,7%
3ª Trim 2007 -8,0%
4º Trim 2007 -8,6%
1º Trim 2008 -9,4%
2º Trim 2008 -10,3%
3ª Trim 2008 -11,3%
4º Trim 2008 -11,0%
1º Trim 2009 -11,0%
2º Trim 2009 -10,1%
3ª Trim 2009 -8,8%
4º Trim 2009 -8,6%
1º Trim 2010 -8,7%
2º Trim 2010 -9,3%
3ª Trim 2010 -9,5%
4º Trim 2010 -9,0%
1º Trim 2011 -8,0%
2º Trim 2011 -6,7%
3ª Trim 2011 -5,3%
4º Trim 2011 -3,6%
1º Trim 2012 -2,9%
2º Trim 2012 -1,4%
3ª Trim 2012 -0,5%
4º Trim 2012 0,3%
1º Trim 2013 1,4%
2º Trim 2013 2,3%
3ª Trim 2013 2,5%
4º Trim 2013 2,6%
1º Trim 2014 2,3%
2º Trim 2014 1,9%
3ª Trim 2014 1,8%
4º Trim 2014 1,2%
1º Trim 2015 1,3%
2º Trim 2015 0,6%
3ª Trim 2015 1,1%
4º Trim 2015 1,2%
1º Trim 2016 1,2%
2º Trim 2016 1,4%
3ª Trim 2016 1,6%
4º Trim 2016 1,5%
1º Trim 2017 1,9%
2º Trim 2017 1,6%
3ª Trim 2017 1,8%
4º Trim 2017 1,8%
1º Trim 2018 1,8%
2º Trim 2018 1,7%
3ª Trim 2018 1,7%
4º Trim 2018 1,2%
1º Trim 2019 0,7%
2º Trim 2019 0,9%
3ª Trim 2019 0,7%
4º Trim 2019 1,0%
1º Trim 2020 1,1%
2º Trim 2020 1,1%
3ª Trim 2020 0,1%
4º Trim 2020 -0,2%
1º Trim 2021 0,2%
2º Trim 2021 0,2%
3ª Trim 2021 0,7%
4º Trim 2021 0,6%
1º Trim 2022 -0,4%
2º Trim 2022 -0,5%
3ª Trim 2022 -0,8%
4º Trim 2022 -0,4%
1º Trim 2023 0,5%
2º Trim 2023 1,7%
3ª Trim 2023 2,6%
4º Trim 2023 2,7%
1º Trim 2024 3,2%

 

Quais são os setores institucionais da economia portuguesa?

  • Sociedades Não Financeiras (S.11);
  • Sociedades Financeiras (S.12);
  • Administrações Públicas (S.13);
  • Famílias e Instituições sem Fins Lucrativos ao Serviço das Famílias (ISFLSF)(S.1M);
  • Resto do Mundo (S.2).

Um comentário

  1. A inversão só foi possivel com o programa da troika. Subida de impostos, redução de subsidios, corte no investimento. A partir de 2015 o governo teve o bom senso, apesar das duras criticas à gestão anterior no que concerne os impostos e certos subsidios, de manter no essencial a estrutura dos impostos (IRS, IVA), desagravando alguns (sobretaxa de IRS), e aumentando outros para compensar (combustiveis). Deu resultado, ou seja, os deficits orcamentais e os deficits da balança de transacçoes correntes estagnaram ou mesmo tornaram se superavitarios. Menos bem foi a continuação da travagem do investimento acarretando fecho de empresas e emigração. Para o futuro é essencial evitar grandes alteracções nas grandes variáveis macro (nível de impostos, etc) embora a tendencia deverá ser a redução progressiva (IRS, IRC), deixando os impostos indirectos(IVA, combustiveis) como varável de ajustamento para assegurar contas sem derrapagens.

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