Economia & Finanças

Taxa de juro dos certificados de aforro em alta – depósitos a prazo estagnados

Com a alteração em curso da política monetária por parte do Banco Central Europeu os primeiros efeitos mais visíveis surgem no juro cobrado às emissões de dívida pública e na euribor, a taxa indexante para a maioria dos créditos, em especial créditos à habitação contratados com a banca.

A subida generalizada das taxas de juro não atinge, para já, o custo do dinheiro em vigor para os bancos, imposto pelo regulador bancário pelo que estes continuam com muito poucos incentivos para subir a remuneração das taxas de juro passivas, ou seja, as dos depósitos a prazo.

Estamos assim num período em que pedir dinheiro emprestado ao banco é cada vez mais caro e aforrar através de depósitos bancários continuam cada vez menos interessante, pois o juro não está a acompanhar minimamente a escalada do imposto invisível que é a inflação.

Há, no entanto, uma aplicação de poupança com o mesmo nível de risco que um depósito a prazo que está a reagir de imediato às subidas da euribor, em particular da euribor a 3 meses: os certificados de aforro.

Taxa de juro dos certificados de aforro em alta

Para saber porque é que as taxas de juro dos certificados de aforro estão em alta é preciso recordar a fórmula de cálculo da remuneração da série E, a série que está viva no sentido em que permite novas subscrições.

A série E dos certificados de aforro, criada em 2017, remunera a poupança a uma taxa composta por várias parcelas. Até ao início do 2º ano de antiguidade são duas parcelas: um prémio fixo de um ponto percentual a que se soma o valor da euribor a 3 meses.

A partir do início do 2º ano até ao final do 5º junta-se uma terceira parcela correspondente a meio ponto percentual e a partir do início do 6º ano até ao final do décimo (momento em que esta série de certificados atinge a maturidade e o capital regressa à conta à ordem do aforrador), o prémio duplica para um ponto percentual.

Ou seja, em suma, os certificados pagam um juro correspondente à euribor a 3 meses a que se soma um prémio de 1% ou de 1,0% + 0,5% (totalizando 1,5%) ou de 1,0%+1,0% (totalizando 2,0%), consoante a antiguidade do certificado seja inferior a 1 ano, superior a 1 ano mais inferior a 6 ou superior a 6 anos.

Há ainda mais dois limites: a taxa global nunca poderá ser inferior a zero (o que poderia ter acontecido em tese de a euribor a 3 meses tivesse caído abaixo do ponto percentual negativo) nem superior 4,5% (já somando a totalidade dos prémios de permanência).

Por outro lado, o mínimo de subscrição continua nos €100 e o máximo nos €250.000. Os juros capitalizam e o certificado extingui-se ao fim de 10 anos.

Dito isto, é fácil perceber que nos últimos anos, com a Euribor a 3 meses sistematicamente negativa, o juro dos certificados de aforro foi sempre inferior a 1% pois a euribor “comia” parte do prémio.

Atendendo a que só em 2023 haverá contas da série E a chegar aos 6 anos e assim a atingir o prémio máximo de fidelização de 2%, até aqui, só nos certificados já com mais de um ano é que se atingiram valores mais próximos de 1%, barreira que só veio, de facto, a ser superada nos últimos meses quando a euribor a 3 meses iniciou a sua escalada ascendente passando a ser cada vez menos negativa.

Tudo indica que tal tendência irá acelerar e manter-se esperando-se que dentro de alguns meses a euribor a 3 meses regresse a valores positivos, algo que já se regista com a euribor a 12 meses desde abril.

Assim, a taxa de juro nominal brutal dos certificados de aforro no primeiro semestre de 2022 tem subido consecutivamente. Na tabela seguinte vemos qual o juro anualizado para subscrições realizadas em cada um dos meses de 2022 até ao momento. Pode constatar-se que a taxa de juro subiu mais de 50% entre janeiro de junho.

MêsTaxa de Juro Anual dos Certificados de Aforro (%)
Jan-20220,411%
Fev-20220,444%
Mar-20220,475%
Abr-20220,511%
Mai-20220,555%
Jun-20220,633%
Informação recolhida no sítio do IGCP

É certo que a este juro é ainda necessário retirar os 28% de IRS de taxa liberatória e é também certo que a inflação média anual caminha a passos largos para atingir os 4% muito antes das previsões do Banco de Portugal. Mas é também certo que poupança colocada a zero perde muito mais poder de compra do que poupança colocada a uma taxa superior a zero e, como se explicou em cima, pelo menos em relação à escalada da Euribor, os certificados de aforro oferecem proteção bonificada com prémio de fidelização.
Não atualizámos recentemente a nossa base de dados de depósitos a prazo, contudo cremos que poucas alterações haverá face ao que recolhemos já há alguns meses. Uma das maiores diferenças será mesmo a de que os certificados de aforro ganham competitividade.
Ainda antes do final de 2022 iremos voltar a visitar os sítios dos bancos nacionais em busca de sinais de subidas de taxa de juro nos depósitos a prazo, mas, para já, essa tarefa continua a ter baixa probabilidade de revelar surpresas positivas para os aforradores.

Provável mesmo é que a inflação continue a erodir a ritmo crescente quem tenha poupanças, em especial quem cuide de as colocar paradas em depósitos à ordem ou debaixo do colchão.

Mais informação no IGCP.

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