Inflação Oficial de 2021 fecha em 1,3% – Banco de Portugal fica mal na fotografia

A taxa de inflação oficial de 2021 fecha em 1,3%. É raro num único mês a variação média anual do índice de preços no consumidor (IPC) aumentar três décimas, afinal de contas, este indicador, é compostos por informação referente a 24 parcelas de dados relativas a 24 meses. No fundo, responde a qual a variação do custo médio do cabaz de preços no consumidor (escolhido pelo INE) dos últimos 12 meses sobre o custo médio de idêntico cabaz nos 12 meses anteriores. É assim uma média móvel, menos sensível a variações mensais e o valor da variação apurado no último mês de cada ano é a tradicional taxa de inflação anual.

O que se passou desta vez para que a média anual subisse de novembro para dezembro três décimas quando geralmente tem variações de uma ou duas décimas quanto muito? nada de muito surpreendente para quem analisasse condignamente toda a série temporal dos últimos 24 meses, na realidade.
Conjugaram-se dois efeitos associado à própria mecânica de cálculo do indicador que passa por garantir que sempre que entra um novo mês, entra uma nova observação e sai uma outra relativa ao mês mais distante para assim se manter a média anual.
Ora este procedimento matemático, nos últimos meses, tem levado a que saiam das contas dados com variações implícitas muito negativas (as mais negativas de todas as variações consideradas na conta de 24 termos) e que, por outro lado, entrem os dados com variações implícitas positivas (as mais positivas de todas as variações consideradas na conta de 24 termos).

De forma simples, estão a sair os valores mínimos (que revelavma descidas de preços) e a entrar os valores máximos (que revelam subidas de preços). A combinação dos dois efeitos é dramática e mesmo um indicador habitualmente suave não resiste a sinalizar que se está a registar um comportamento significativo, neste caso, de maior subida generalizada dos preços.

E assim fechamos o ano com uma taxa de inflação de 1,3%, a mais alta desde 2017.

Este valor será, ainda assim, um valor historicamente baixo. Desde 1978 só em 8 anos a inflação foi mais baixa, no entanto, 7 deles registaram-se nos últimos 9 anos o que é especialmente significativo.

O que está a fazer subir os preços e vai continuar?

A subida dos preços é, no essencial, importada e, ainda que os dados divulgados pelo INE sejam ainda preliminares, é já possível identificar nos preços da energia o motor fundamental dos preços, uma realidade potenciada também por algum desajuste entre a oferta de materiais a nível internacional (semicondutores, matérias primas) e a subida da procura em cenário de progressiva normalização económica apesar da pandemia.

Ainda assim, este último efeito de preços poderá só agora estar a começar a passar para os consumidores finais dado que, em primeira análise, tem afetado a produção e não o consumo.

O INE destaca:

O indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos) terá registado uma variação de 1,8% (1,7% no mês anterior). Estima-se que a taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos se situe em 11,2% (14,1% no mês precedente) enquanto o índice referente aos produtos alimentares não transformados terá apresentado uma variação de 3,2% (0,8% em novembro). 

INE

Inflação em Portugal moderada face a parceiros europeus

Apesar da inflação ter fontes claras que pouco terão a ver com um sobreaquecimento da economia local (não temos propriamente um crescimento acelerado acima da capacidade de produção intrínseca em Portugal) que aconselhe a medidas de contenção da atividade económica, a verdade é que a economia globalizada pode gerar fenómenos peculiares que mimetizam os mesmos efeitos, desde logo porque a nossa produção depende de consumos intermédio que bens que importamos.

E isto estará a acontecer ainda que com um pretexo completamente atípico como seja a disrupção provocada pela pandemia e as notícias de práticas de açambarcamento de alguns produtos por parte de grandes economias como a Chinesa.

A verdade é que a persistência de preços elevados na energia e de desequilíbrios entre a procura e oferta em alguns bens críticos para vários setores pode acabar por gerar um alastramento do fenómeno inflacionista que poderá ou não vir a ser problemático. O tempo o dirá.

Para já, o choque é inegável, no sentido em que, como dissemos para Portugal mas que se pode generalizar para boa parte do resto do mundo, já há alguns anos que não tinhamos que lidar, para o bem e para o mal, com inflação (sim, nem tudo é mau em ter alguma inflação, pode até ser muito saudável). E, neste particular, quando comparado com os nossos parceiros, Portugal está claramente a passar por esta onda de forma especialmente suave pois regista uma das taxas de inflação mais baixas da Europa.

Espanha, por exemplo, tem registado uma inflação muito superior, muito à conta da forma como a relação contratual entre operadores e clientes de energia está definida e também à conta da estrutura de custos associados à rede. As diferenças substanciais entre estre dois aspetos têm gerado a singularidade de, dosi países que partilham um mercado comum de energia onde o preço diário é definido de forma igual para toda a península ibérica, acabam por ter, no consumidor final, preços muito diferentes.

Esta realidade poderá não ser muito evidente para os consumidores de energia portugueses em mercado liberalizado ou mesmo regulamentado que têm sentido subidas de preços, mas a verdade é que em Espanha o cenário tem sido muito mais dramático.

Fonte: INE

Atualizações salariais sobre pressão: abaixo de 1,3% há perda de poder de compra

Com a inflação a fechar o ano nos 1,3%, algumas das atualizações de preços ou de remunerações já definidas e que pretendiam assegurar a manutenção do poder de compra e que se baseavam em previsões que apontavam uma inflação mais modesta para 2021 em cerca de 0,4 ou 0,5 pontos percentuais (como sucedeu com a do Banco de Portugal ou do Ministério das Finanças ou mesmo da OCDE, da Comissão Europeia ou Conselho de Finanças Pùblicas) ficaram muito aquém do pretendido. Por exemplo, os funcionários públicos que terão um aumento de 1%, na realidade irão perder poder de comprar face a uma inflação de 1,3%. E o mesmo se aplicará a quem não tiver aumentos de, pelo menos, 1,3%.

Aumentos inferiores a este patamar estarão assim, objetivamente, a induzir um abrandamento dos preços à conta de perda de poder de compra e a contribuir para uma estabilização da inflação.

Como esta a evoluir a inflação – a estranha previsão do Banco de Portugal

Além da variação média anual no final de 2021, os dados do INE relativos à estimativa rápida de dezembro, revelam também que a taxa de inflação continua a acelerar.

Os preços em dezembro de 2021 face a dezembro de 2020 aumentaram 2,8% enquanto que em novembro de 2021 comparado com o mês homologo tinham aumentado 2,6%. A expectativa é assim de que a inflação média anual continue a aumentar significativamente com a saída de mais dados muito baixos e a entrade de observações que ainda estão claramente acima da média anual. Afinal de contas 2,8% é mais do dobro de 1,3%.

Face às previsões mais recentes e completamente erradas do Banco de Portugal (BdP) para a inflação de 2021 – ainda em dezembro, há escassos dias, portanto, no seu Boletim Económico, o BdP insistia com uma inflação para 2021 de 0,9% quando era já evidente que esse cenário era altamente improvável -, é legítimo duvidar que a melhor previsão para a inflação em 2022 se deva manter nos 1,8% previstos, na mesma altura, pelo Banco de Portugal.

Ainda assim, antecipar 1,8% para o final de 2022 no final de 2021 é mais razoável do que no início de dezembro de 2021 prever 0,9% para um indicador que poucos dias depois se iria fixar em 1,3% (em rigor o Banco de Portugal prevê o IHPC que se distingue ligeiramente do IPC mas que raramente difere deste em mais de uma décima). Não é habitual o BdP cometer este tipo de erros perante uma evidência tão avassaladora de dados que recomendariam uma revisão ambiciosa. Talvez o midlle of the road assessment que sempre deve temperar dados de um qualquer modelo de previsão tenha falhado ou então o contrário, foi insuficiente para introduzir bom senso em algum modelo mais esotérico. A rever, certamente.

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