No âmbito do Programa de Estabilização Económica e Social publicado em Diário da República a 7 de junho de 2020 e aqui abordado em vários artigos, o governo elaborou um novo cenário macroeconómico que atualiza as Projeções Macroeconómicas para 2020 e 2021.
O queda será expressiva e a recuperação será lenta.
Projeções Macroeconómicas para 2020 e 2021
No início de junho de 2020 o governo divulgou previsões que estimam uma queda do Produto Interno Bruto de 6,9% em 2020 e uma recuperação de 4,3% em 2021, ainda assim claramente insuficiente para garantir uma recuperação da capacidade produtiva entretanto perdida.
Comércio internacional e Investimento
Para este cenário contribuem as expectativas extremamente negativas para o comércio internacional (mais as exportações do que as importações) mas também a queda abrupta no investimento, indicadores com quedas acima dos dois dígitos.
Consumo privado em colapso, público a tentar compensar
As perspetivas para o consumo privado são sombrias, com este macro-indicador para passar dos +2,2% em 2019 para os -4,3%. Numa tentativa de mitigar o impacto da crise, o Estado deverá reforçar a injeção de recursos na economia aumentando o seu consumo em dois pontos percentuais de 2019 para 2020, para os 3,1%. Esperando-se uma contração do consumo público em 2020 (-0,8%), ano em que o consumo privado estará de regresso ao crescimento (+3,8%).
Inflação dá lugar à deflação
Tal como aqui já havíamos sugerido, o cenário para a inflação deverá ser o de deflação, ou seja, deveremos ter umas descida generalizada dos preços que, segundo a previsão do governo – que à data em que escrevemos nos parece pecar por defeito – aponta para uma queda de 0,2%. A previsão da inflação para 2021 continuará a ser muito modesta de apenas 0,4%.
Taxa de desemprego em alta
Já sem surpresa, a previsão para a evolução da taxa de desemprego aponta para uma aumento significativa, passando dos 6,5% em 2019 para um valor ligeiramente abaixo dos dois dígitos (9,6%). A projeção para 2021 aponta para uma retração lenta: uma queda de cerca de um ponto percentual face a 2020.
Conclusão e opinião
Como todas as previsões estas revelam um ponto central num intervalo de probabilidades que, em ambiente de crise global, será especialmente amplo. Há demasiado fatores relevantes com impacto direto e indireto na evolução do desempenho da economia nacional, tanto mais relevantes quanto nos últimos anos ficámos mais abertos ao exterior. A resposta à crise por parte de outros países e a eficácia das medidas europeias será extremamente importante a nível interno assim como a eficácia das medidas já implementadas bem como as que agora se projetam através do PEES.
Infelizmente, numa leitura ainda superficial poderá haver alguma preensão justificada face à complexidade de modulação de algumas medidas. Muito dependerá da capacidade dos visados em a elas reagirem, as saberem interpretar e usar, bem como ao aparelho do Estado em as conseguir operacionalizar com o maior rigor mas também com a menor complexificação burocrática e demora administrativa possível.
Uma coisa é certa, o papel do Estado está a ser e continuará a ser crítico nos próximos meses para mitigar o impacto e para dinamizar uma retoma com o menor dano possível, numa contexto único onde, recorde-se, quase toda a atividade económica esteve parada e onde ainda não é certa a evolução de médio prazo da pandemia.
Não deixe de ler todos os artigos sobre o COVID-19 que temos publicado, muitos deles destacando perguntas e respostas sobre algumas das medidas mais emblemáticas.