Imaginem um país mágico onde a sua atividade económica estava extremamente dependente da cultura do café. E imaginemos que o café era sempre colhido, seco, torrado e vendido no terceiro trimestre em cada ano.
Todos os anos o PIB desse país era exuberante no terceiro trimestre mas também todos os anos havia durante a larga maioria do ano uma duradoura frustração quanto à evolução da economia do país pois todos os anos o PIB desse país caía no quatro trimestre, voltava a cair no primeiro trimestre e tornava ainda a cair no segundo trimestre.
As manchetes catastrofistas sucediam-se durante nove meses com especial fulgor nos três momentos em que se divulgavam os dados trimestrais que retratavam a evolução da economia. Os jornalistas apareciam invariavelmente com ar carregado, os especialistas em economia confundiam-se com as cassandras da antiguidade, acertando sem falha no prognóstico: a economia ia cair. Falhavam uma vez em cada quatro, para ser rigoroso. Eram praticamente vistos como sobre-humanos.
Havia, contudo, no meio desta conjuntura eterna, uma pessoa que, entre dentes murmurava: “E no entanto estamos mais ricos a cada ano que passa“.
Esta era a única pessoa nessa terra que conhecia o poderoso efeito da sazonalidade e de como, para se perceber se o país crescia ou minguava, quando estávamos perante informação completamente dominada pela sazonalidade (do café) era importante comparar o que se tinha passado na mesma altura do ano em anos anteriores em vez de se comparar sempre com o que tinha acabado de acontecer nos três meses mais próximos.
Pode um país que em cada ano tem o PIB a cair durante 9 meses e a crescer durante apenas três, registar um enriquecimento contínuo? E quem diz o PIB, diz o emprego ou qualquer outra variável económica.