Em menos de 2 meses a yield das Obrigações do Tesouro a 10 anos (taxa de juro implícita) subiu quase 80% passando dos mínimos históricos em torno dos 1,6% para cerca de 2,85% sem que nada de significativo se tivesse passado internamente. Muito provavelmente este andamento estará relacionado com a imensa incerteza em torno do futuro da zona euro, da qual a situação grega é a erupção mais grave e persistente. As dúvidas sobre o que acontecerá à própria União Monetária perante uma suspensão ou saída da Grécia estão a conduzir automaticamente a um aumento do risco atribuído à dívida portuguesa, algo que só não estará a ter uma evolução mais dramática porque, ao contrário do que sucede com a Grécia, a dívida pública portuguesa está a ser aceite pelo BCE e incluída no programa de compras em massa que esta instituição iniciou em março, sinalizando que adquirirá boa parte da dívida de quem se queira ver livre dela – ajudando assim a evitar as yields que se registam na Grécia.
Esta evolução do juro implícita do dívida pública portuguesa a 10 anos que se aproxima da duplicação de preço nominal em dois meses é uma boa medida do grau da nossa vulnerabilidade total dentro da zona euro e após vários anos de ajustamento patrocinado pelos credores. Serve a quem se gaba que o pior já passou por causa da sua governação para demonstrar o engano e a ilusão em que isso se traduz e serve para quem, preparando-se para governar, se entusiasme ao ponto de se esquecer de que nunca estivemos tão vulneráveis como hoje.
No fundamental, serve ainda para recordar que sem uma solução política e economicamente mais ousada e sensata no seio da zona euro, dificilmente se resolverá o enorme desequilíbrio que subsiste e que, contrariamente ao que a fase inicial da crise sugeriu, está longe de se limitar aos países do sul com níveis mais elevados da dívida pública. A esse propósito vale a pena ver o que se está a passar na muito cumpridora Finlândia, em recessão por estes dias. Sobre o tema sugerimos um texto recente de Paul Krugman “The Finnish Disease” [“A doença finlandesa”] do qual destaco:
“(…) What’s going on in Greece represents a whole additional level of hurt, which nobody saw coming. But it’s important, I think, to realize that even countries that didn’t borrow a lot, didn’t experience large capital inflows, basically did nothing wrong by the official criteria, are nonetheless suffering in a major way.”