No passado dia 21 de abril de 2015 a euribor a três meses registou, pela primeira vez na história, um valor negativo: -0,001%. Ora a Euribor a três meses, não sendo o indexante mais popular para os créditos à habitação em Portugal, já é um dos mais relevantes num país onde quase todos os contratos de crédito têm juro definido a taxa variável. Segundo o Jornal de Negócios, a euribor a três meses foi usada em 42,9% dos contratos de crédito à habitação abrangendo cerca de 666 mil famílias.
Quem tiver um crédito indexado à euribor a três meses e estiver na iminência da definição trimestral da prestação da casa irá pagar um juro inferior mas demorará algumas semanas até que a média mensal seja negativa. Nessa altura, expectavelmente daqui a algumas semanas, o juro a pagar será de valor inferior ao spread que contratou dado que, segundo o Banco de Portugal (ver “Euribor negativa é para aplicar“), os bancos terão de refletir no juro a cobrar o valor do indexante, mesmo que este seja negativo. No caso, ao spread contratado será subtraído o valor de 0,001 ou outro caso a euribor nos próximos dias, semanas ou meses continue a descer para valores negativos. Para quem conseguiu contratos de crédito com spreads reduzidos poderá assim ficar muito próximo de pagar apenas a amortização do capital e praticamente nenhuns juros em cada mês que passa.
A Euribor a três meses é também um indexante que tem sido popular no empréstimo a empresas, sendo por exemplo, um indexante popular em alguns créditos volumosos a alguns clubes de futebol. Também estas empresas poderão beneficiar desta conjuntura particularmente favorável.
Note-se que do ponto de vista da banca, estes valores das taxas de juro de referência colocam sérios desafios à rentabilidade do negócio. Muito frequentemente, as instituições financeiras assinaram contratos de crédito a dezenas de anos, antecipando cenários de taxas de juro muito diferentes dos atuais, não se tendo precavido devidamente com financiamento com custo compatível com o que passaram aos seus devedores. Gerir um banco num cenário de juros negativos durante um período de tempo extenso pode vir a revelar-se insustentável, em particular atendendo a que a qualidade da carteira de crédito, por exemplo em Portugal, continua a degradar-se com cada vez mais famílias e empresas a falhar pagamentos (face ao total do crédito concedido).
Não é surpreendente verificar que há bancos a operar em Portugal que estão ativamente a tentar alterar os spreads praticados em contratos mais antigos, por exemplo, oferecendo mais crédito por troca de um spread médio do novo crédito mais elevado.
Continuaremos a acompanhar este tema.
coitadinhos dos bancos