Classe Média - Dados de 2016

Portugal “the star pupil of the euro-zone” pelo Wall Street Journal

Opinião:

Hoje temos Portugal “the star pupil of the euro-zone” no Wall Street Journal (WSJ). Mas tragicamente, nos quatro últimos parágrafos, a coisa parece racionalmente algo desconjuntada.

Para o The Wall Street Journal (Simon Nixon), o Tribunal Constitucional (TC) toma partido aliando-se à oposição e as declarações de inconstitucionalidade tornam o processo de ajustamento “much harder“, muito mais difícil. Por outro lado, a recuperação no consumo privado que está a impulsionar o crescimento do PIB há vários trimestres é justificada exclusivamente com a diminuição do desemprego. Será mesmo assim?

Se tivermos em conta que à descida do desemprego corresponde apenas uma marginal subida do emprego e que o rendimento disponível subiu à conta de incremento nos salários e remunerações  – vejam-se os dados hoje publicados pelo INE e já referidos no Economia & Finanças – num ano em que o TC acabou por forçar a “devolução” de salários à Administração Pública e pensões, este “much harder” combinado com o virtuosismo  excessivo imputado a uma queda do desemprego (o fenómeno migratório é ignorado) parecem estar a levar o WSJ a uma leitura completamente enviesada do que se está a passar.

Acredito que a espiral recessiva foi em boa parte interrompida pela perspetiva de aligeiramento da austeridade e pela sua reversão prática junto de funcionários públicos e pensionistas e, noutra parte, pela recuperação externa que nos contaminou positivamente e alguma correção a uma sobrerreação em pânico à austeridade.
A chatice é que se os investidores internacionais acreditam nesta narrativa completamente alinhada com “o que tinha de ser” para que a tese da austeridade expansionista não surgisse como um completo fracasso, a narrativa tem potencial para ser self-fulfilling, para ser auto-profética. Ou seja, aceder aos mercados da dívida estará sempre limitado pela narrativa em que os investidores acreditem. Esta auto-profecia só não será perfeita porque, estranhamente, todos os países da periferia, independentemente do desempenho recente, estão a registar juros cada vez menores, alguns em mínimos históricos desde a a criação do Euro apesar de acumularem dos piores desequilíbrios orçamentais e de endividamento público e privado das últimas décadas! Há claramente outra narrativa mais complexa e menos umbuiguista que está a escapar a muita gente.

Em suma, a identificação de países-estrela, ou “star-pupil” no inglês do WSJ, medida por essa via de curtíssimo prazo, levar-nos-ia a uma galáxia composta por todos os países da periferia.

No fundo, o alinhamento algo ingénuo (ou mal intencionado) com o “There Is No Alternative“, a TINA para os amigos, sem grande cuidado pelas interrelações económicas visíveis nos indicadores sobre Portugal, tão fracamente suportados pelos factos económicos, é que nos trama, mas só até certo ponto…
There is a war.

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